quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

The one and only... Kati!

Nós temos tido muitas vizinhas. O quarto ao lado do nosso partilha connosco a entrada, o frigorífico (!!), a varanda e a casa-de-banho. Portanto, temos necessariamente que nos dar com elas (e são sempre umas «elas», ninguém nos faz o favor de aqui meter uns «eles»). A nossa relação com as vizinhas nunca passou da cordialidade e do «Bom dia» e «Boa noite». Tivemos uma italiana, uma californiana (que nos testou os limites da paciência) e agora uma polaca (que é enfezada que dói, benza-a deus). A única que se mantém desde que cá chegámos é a Kati. A Kati é húngara e hoje, por ontem, merece um post.
E então o que é que a Kati tem de especial que mereça tamanha honra? Por si só, uma pessoa que se chama Kati e não tem problemas em dizê-lo em voz alta, tem, desde logo, a nossa afeição. Por mais que queiramos levá-la a sério, é impossível assim que nos lembramos que o nome dela é Kati. Outra coisa que lhe é característica é a voz. Ela tem um timbre (?) de voz que não é para qualquer pessoa. É aguda. Mas não é aguda-tipo-Júlia-Pinheiro. É um novo tipo de agudo, um agudo que nós desconfiamos que só seja produzido na Hungria. É uma coisa que, quando passa ali dos trinta segundos, começa a doer.
Se não fosse por isto, podia ser por ela ter feito o favor de, no meio de não sei quantos Erasmus, dizer a toda a gente que nós passamos o dia a cantar. Alto. Alto demais. Ou que temos que limpar a casa-de-banho. Podia ser igualmente pelo facto ela ter cozinhado pieroggi e nos ter vindo dar uns quantos. Eram maus que eram, mas nós somos pessoas bem educadas portanto comemos e calámos. Noutro dia, veio cá alapar-se e sugou metade do nosso jantar (que era substancialmente melhor que o que ela nos tinha oferecido) e bazou-se. Outra: quando os portugueses cá vieram e fizemos a rave aqui no quarto, ela chegou por volta das 8h bêbeda que nem um cacho, sapatos na mão, desfraldada, despenteada, com maquilhagem até ao queixo e achou por bem vir para aqui socializar. Não se tinha em pé, mas ainda tentou levar um deles para o quarto com ela para lhe dar colinho. É uma pessoa que não teme, a Kati.
Noutra ocasião, chegámos nós a casa e estava ela nas escadas enrolada com um rapaz aqui da residência. Nós dissemos «What's up, Kati?» e ela acenou-nos por entre as pernas do miúdo e disse «Great, how are you?».
Contudo, a coisa mais WTF que ela fez foi pôr-se aqui na entrada, computador em riste, Skype ligado e toca de ter conversas vá... de cariz sexual com um rapaz que, segundo percebemos, era russo. Ora, ela sabe tão bem quanto nós que, se uma pessoa respirar na entrada, se ouve nos dois quartos que isto o isolamento é coisa desconhecida. E aqui estivemos nós meia hora enquanto ela dizia «OMG, you're so mean! I'm wearing jeans and a top. What about you?» e nós engolíamos risos e íamos à casa-de-banho várias vezes só para a ver encavacada.
É uma figura incontornável da nossa estadia aqui na Piast. Se tudo isto não serve para justificar o escrevermos um post sobre ela, a situação seguinte fá-lo-á. Não sei como é que nos surpreendemos quando tudo indicava o que aí vinha, uma vez que os acontecimentos tinham sucedido seguindo uma escala do inusitado. Hoje aconteceu o que nós sempre soubemos que aconteceria.
Esta noite, eram 4h30 e acordo com o que me pareceu alguém a ser sovado. Oiço um riso sufocado e pergunto «O que é isto?» (sussuro) «É a Kati... a vir-se. Ahhahahahhah!» «'Tás a gozar?» «Não 'tou nada! Ela acordou-me aos gritos e está nisto há dez minutos. É para aí a quinta vez!» «Opa eu não acredito...» «A sério, eu já te tinha chamado mas tu não acordaste. Cala-te e ouve.» Calámo-nos e ouvimos uns gemidos cavernosos, uma coisa que depressa passou a gritos. Entre uns «Oh my god!» e uns «Yes yes yes!», há um «MAINTAIN THE PRESSURE!» e foi aqui que nós nos atirámos para o chão a rir. A coisa durou e durou (ainda estamos para saber como), uma de nós encostou o ouvido à porta para tentar ouvir mais pérolas e, entretanto, alguém sai do quarto e entra na casa-de-banho. «Epa isto é que não! Que f"dam no quarto, na casa-de-banho era só o que faltava.» e quando decidimos qual de nós é que lá vai impor respeito e acabar com a brincadeira, a(s) pessoa(s) saiu(ram) e nós descansámos.
Agora, ansiamos o momento em que nos vamos cruzar com a Kati. Porque nós sabemos, ela sabe e nós sabemos que ela sabe que nós sabemos que nós ouvimos tudo o que havia para ouvir. E esperamos ardentemente que ela nos pergunte «Did you hear...?». É que a nossa resposta vai ser só uma «Yup, Kati. We did

Nenhum comentário:

Postar um comentário