quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Das descobertas de vocação

Quando, há três ou quatro anos, na altura dos testes merdó-técnicos, a psicóloga me perguntou «Qual é que achas que é a tua melhor qualidade?», eu levei meio segundo para formular e verbalizar a seguinte resposta brilhante «Imitar os cabeçudos do Carnaval.». A psicóloga riu-se. Eu ri-me. Calámo-nos. Eu percebi que ela achava que eu estava a brincar e achei melhor deixar-me estar calada. Ela mandou-me seguir Psiquiatria. Eu agradeci a sugestão, fiz-lhe um manguito mental e a minha mãe deixou-me ir sair à noite nessa semana por ter acordado ir lá.
Desde este tempo até hoje, muito pouco mudou; continuo a imitar sublimemente os cabeçudos. É uma coisa que envolve toda uma coordenação de braços e cabeça que não é para qualquer um. Se houvesse uma competição disso, acho que todos sabemos quem era a World Champion.
Contudo, se a psicóloga me fizesse esta pergunta hoje, eu teria que lhe dizer que a minha melhor qualidade é fazer sampling. Nasci para isto. Dêem-me umas botas, uns frasquinhos, um rio e uma rede e é ver-me a samplar como ninguém. Podia relatar aqui coisas extremamente engraçadas da minha saída de campo, mas tudo parece insignificante quando comparado com o meu talento recém-descoberto.
Podia contar-vos coisas como o Professor ter caído ao rio e ter sido arrastado pela corrente por dois ou três metros (sendo que estavam -7ºC na rua) por se ter posto a andar em cima do gelo (a sério, eu não percebo nada das neves e não sei quê, mas o que é que acontece em TODOS os filmes quando uma pessoa atravessa um rio que está congelado? A sério, o problema sou eu? Tentei alertá-lo para este facto, mas ele olhou para mim com cara de está-masé-calada-estrangeira-do-caralho-que-eu-já-vivi-cinquenta-e-muitos-invernos-neste-país-e-percebo-mais-de-neve-e-gelo-e-rios-do-que-tu e eu calei-me.) Podia contar-vos igualmente como o outro (o do PhD) saltou de imediato para dentro do rio e eu me deixei estar quietinha a segurar os frascos, a assobiar e a olhar para o ar. Podia partilhar que, quando o Professor se levantou, depois de ter andado a contactar com os peixinhos e estar que nem um pinto, o Zam lhe disse «You're wet.». E de como, aqui, quase sufoquei com o riso. Podia dizer que atravessámos um rio de jipe (Oh yeaaaah on the road, sem medos! O que é aquilo? É um rio? 'Bora atravessá-lo de jipeeeee!).
Podia contar tudo isto que podia, mas é tudo menor quando comparado com a magia que aconteceu quando euzinha me meti no rio. Tremia por todos os lados, só me apetecia gritar pela minha mãe e quase, quase que rezei. Fiz promessas a uma qualquer entidade de que, se me deixasse sair dali sã e salva, deixava de dizer asneiras. Ahah in your face, entidade! Ingénua.

Enfim, já me desviei do ponto principal. Foi a primeira vez que fiz tal coisa e já sei que o meu futuro e a minha felicidade passam por isto: apanhar bicheza nos rios munida de um fósforo e um elástico, como o MacGyver, se for preciso. Baixa rede, dá pontapés no chão, escava um bocadinho, equilíbrio minucioso para não ir ter ao mar, levanta rede, abre frasquinho, mete amostra, etiqueta, fecha frasquinho; I'm a natural!


Depois disto, o limite é um Nilo ou um Mississipi.

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