domingo, 26 de setembro de 2010

Let the party begin II

Dia 22, a chegada

Depois de 2 horinhas e de uma dor de pescoço que não vos passa pela cabeça, lá aterrámos em solo polaco. Passámos a fronteira a custo e quando demos por nós já cá estávamos fora. Cracóvia. Quer dizer, os campos de cultivo da Cracóvia. Pronto, Cracóvia - a aldeia. Entre uns «Eu NÃO me acredito, q'é dos monumentos, q'é dos prédios, q'é das praças, q'é dos autocarros, q'é das pessoas sem aspecto de vou-ali-plantar-milho-e-ordenhar-as-minhas-vacas?» e uns «Oh não, vamos ser agricultoras, pronto. Vamos entrar no avião outra vez discretamente e fingir que nos enganámos na paragem.» lá fomos, em estado de choque, a hiperventilar e a tremer para dentro do aeroporto, à espera da Joanna (uma das mentoras). Uma horinha à espera, mais coisa menos coisa, que isto de fusos horários faz com que as princesas, habituadas a não se preocupar com essas ninharias, combinem mal as horas.

Depois de um autocarro, um comboio, um táxi e conversa de circunstância lá chegámos àquele que vai ser o nosso poiso durante o próximo semestre. A entrada é gigante, a recepção idem, falar inglês é que 'tá-quieto. Nem inglês nem coisa que se assemelhe. Falam polaco e sabe deus como. Dando graças aos céus por termos a Joanna connosco, lá fomos ao gabinete-onde-se-trata-dos-papés-e-onde-se-paga e tratámos dos papéis e pagámos. Prontinho, aqui está a vossa chave, ala que se faz tarde.

«Uh como é que será o quarto, como é que não será? Achas que é mesmo como nas fotografias? Achas que temos uma mega varanda? E o armário? De que cor é que serão as colchas? E as paredes?». Abrimos a portinha e... nada. Fechamos a porta, voltamos a abrir, na expectativa de que tivéssemos sofrido uma daquelas ilusões em conjunto, que as há, há. Não, tudo, na mesma. Fechamos a porta, olhamos para o número da porta - xyz. Olhamos para a chave, de certeza que nós enganámos. Nop... - xyz. Piscamos os olhos uma vez. Olhamos uma para a outra e cá vai disto, estamos no nosso quarto. Pois bem, é complicado de explicar. «Eeeh exageradas, não pode ser assim tão mau.» pensam vocês. Pois... Pode. Se tiverem em mente aquelas instalações que datam da II Guerra Mundial, umas camas que não são camas, são sofás desdobráveis, armários que são qualquer coisa de assustador porque não se lhes avista o fim (e têm de certeza qualquer animal lá adormecido), uns cortinados arranjados à pressa, amarelos do Sol, uma canalização que parece prestes a explodir, umas prateleiras que não vêem um pano do pó desde 1945 e umas cadeiras que têm tétano escrito em tudo quanto é lado; pronto, têm uma descrição bastante fidedigna do nosso quarto. Alguém morreu de overdose nestas camas, isso é limpinho.


(é de atentar que aqui já tinhamos dado um bocadinho o ar da nossa graça ao quarto, já tinhamos inclusive feito as camas, já estavámos abastecidas, etc etc)

(aqui então... já estávamos em casa)

Let the party begin

Pronto, não era mentira. Eis-nos em terras polacas há já quatro diazinhos. Podemos mesmo dizer que já dominamos o sítio. Mas comecemos pelo princípio....


A Viagem

Partimos de Lisboa no dia 21 às 20h e deixámos para trás muitas lágrimas, muita promessa de nos portarmos condignamente, mas, acima de tudo, muita roupa. E quem diz roupa, diz sapatos, toalhas de banho e necessidades várias. Ora e isto porquê? Porque escolhemos viajar numa companhia de low-cost (que, para futuras referências, começa em Easy e acaba em jet) e que é muito bom e poupamos dinheiro que é uma coisa louca, mas que nos obriga a levar 20kg de bagagem e mai nada. Mesmo que tenhamos pago uma mala extra. E quem é que informou as iluminadas que uma mala extra não é equivalente a 20 kg extra? A Easyjet não foi de certeza. Portanto, se algum de vocês passou pelo aeroporto de Lisboa entre as 18h e as 18h30 de terça~feira viu, com certeza, muita camisola a voar, muita cueca e muito sapato. Pois que ficou tudo em Lisboa. O que faz sentido, porque é lá que a nossa roupa deve estar, sim senhor. Meia horinha chegou para reduzirmos 40 kg de bagagem a 20. Nada a temer. Mas também quem é que nós queríamos enganar? Até parece que podíamos embarcar na paz do senhor, sem nenhum contra-tempo.

No meio desta azáfama, aparecem os amigos, os de sempre, que tinham dito que lá estariam, mas que, com o passar das horas, já não tínhamos assim tanta esperança que aparecessem. Mas apareceram e fizeram eles muito bem. (Não ia ser bonito, quando voltássemos, se eles não tivessem ido dizer-nos adeus ao aeroporto!). Fofinhos que só eles. Dividimos os abraços, as lágrimas e os «Eu disse que não ia chorar.» entre eles e os nossos pais.
No entanto, não podíamos embarcar sem antes dar, mais uma vez, ar de nossa graça. Ora claro que quando chegou a parte do mítico detector de metais foi ver-nos, mais uma vez, tirar botas, camisolas, casacos, mochila, computador, televisão (don't ask) e ser cortejadas (not that much) pela senhora da segurança. Quem é que não gosta de uma última marmelada na hora da despedida?

Last call, ou não seríamos nós, e lá entrámos no avião rumo a Luton. Acho que é escusado dizer que não conseguimos ficar juntas, o que não nos impediu de partilhar imensas pérolas quando, finalmente, aterrámos. Ora, é que esta bela companhia aérea não só é uma autêntica feira da ladra no exterior como também o é no interior. Eles são quase uma loja dos chinesas, mas cara, é que vendem de tudo (tudo mesmo). Se tiverem hipótese, vão assistir a esse belo espetáculo que é viajar pela Easyjet, o último número então é de rir e chorar por mais; quem disse que andar às voltinhas no céu, em mil diferentes 'approachs', a tentar aterrar, não é engraçado?

Enfim. Passemos para Luton. Aquilo não é Londres, amigos, mas é que nem de longe, nem de perto, aliás, muito menos ainda de perto. Trata-se de uma zona industrial, onde está frio, muito frio, onde os carros são ao contrário e andam ao contrário (ok, aqui até parece Londres, mas parece só), onde os taxistas são marroquinos (ou paquistaneses) e mentirosos e onde existe um Hotel bom. Mas, e se isto não tivesse um mas não era escrito por nós, serve um pequeno-almoço horrível. Resultado, as princesas dormiram coisa de 5 horas numa caminha que era a coisa mais confortável do mundo, acordaram, não comeram (atentem, por favor, nas horas que passámos sem comer!) e seguiram para o aeroporto. Isto depois de esperarmos por um taxi que não apareceu e ouvirmos a história de vida do taxista suplente.
Outra coisa, tenho para mim, inclusive, que fomos enganadas no câmbio de euros para zlotys (quer dizer, euros-libras-zlotys) mas pronto.
Quanto à viagem Luton-Cracóvia, foi muito mais sossegada (mal fora, viemos a dormir que nem koalas). É claro que tivemos direito ao espetáculo Easyjet on air once again mas como foi protagonizada por male (ahahahaah, está bem) hospedeiros (imaginem as demonstrações das saídas de emergência..), foi menos mau. Mentira, foi mau na mesma mas nós estávamos com demasiado sono ainda.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Alerta: momento mete-nojo

Eis-nos chegadas à recta final dos preparativos deste nível do jogo que começou há pouco mais de sete meses. Daqui a quinze dias, por esta hora, estamos agarradas uma à outra a chorar e a tentar dormir por turnos, nesse bonito aeroporto de Luton (em Londres? Hm hm... Não, nos arredores. Vá, a 50 km. Ok, não é Londres, é Luton.).
As férias, as férias... Curtas, incertas e solitárias. Pronto, solitárias não. Fresquinhas. Que é como quem diz sem os Tós da vida, os Manéis ou os Joões. Nada a temer.
Quem mandou as princesas irem para o Avante? E para Milfontes? E para o Algarve? Diz que ir de férias zera a conta. Pasmadas que só nós, constatamos que os primeiros meses em terras cracovacas (? craaaaco...vienses...? cracoveiras? cracovianas...?) não se adivinham fáceis.
O que nos leva à parte sensível e mete-nojo deste post. Pessoal, a sério. Parem de nos pedir festas e bebedeiras e abracinhos e beijinhos e táxis para se irem despedir ao aeroporto. Nós vamos chorar. Muito. Não vai ser bonito. 'Bora não dificultar. São seis meses. Seis meses é dois terços de uma gravidez, é a duração de um semestre (seis meses, um semestre. Got it.), metade de um ano, 180 dias ou coisa que o valha (isto equivale a muitas refeições, sim, têm razão se calhar este não é o lado bom da coisa), mas são apenas seis menstruações ('tá bem? Nada de brincadeiras, amiga.). Parece muito? Parece. Mas não é.
Depois de alguns e-mails (que, na verdade, foram mais q'às mães), muitos insultos e alguns eu-vou-lá-eu-vou-lá-e-vou-lhe-à-boca-a-ver-se-ele-não-percebe, temos onde ficar durante aquela primeira semana. Não por 300 PLN, mas por 80. Estão a ver? Com boa-vontade, tudo se consegue.
Aproveitamos este momento para deixar os mais profundos agradecimentos ao ESN da UJ (vira o disco e toca o mesmo, pedimos desculpa mas tem de ser). Benditos sejam que já ocupam lugares nos nossos pequenos corações. Prestáveis que só eles. Competentes que só eles. Apetece levar-lhes muitos pastéis de Belém, galos de Barcelos e tupperwares de cozido à portuguesa. Pois que temos mentoras de seus nomes Joanna e Natalia, que só vêm comprovar a nossa teoria de que, na Polónia, as miúdas brincam às mamãs e mamãs. Tanta excitação e palavras fofinhas rapidamente se nos assemelham a psicopatia e nos tentam a puxar do nosso pepper-spray. Não, sem querermos ser mal-agradecidas, são simpáticas que são, mas...
Outra, que 'se não fosse verdade até tinha piada'. Este ano, a nossa Faculdade resolveu que temos que pagar a primeira prestação das propinas antes de nos pormos a andar q'isto-a-gente-sabe-lá-se-elas-não-lá-ficam-casam-e-têm-filhos-e-depois-é-que-nunca-mais-pomos-a-vista-em-cima-das-propinas. E como nós temos dinheiro que é uma coisa louca, toca de sim senhor, 'bora lá pagar tudo o que a Faculdade quiser. Que deixar a Faculdade no prejuízo é que não. Querem ter educação superior, não querem? Despejem os bolsos que já começa a onda de poupança que vai reinar por estes lados nos próximos tempos.
Isto hoje é assim corridinho, atafulhado e atabalhoado que as listas de afazeres e arresolveres e adesenrascares vão se amontoando e as nossas cabeças não dão para tudo.

(entra o violino...)

E é tocando os últimos acordes nas nossas guitarras que as colocamos em repouso durante seis meses, é aterrando em solo recheado de portugueses do último salto ao som d'A Carvalhesa que deixamos as festas de Verão, é sorvendo a última gota da melhor caipiroska que nos despedimos do calor e é de lágrima no olho que cantamos aos que ficam «um abraço destas que tanto vos querem, somos capazes de ir aí pelo Natal».
yours truly,

PS. desculpem o momento mete-nojo II no finzinho mas queríamos mesmo dar um ar dramático à coisa, isto porque, princesas que se prezam têm direito a merdas destas, se têm!