segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Aqui a do lado, a outra

Nós podíamos ter vizinhas normais e pacatas que podíamos. Mas assim, ia-se logo uma fonte de peripécias que tão bem figuram aqui no blog. E isso, parecendo que não, era aborrecido.
Já é do conhecimento geral a peça que é a Kati. Dali, nada de novo há-de vir. Tudo o que possamos dizer sobre ela, passará pelo facto de ela foder tudo o que mexe.
Hoje, contudo, falamo-vos da outra, da polaca. A polaca (porque por mais que tente, não me consigo lembrar do raio do nome da miúda. E parece-me francamente mau perguntar-lhe «Como é que disseste que te chamavas mesmo?» quando ela já aqui mora há dois meses e quando falamos diariamente.) ficou logo marcada por ter trazido para o conforto do nosso lar uma coisa que dá pelo nome de frigorífico, mas que é bem mais do que isso: é a razão de todos os nossos problemas, insónias e indisposições. Depois disso, nada que valha a pena relatar. Vá, uma coisinha: ela é paranóica. Tem um qualquer distúrbio esquizofrénico que se reflecte na relação dela com as portas. Disse-nos mais do que uma vez, e quase à beira das lágrimas, para, pelo amor de deus, fecharmos a porta à chave que nunca se sabe quem é que aí vem. Depois, pede-nos para deixarmos a nossa porta aberta enquanto ela toma banho, não vá entrar algum ladrão no quarto dela e sodomizá-la à bruta quando ela lá entrar. Nós, compreensivas que somos, sim senhor, deixa lá a porta aberta, na boa.
Hoje estava eu quase desperta e quase vestida, prontinha para sair de casa e enveredar por mais um dia de exploração gratuita e olhares furtivos para o Mateusz, quando aqui a polaca nos entra pelo quarto adentro, muito aflita. Tinha assim um tom azulado ou roxo ou o raio que a parta e vinha agarrada à garganta. Arfava e emitia outros barulhos igualmente estranhos. A F. estava a dormir e a dormir continuou. Eu, um nadinha chocada, levei um bocadinho a perceber o que se estava a passar. O tempo de ela dizer «I'm choking! I'm choking, I can't breath!». Eu pensei «Tuuuuudo o que me faltava...» e ela correu para a casa-de-banho. Eu atrás dela. Não esteve de modos e toca de meter os dedos à garganta. Eu só pensava que não lhe fazia a manobra de Heimlich nem que ela caísse no meio do chão que isso faz mal às costas. Às minhas. Confesso que também pensei «Vá lá, vá lá, não morras já. Deixa-me só ir ali acordar a F. para ela testemunhar que não fui eu que te matei. Vá lá, aguenta só dois segundos.» mas foi só até aquilo lhe passar mais ou menos. Eu não sabia muito bem o que dizer, então perguntei a única coisa que me ocorreu: se ela tinha comido peixe ou se tinha alergias. «I am not crazy, I wouldn't eat something if I was allergic!» «Ok, desculpa lá a preocupação, hm, oh otária? Morre para aí.» Mas como eu sou fofinha, fiquei com ela até aquilo lhe passar, para depois lhe começar a doer a cabeça.
A F. acordou depois do espectáculo todo e quando eu lhe disse que a polaca tinha estado a morrer, voltou-se para o outro lado e continuou a dormir.

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