segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Este blog está a ressacar...

assim como nós. Não acabou, com certeza, que aqui ainda se há-de falar muito mal. Está só a tentar habituar-se à rotina lisboeta outra vez. Como nós.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Delito 101 ou Karma is a bitch

Cenário: três e meia da manhã, a estudar Genética, à beira de uma síncope e com vontade enfiar a cabeça no forno com cinco ou seis Xanax no bucho.
F. «Tenho fome.»
A. «Também eu. Mas não temos nada para comer...»
F. «A Kati mudou-se lá para cima e a polaca não está cá...»
A. «Nem penses, a comida do frigorífico não é nossa.»
F. «Está bem.»
A. «Se bem que... Vamos embora daqui a dois dias, a Kati bazou e a polaca deve estar de férias. Deve voltar só no fim da semana. Portanto, tudo o que ali está vai estragar-se. Até que ponto não estávamos nós a prestar um serviço ao evitar que a comida se estrague?»
F. «É isso que eu acho. Até porque depois repômos. Amanhã repômos.»
A. «Repômos? Quando ela voltar já nós nos fomos embora...»
F. «Só comemos a comida dela se repusermos!»
A. «Está bem, whatever
E corremos para o frigorífico. Uma caixinha de bifes e outra de ovos. Há que dizer que a polaca nos mete um bocadinho de medo. Não é só pelo metro e oitenta e tal de pessoa que ela é, mas também porque ela é a modos que paranóica e nós temos sempre medo que lhe dê um surto psicótico e ela entre por aqui de faca em riste e nos estripe. Portanto, comer-lhe a comida deixou-nos um tudo ou nada apreensivas. Mas entre apreensão e fome, ganhou a segunda. Há igualmente que dizer que ela é o tipo de pessoa que escreve o nome dela na caixinha dos bifes como que a dizer hei-vocês-ladras-do-caralho-xô-desinfectem-que-isto-não-vos-pertence-unhas-fora-daqui-estão-a-ver-o-meu-nome?
F. «A.? A partir de hoje somos ladras?»
A. «Não, roubar comida não é crime.»
F. «Hm... Está bem.»
A. «Achas que ela é o tipo de pessoa que nos mata por termos invadido o espaço dela?»
F. «Ela não vai saber. Além disso, não se recusa comida a ninguém. Se nós lhe dissermos que estávamos com imensa fome, ela vai ter coragem de se chatear?»
A. «Pois, se fosse ao contrário, eu dava-lhe a comida.»
F. «Eu não...»
A. «Eu também não, mas ela não tem que saber disso. Amanhã vamos ao super-mercado, guardamos a caixa dos ovos e pomos lá novos. Ela nem vai saber.»
O plano infalível, certo? Pois, nós também achámos.
Ocorre que hoje ao voltarmos da rua, com os bifes e os ovos, diga-se, o frigorífico já cá não estava. A polaca também se mudou. Parece que toda a gente deste andar tem que se mudar dentro em breve porque vai haver remodelações. O nosso sentido de honra mostrou-se inabalável e toca de ligar à Kati a perguntar em que quarto é que está a polaca para ir lá dar a cara (e, de caminho, os bifes e os ovos). Mas claro que a Kati não sabia, «algures no sétimo andar».
Agora, das duas uma: ou vamos bater todas as portas do sétimo andar à procura dela ou vamos à recepção pedir pelo amor de deus que nos digam em que quarto está a rapariga, deixar as coisas à porta e desatar a correr. De qualquer forma, nenhuma das opções é muito digna. Mas nós tínhamos fome...

Vamos a contas

Com o quarto agora parcialmente mutilado e desfigurado, ao tirarmos os posters, esvaziarmos o armário, limparmos as prateleiras e vasculharmos debaixo da cama à procura dos sapatos, temos que ir pondo música. Alta. Não é que o quarto faça eco que não tem tamanho para isso. Mas nós temos uma playlist que tem vindo a ser preparada para um momento mais ou menos como este.
São músicas que, por uma razão ou por outra, por estupidez ou não, fazem parte do último semestre. Aquilo que seria a soundtrack se isto tivesse sido um filme. Wanna know?
«Love the way you lie» da outra com o outro
«Marry you», «Forget you», «River deep mountain high» e «Jessie's girl» do grandioso Glee Cast
«Billionaire» e «Baby, baby, baby» - vocês devem saber de quem são e figuram aqui juntas porque o que tem que ser tem muita força
«Club can't hadle me» de não sei exactamente quem
«Dog days are over» e «Kiss with a fist» dos Florence
«Um contra o outro» (e as outras todas) - Deolinda
«Chain of fools» da sô dona Aretha
«Drift away» do Bill Withers (não, não andámos a fazer bebés)
«Ga gago» do Carlos Paião (diz que isto assenta que nem uma luva a uma de nós)
«Beautiful flower» da Indie Arie
«Os loucos estão certos» dos Diabo na Cruz
Xavier Rudd, todas.
«Rosa branca» pela Mariza
variadíssimos «reviveres» do Rui Veloso

Quem passou a Genética, quem foi?

Em Cracóvia, em cinco meses, ...

... ri-me muito. Provavelmente, ri mais vezes por dia do que em qualquer outro período da minha vida.
... soltei umas lágrimas.
... estive triste.
... conheci as pessoas mais estranhas.
... conheci pessoas muito, muito fofinhas.
... ganhei imunidade a constipações.
... comi com um garfo que estava há dois dias para ser lavado.
... passei a acreditar que «o que não mata, engorda».
... disse muitas vezes que «o pior é se mata».
... percebi o significado de «ter uma boa noite».
... apanhei uma bebedeira que figura certamente no meu Top5.
... tive permanentemente a sensação de estar a ser enganada em todos os restaurantes e lojas.
... fumei mais do que a conta.
... contei tostões.
... provei a pior comida do mundo.
... comecei a detestar noodles.
... deixei de conseguir comer bolachas de manteiga.
... fui nobremente introduzida às maravilhas da depilação com gilete.
... apaixonei-me. Três vezes por dia, todos os dias.
... pus a hipótese de ficar.
... fiquei com a certeza de voltar.
... risquei coisas da lista.
... visitei Auschwitz e lembro-me de cada passo.
... ganhei uma aversão para lá de grande a comboios.
... ia sendo multada.
... experimentei -25ºC.
... percebi que não é preciso muito para se morrer de frio.
... atravessei mais vezes o Vistula do que o Tejo.
... fiquei sem uma avó e não fui ao funeral dela.
... estive à beira de um ataque de nervos no laboratório.
... chamei mais nomes a mais pessoas na cara delas do que em toda a minha vida.
... pedi o Livro de Reclamações e recusaram-mo porque «estás na Polónia, não estás no teu país».
... dei-me com pessoas com quem não me daria em Portugal.
... tive medo.
... quis muito enrolar-me com um professor.
... conheci os melhores cafés do mundo.
... bebi o pior café do mundo.
... andei que me esmerdei.
... comi zapiekanki.
... caí algumas vezes, mas aprendi a andar na neve.
... vesti três pares de collants para conseguir sair de casa.
... limpei o quarto vez nenhuma.
... aspirei o chão quatro ou cinco vezes.
... roubei posters que agora vão para o lixo.
... fui à discoteca das discotecas.
... aprendi a fazer bolas de neve perfeitas.
... entrei em igrejas.
... estive em situações caricatas.
... aprendi a cozinhar.
... a senhora do super-mercado passou a conhecer-me.
... só não fiz o que não quis.
... nunca me arrependi de ter vindo.

A.

Agora a sério, ...

... as pessoas que moram nesta residência são ou não são loucas?

(Isto está afixado na lavandaria do segundo andar.)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Adeus, enxoval

Andamos angustiadas. O tempo traiu-nos e, quando demos por nós, já só faltava uma semana para irmos embora. Não sabemos que raio aconteceu neste último meio ano, mas foram os seis meses mais rápidos de sempre. Não sabemos como nem porquê.
Ora, ir embora é difícil. Por causa das pessoas? Não. Ao longo de quase seis meses acumulámos muita coisa neste pequenino quarto da Piast. Experiências? Oh yeah. Mas não é disso que este post trata. Trouxémos muita coisa de Portugal mas arranjámos cá uma quantidade estúpida de tralhas que parecem que floresceram como erva daninha aqui no quarto. Algumas das coisas não sabemos de quem são (se são tão-pouco de alguma de nós) nem de onde vieram. Se nós não ligámos a nada disto enquanto não chegou a hora do adeus e andavámos aos pontapés às coisas para chegar ao outro lado do quarto, agora é complicado fazer a triagem. Modos que a maior parte vai ou já foi fora. As malas são demasiado pequenas para tudo o que queremos levar (tudo o que é material, diga-se. Porque o que não se vê... 'Tá bem, 'tá.) e até andamos a sonhar com a forma de conseguir levar tudo o que queremos.
Mas o que mais nos custa é deixar cá as coisas que foram tão nossas amigas este tempo todo. Panelas, tabuleiro, frigideiras, chaleira eléctrica, pratos e taças (lindos que só eles), três garfos, três colheres, duas facas, dois copos roubados do primeiro andar e uma caneca verde-ranho que já não tem pega. Parecendo que não, trata-se de todo um enxoval que foi sendo feito com muito carinho e que faz parte da nossa história aqui. Tudo aqui abandonado. Sofremos por eles, já lhes demos muitos beijinhos, já lhes dissemos que não é que não os queiramos levar, é que não há espaço, mas que vão estar sempre nos nossos corações e nunca nos esqueceremos deles. Mas nao deixa de ser difícil... Não deixa de ser difícil...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Já não atraímos prostitutas, sofremos um upgrade. Atraímos chulos.

Lembram-se daquela teoria de que andamos a ser seguidas por câmaras e de andarmos a ser exibidas na televisão nacional da Polónia? Pois é, continuamos convictas disto.
No outro dia, fomos ao Diva. Note-se que esta se tratou de uma das nossas raras incursões a tal discoteca por razões que serão adiantadas mais à frente. Aquilo que podia ter sido uma saída aborrecida devido ao facto de certas (CERTAS!) se terem cortado à última da hora tornou-se por demais divertido, por mais do que uma razão. Mas a que vos interessa segue-se.
Estavam as princesas, quietinhas, a bebericar a sua cerveja, a chamar vacalhonas às polacas e a rebolar a rir com o que os polacos consideram ser «estar bem vestido», quando chega um grupo da Máfia. Ou da ciganagem, ainda estamos para descobrir. Vestidos integralmente de preto, dois ou três anéis de ouro em cada mão, sapatos brilhantes que doíam e, pareceu-nos, um ou outro dente de ouro. O charme personificado. Desde que entraram no espaço até virem alapar-se ao pé de nós passaram trinta segundos. De onde são e o que fazem e a conversa da treta do normal. E nós lá dissemos, com esperanças que ainda se oferecessem para nos pagar uma bebida. Eram noruegueses (arraçados de sicilianos, 'certeza), estavam na cidade em trabalho e bazavam no dia seguinte. De repente, saltam umas mãozinhas para as minhas pernas. Enquanto penso «Eu sabia que não devia ter trazido esta saia... Vais já refundida para o armário, minha amiga.», digo ao senhor «Uuui, vamos lá a ter calma que isto eu sou uma moça de respeito e não tenho por hábito enrolar-me com quem tenha idade para ser meu pai, amigo.» Depois seguiu-se a abordagem mais estranha da minha vida «És hospedeira de bordo? Pareces hospedeira.» WTF? É assim que se mete conversa hoje em dia?! «Ahah não, não sou. Não tenho idade para isso. Vinte aninhos, praticamente uma criança.» Resposta: «We could have fun tonight.» «Pois, suponho que podíamos mas não estou para aí virada, hei, olhinhos para cima. F., faz alguma coisa!» Nada. Divertida a assistir à cena. Às tantas, saiu-me um «Actually, me and her? We are together.» «Yeah, I can see that.» «No. Together as togeeeether. See?» Má ideia, A., má ideia. Não pareceu dissuadi-lo por aí além... «Modos que... adeusinho, ala.» E desapareceu-se-nos.
Isto, contudo, tem uma razão de ser, não pensem que aqui toda a gente é louca. O Diva é conhecido por ser um bar de miúdas que tendem a proporcionar bons momentos em troca de um valor monetário justificado. Putas, vá. Claro que nós só soubemos isto depois deste episódio. Porque nem os néons, nem o quartinho com uma cama que é chamado de «Quarto VIP» nem as empregadas meias despidas no-lo indicaram...

Pizza

Nós somos pessoas que se queixam. Pessoas que gostam de se lamentar e revoltar contra tudo e mais alguma coisa. Pessoas que gostam, portanto, de discutir pelo prazer de discutir. (A seu tempo, havemos aqui de divulgar a arte de bem-armar-o-escabeche-num-café-em-Budapeste-situação-esta-que-acaba-connosco-a-acusar-o-empregado-de-xenofobia-e-ele-a-mandar-nos-para-o-caralho.)
Mas também sabemos dizer bem de algumas coisas. Das cenas fixes. Cracóvia (ou a Polónia, na generalidade) tem muitos defeitos, mas se há coisa boa aqui é a pizza. Porque nós, pasmem-se, comemos muita pizza. Temos para nós que o negócio da pizza em Cracóvia se mantém graças a nós e adivinhamos o facto de as receitas irem descer a pique assim que nos bazarmos. É o ciclo da vida. Mas estava eu a dizer que a pizza aqui é boa. Não só a pizza. É o virem trazer quase ao quarto, o os estafetas andarem de bicicleta ou de patins e o preço. Nós não encomendamos muitas pizzas em Portugal mas sabemos que os preços andam pelo preço da morte, que quase mais vale ir a restaurante gourmet do que mandar vir uma pizza. Porém, em Cracóvia, esta refeição é uma peça fundamental, um vulto incontornável que, na volta, diz muito de nós. É que temos douradinhos no frigorífico e arroz na prateleira, mas como é tudo comida que não se faz sozinha... Já me desviei outra vez do assunto. A pizza. Experimentámos muitas pizzarias, mandámos muitos empregados para a escola por não falarem inglês, até que chegámos à Da Grasso. Estes fofinhos, que já nos devem conhecer como as maluquinhas-do-quarto-xyz-da-Piast-que-não-fazem-mais-nada-qué-enfardar-pizza-ao-fim-de-semana, têm uma pizza que poderia facilmente ser a prova da existência de deus. A isto juntam um molho de alho e outro de tomate e um litro de Pepsi. 24,20 zl, que dá mais ou menos seis euros.
«E em que é que isto contribui para a minha felicidade, Trippers, amigas?» Em nada, absolutamente nada.
p.s: Sim, já andamos a tratar da inscrição num ginásio.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O E. passou a Matemática.


O E. passou a Matemática e nós estamos muito contentes. Só quem já esteve, como nós, a ver a vidinha a andar para trás por não fazer Química ou Genética nem à lei de bala é que sabe o que isto significa. O E. passou a Matemática e, honestamente, não nos interessa se foi com estudo, com cábulas, com choradinhos ou com favores sexuais à professora. Interessa que passou e está feito. É daquelas coisas que uma pessoa acha que, por mais anos que viva, nunca há-de ver realizada. Daquelas coisas que já tomamos como adquirido. O mundo que nós conhecemos é um mundo onde o E. nunca há-de fazer Matemática e vivemos todos bem isso. Agora temos que aprender a viver nesta nova Era: a Era em que todos já fizemos Matemática.
Mas isto levanta outra questão: o que é que nós vamos fazer com as piadas e trocadilhos que já tínhamos feito a gozar com o facto de ele estar há dois anos a fazer a cadeira mais fácil do curso? E outras tantas que englobavam o ele ter ido a toda a frequência e todo o exame e nunca ter tido mais que 5? Problemas, a nossa vida só tem problemas.

p.s: Parabéns, E.!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

(«Ah e que não fazem nada e que andam a laurear a pevide e que são umas parasitas e blá blá blá pardais ao ninho...»

O TANAS!
Que horas são? Que estamos nós a fazer? A chegar a casa depois de uma saída louca regada com muita cerveja? É, é. 'Tá-quieto-oh-Vânia!)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Estou a corrigir o meu relatório final de projecto pela terceira vez



Life life life I hate my life!

Estou a estudar Genética



Haters, get mad 'cause I got DNA polymerase.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Marizocas, Marizocas

Tens uma pontaria que nem te digo nem te conto.

(no encadeamento dos posts aqui de baixo)

A macumba que vocês fizeram resultou, suas bestas. Hoje fomos falar com o professor de Genética para acertar os detalhes do último exame. A caminho do gabinete:
F. «Põe um ar cansado, temos que parecer que não dormimos nem tomamos banho há cinco ou seis dias.»
A. «Ok, eu vou referir o relatório. Ouve, imagina que ele nos diz que afinal não é preciso fazer este exame, que o outro chega!»
F. «Vá vá. Tu dizes do relatório e eu digo que mal temos tempo para nos coçarmos. Acho que vou tirar os livros da mala e levá-los na mão. Despenteia-te um bocadinho.»
(entramos no gabinete)
A. «Boa tarde, desculpe lá o atraso mas temos estado imensamente atarefadas com os relatórios finais. Andam a dar cabo de nós. Ainda nem começámos a estudar Genética, veja bem...»
F. «Pois, isto não está nada fácil... Ainda por cima mais um exame... Porque temos mesmo que o fazer, não é?»
Professor «...»
A. «Claro que temos, não é? Só um exame era demasiado fácil, F. Mas andamos tão cansadas. Nem posso acreditar que ainda não estamos de férias.»
F. «É, ainda por cima vamos embora daqui a uma semana. Mal temos tempo para aproveitar estes últimos dias. Mas pronto, se temos que fazer o exame, fazemos.»
Professor «...»
A. «A não ser que não seja preciso. O professor é que sabe.»
Professor «Que vos parece quinta-feira?»
F. «Hmm... Um dia tão bom como qualquer outro...?»
Professor «Então pronto, quinta às 13h.»
A. «Obrigadinha pela atenção. Até uma próxima.»
O nosso futuro não passa, seguramente, pela representação.