quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

«Frio? Pfff isto ainda não é nada!»

O próximo polaco a dizer que isto ainda não é frio à séria, corre grandes riscos de ouvir leves injúrias e, quiçá, sofrer danos físicos. Porque quando eu estou na paragem do autocarro durante quarenta e cinco minutos à espera do que já devia ter vindo mas não tem forma de aparecer, a -15ºC, quero é que os polacos se f&dam com as manias que só a partir dos -30ºC é que nos podemos queixar.
Vamos lá esclarecer uma coisa: nós vimos praticamente dos trópicos. Na nossa terra, só não há palmeiras e água de coco por uma niquinha de nada. De onde nós vimos, não há cá temperaturas de -20ºC (e se algum dia houver, fecham-se escolas, fecham-se hospitais, fecha-se o país, declara-se o estado de emergência e evacua-se todo e qualquer ser vivo para Espanha).
Para nós, frio é 0ºC e já é um ver-se-te-avias porque as pessoas deixam de sair de casa. Saber que estão -15ºC na rua, ver a neve a cair, o vento a levar tudo à frente e MESMO ASSIM (e reparem como é aqui que está o difícil da questão) sair de casa de manhã não é para qualquer pessoa. Só para os mais fortes de nós (nos quais nós as duas estamos notoriamente incluídas).
Portanto, a mensagem é esta: está frio sim senhor, deixem de se armar em maiores da aldeia que nós sabemos e vocês sabem que está um frio do c&aralho. Vão masé p'ó raio que vos parta e imigrem para a Sibéria se ainda não está bom. Se não está assim taaaaanto frio, se isto é só uma leve brisa invernal, por que é que andam todos que parecem bonecos da Michellin, hm hm hm? Aaaaaah!
Estúpidos.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Polaco e o Desvio

Que os polacos não são as coisas mais fofinhas e hospitaleiras que existem à face da Terra, já nós tínhamos percebido (salvo algumas excepções, verdade seja dita). Eles são assim meio «Chega p'ra lá, bicho-ruim-não-falador-de-polaco-e-que-portanto-deve-ser-enviado-para-Marte» mas nós desculpamos porque o clima aqui deixa uma pessoa assim... indisposta.
O que é necessário partilhar acerca dos polacos (e isto devia ser considerado serviço público) é que esta gente não se desvia. «Como assim, ilustres Trippers?» Nós explicamos: imaginem um passeio de coisa de um metro de largura. Vocês vão numa direcção e O Polaco vem na oposta. Num país normal, com pessoa normais (uma coisa assim como Portugal), cada um de vocês cede um bocadinho, desviando-se (coisa pouca!) e assim cada um segue o seu caminho feliz e contente, sem prejuízos de maior. Mas aqui não. Aqui, é a lei do mais forte que impera. O que for mais forte segue caminho, o outro badameco fica no chão a estrebuchar com a força do impacto. Nós, não-habituadas a estas regras, começámos por nos desviar da frente de toda a gente, metíamo-nos nas valetas, saltávamos para o meio da estrada, entrávamos num prédio, qualquer coisa para não ter um confronto físico desta envergadura.
Ora, tudo o que é demais enjoa, pois não é verdade? Decidi, há pouco tempo, que, na Polónia, há que ser polaco e vai daí comecei a não me desviar mais coisa nenhuma, que-vocês-não-são-mais-que-eu-e-raios-me-partam-se-não-hei-de-fazer-alguém-desviar-se-da-minha-frente. Pronto, aprendi que se eu continuar o meu caminho e não me desviar nem um bocadinho da minha rota, eventualmente O Polaco há-de ceder. E a coisa tem corrido bem.
O que eu devia saber é que o Karma não brinca e o Universo não dorme. Temos então que o Universo pensou mais ou menos isto «Queres andar a brincar aos carrinhos de choque, não queres?».
Hoje, ao vir para casa, num segundo vinha absorta nos meus pensamentos e, no a seguir, fui completamente abalroada pel'O Polaco. Caiu-me a mala. Eu podia tê-la fechada? Podia, mas assim o Karma não ficava com o sentimento de mission accomplished, portanto, ela ia aberta e fez questão de espalhar todo o seu bonito conteúdo na neve. E as pessoas a passar. Enquanto eu via estrelas e guinchava «Ai o meu ombro, tenho um ombro deslocado. Nunca mais sou ninguém, vou ficar sem o braço.», o anormal d'O Polaco, entre Pechépréchames (já falámos aqui disto?) e outros que tal, estava a agarrar as minhas coisas (tudo isto enquanto as pessoas passavam) com neve e com tudo e a juntá-las. «Ooooh pshtóoóó parou! Tira daí os presuntos que eu apanho tudo, não preciso de ajuda. Vai lá à tua vidinha, assassino.» E pronto, ele lá foi e eu segui o meu caminho, visivelmente transtornada mas com uma lição aprendida: na Polónia, podes ser polaco... Mas depois o Universo fode-te.

A única pessoa que nos prestou atenção! Unf!

Como já aqui foi dito, se há coisa que nos aquece os corações é vir no 601 a dizer mal de tudo o que mexe. Ou então simplesmente a dizer coisas estúpidas pelo prazer de dizer coisas estúpidas.
Se não, vejamos: «Não é fixe que, aqui, possamos dizer asneiradas atrás asneiradas com um ar sério e fazer as pessoas pensar que estamos a falar de temáticas de relevo para a sociedade?» ou ainda «Se eu gritar aqui «Vão todos para o car&lho!» ninguém vai perceber e ninguém me vai à cara. Olha, «PILA PILA PILA». Ninguém reagiu grandemente, viste?». E continuamos a ter mais ou menos este nível de conversa (mais ou menos porque pode descer, nunca subir), fazendo experiências com outras palavras num tom de voz um nadinha acima do desejável.
Às tantas, oiço um «Sorry» do meu lado esquerdo e rezo para que seja alguém a querer sair do autocarro. Mas não. Gelo. «What language are you speaking in?». «Hm ahah...» digo eu, com uma gota de suor a escorrer-me pela testa «Hm... Porquê? Que língua é que te parece...?» «Is it Swedish? It looks like Swedish.» Aaaaah ok. (E agora podia fazer conjecturas acerca do sueco como língua e dos bardajões que os suecos devem ser, mas não. Guardo-as para mim.) «Néeepia, it's Portuguese.» «It's... what?» «Portuguese??», respondo, abrindo os olhos muito expressivamente. «Ok...» Ah c/brão, não estás convencido que exista, não é? «I'm sorry, but Portuguese is from...?», pergunta a pobre alma, convicta de que eu lhe vou responder assim tão facilmente. «Frooom...?», digo. «Frooooooooom........?», diz ele. E eu desisto, que se há coisa que eu sei é reconhecer um caso perdido. «From Portugal, buddy. From Portugal...»

domingo, 12 de dezembro de 2010

A validade do meu passe dos transportes acabou ontem.

E eu hoje tinha (porque tinha; falem com a gaja do PhD de quem eu sou bitch) de estar na faculdade às 8h30 da manhã com muita vontadinha para trabalhar. Ora, para ir do dormitório até à faculdade são precisos dois autocarros, duas pontes, roupa a dobrar (tudo aos pares; duas camisolas, dois casacos, umas calças e umas meias-calças (!) e dois cuequedos quiçá), muita paciência e carradas de música no telemóvel. O primeiro trajecto faz-se tal qual uma rapidinha, coisa de 2 minutos, duas paragens e está-se no sítio. Para quê pagar bilhete? Tive sorte, não se aparattou (adoro ter autorização para ser nerd aqui no blog) nenhum "revisor". Quando apanhei o segundo autocarro não quis arriscar...
- A student's ticket, please.
- "Pchejsdbasd w sjdfnsd dsknaskdfnski (?)"
- Hmmm, bilet. Studenski. (cara de por favor, por favor, percebe-me e vamos lá embora que estamos a parar o trânsito!)
- (a fazer-me sinais) "Wejsnciajcjas asadkskdfsajan dwadzieścia pięć broche"
- Ahhh, broches! Já podia ter dito que queria dinheiro. Tome lá, um zloty e vinte cinco grozny (isto lê-se qualquer coisa como gróche, eu juro que tem piada!).

Nós ainda acalentamos a esperança de, numa futura viagem a Londres, dar de caras com o Daniel Radcliffe e com o Rupert Grint* numa avenue qualquer, eles apaixonarem-se por nós e quererem desposar-nos logo ali. É difícil de acontecer? É capaz. Mas nós gostamos de sonhar alto.
De modos que, em Julho, quando soubemos que o novo filme do Harry Potter ia estrear em Novembro, decidimos imediatamente que era uma coisa a ser vista na Polónia. Que esperar até Dezembro não fazia sentido nenhum.
Fomos, claro que fomos. Agora... Percebemos o enredo? Hm... Nem por isso. Como se não bastasse a merda do filme ter todo ele aquele accent do inferno e as legendas serem em polaco, ainda conseguimos calhar no meio de um grupo de miúdas (histéeericas) loucas que suspiravam e guinchavam a cada palavra dos actores. «Estas p&tas, daqui a pouco, voam. Têm legendas, as vacas, não precisam de ouvir.» A juntar a tudo isto, o cinema era de 1943, as cadeiras infligiram-nos severos danos na zona, portanto... do cu e ficámos mais ou menos a 87 metros do ecrã.
Aquilo que prometia ser uma experiência inesquecível tornou-se uma coisa a esquecer. Ficámos magoadas com o sucedido. A primeira coisa a fazer assim que botarmos os pezinhos em Portugal, é ver a porcaria do filme num cinema do século XXI, com pipocas, muitas, com anúncios em português e com legendas de gente. Na loucura, ainda o vamos ver dobrado para português.

* Se não sabem de quem se trata, fora deste blog! Xô!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Conversas de fim de noite #2 (ou de como descobrir se há um bully dentro de si)

Ontem à noite saímos da Piast e deparámo-nos com um boneco-de-neve com qualquer coisa como dois metros. «Oooh tão giro, vamos tirar fotografias e dizer às pessoas que fomos nós que fizemos!» (Aaaargh, já nos desbroncámos. Não fomos nós que o fizemos. Mas podíamos ter sido, que skills e jeito para trabalhos manuais não nos faltam.)
Adiante, este é o boneco.


Ao finzinho da noite, ao voltar para casa, uma de nós avista o boneco e tem uma ideia para lá de genial. «'Bora dar pontapés ao boneco-de-neve??», diz a F., com os olhos a brilhar. Ao que a sensata de nós responde «..... Por que razão é que eu haveria de querer dar... pontapés ao boneco, F.?». (E aqui entra a segunda parte do título deste post.) «Oh ele nem se consegue defender...»
Pronto, por hoje era mesmo só isto. Agradecidas.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

(Fofinha, this one is for you.)

(Nós íamos pôr o genérico do «Perdoa-me» da Fátima Lopes quando ela apresentava programas de merda, mas assim vai sem nada. Mas com muito sentimento.)

Isto já vem um nadinha tarde, mas mais vale tarde que nunca, pois não é? Pois que nós, imberbes pessoas, más pessoas, esquecemo-nos que a Fofinha fez anos. Merecemos umas chicotadas.
A Fofinha é uma pessoa de quem nós muito gostamos e que fez anos há uns dias. Nós esquecemo-nos do aniversário dela e, depois, enviámos-lhe um e-mail a desfazer-nos em desculpas, com um e-card assim muuuuito para lá de lindo que (achámos nós) derreteria o coração de qualquer pessoa. A Fofinha odeia-nos e tem todo o direito. A Fofinha é, como o nome indica, uma pessoa muito, muito fofinha que, depois de ver que tem um post dedicado aqui no estaminé, vai (achamos nós) perdoar-nos por sermos tão más pessoas. Que nós sabemos que somos. Mas a Fofinha também vai perceber que nós andamos aqui há tanto tempo e que temos muita, muita, demasiada vodka no sistema, bem como Okocim. Okocim é a cerveja DO INFERNO, Fofinha. Limpa-nos a memória. Um GHB mas em bom (ou em mau porque não nos garante acção. Olháá piada javardolas!). Pronto, já me alonguei mais do que devia.
Isto tudo para dizer: Fofinha, muitos parabéns e muitas desculpas. E muitos beijinhos de parabéns. (Isto, assumindo que ainda vens aqui ao blog, porque, mesmo nós sendo as más pessoas que somos, merecemos que tu te preocupes em ver se estamos vivas.)

(E se isto não amoleceu o teu coração, isto fá-lo-á.)

(Claramente que eu sou o Calvin e a F. o Hobbes. Ela é mais alta do que eu.)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ora vamos lá a saber...

... quem é que foi o (filho da p&ta) fofinho que disse que vida de Erasmus não mete estudo. A sério, quem foi? Que se acuse para conversarmos um bocadinho. Uma coisa ligeira. Uma troca de impressões, quiçá uns pontapés e umas chapadas bem assentes intercalados com um bastão de baseball nos costados. Uma coisa de respeito, prometemos.

É que, parecendo que não, vem uma pessoa enganada, porque é disso que se trata, a achar que vida de Erasmus são seis meses de (xiba!) rambóia e, de repente, damos por nós a declinar convites para comparecer em festas dos alunos de Direito (Direito, minha gente! Dos que têm country houses e iates e empregados a magotes.) no Lux cá do sítio porque... porque... temos que estudar...? Mas nós vimos de Erasmus para estudar, é? É? É?!

O Diabo perdeu o frigorífico.

O que anteriormente era um problema porque não era frio o suficiente, tornou-se um problema porque passou a ser frio demais. Agora, a nossa varanda funciona como congelador. Não podemos lá pôr nada que apenas requeira frio e não congelamento. De um dia para o outro, o pacote de leite virou arma de arremesso (aaai o perto que estive de fazer um trocadilho com «arma branca»...). Portanto deixámos de poder comprar coisas que precisassem de frigorífico.
Tanto nos lamuriámos, tanto nos lamuriámos com a falta de um frigorífico, que tanta falta nos fazia, e o que nós gostávamos de ter leite em condições para beber e que tanto que nós gostávamos de poder comprar carne e guardá-la no frigorífico que alguém lá nos céus (yeah right) atendeu às nossas preces e nos mandou uma vizinha nova com um frigorífico em attachment. Vibrámos, saltámos, fizemos planos para o futuro. Que felizes que nós íamos ser com um frigorífico. A vida estava completa. Uma panóplia de opções surgiu diante de nós, um novo universo. Dividimos a vida em duas épocas: a.F. e d.F*... BALELAS! O c%r%lho do frigorífico faz um chavascal que não lembra a ninguém. Parece uma família inteira de besouros aqui na entrada a zumbir o dia todo. A noite toda. Noi-te-to-da. É o frigorífico do Demo. Mas ele não é parvo! É passivo-agressivo, o cabr/o! Está ali a zumbir, a zumbir, a zumbir baixinho que quase não se dá por ele, mas é ver-nos na cama à noite às voltas, a enterrar a cabeça na almofada, a tapar os ouvidos com os dedos, a cantar baixinho porque a merda do frigorífico não tira folga. Acordamos com os olhos raiados de sangue, só nos apetece bater com a cabeça nas paredes, cortar-lhe a ficha e atirá-lo janela fora.
Estávamos tão bem sem frigorífico...

A semente do Diabo.

* antes do Frigorífico e depois do Frigorífico

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

«Pão de trigo e linguiça para a merenda sempre dá para enganar a saudade.»

Quanto a vocês, não sabemos. A nós, ao lembrarmos Portugal, vem-nos imediatamente à ideia... bacalhau. Que mais? Quem diz bacalhau, diz um café (um café, senhores! Era tão somente um café que queríamos, um café curto, longo, o que fosse! Um café a que se possa chamar café e não esta mixórdia com que esta gente tenta iludir os nativos), uns tremoçozinhos, uns caracóis, na loucura. Mas Portugal é bacalhau. Mai nada.
De modos que tanto nos queixámos no Skype (esse grande senhor), tanto pedinchámos, tanta indirecta mandámos às mães que o bacalhau chegou. E nós que, outrora, gozámos com o facto de nos quererem mandar o dito pelo Correio, pulámos e guinchámos de alegria quando, ao abrir a encomenda, se nos começou a chegar o cheiro de um bonito bacalhau. (Ou três postas, vá, que se me chegasse aqui um bacalhau inteiro em meu nome, quem o ia buscar não era eu, 'certeza.) A acompanhá-lo vinha azeite, vinhozinho de mesa (yup.) e atum (que, aqui, comprar atum é coisa para requerer um curso superior). Quase nos vieram lágrimas aos olhos da emoção.
Cozinhar já foi outra conversa. Massa e arroz sabemos nós cozinhar, agora bacalhauzinho já é conversa para outros Carnavais... Mas como somos moças de QI (mais ou menos) elevado, fomos à internet e pusemo-nos a sacar receitas. Encontrámos uma simples que metia cebolas e batatas a murro e pareceu-nos a nossa cena. Aprendemos um novo termo. «Demolhar». Parece que se não se fizer isso ao bacalhau, ele fica intragável.
Fiquem com o resultado.



sábado, 4 de dezembro de 2010

A Roban

No post anterior falou-se da nossa ida a uma festa que tinha como tema o kitsch.
Ora, o que é o kitsch para leigas como nós? Pessoas vestidas com mau-gosto. Cores e padrões tudo à mistura. Quem nos conhece (ou, pelo menos, uma de nós) sabe que isto não representa desafio nenhum, pelo que decidimos botar mãos à obra e procurar no Tio Google que raio era isto de kitsch. E encontrámos muitas coisa, oh lá se encontrámos. Encontrámos filmes, músicas, loiça (quem é que se recorda daquela loiça-couve verde que há nas casas das nossas avós? Aaaah gozaram com isso, não gozaram? Isso é kitsch, suas bestas.), roupa e penteados (sim, penteados...) kitsch. A coisa confirmou-se: mau-gosto a barrotes, leggings, maiôs azuis eléctricos, perneiras, chumaços, flores, riscas, botões dourados e tudo quanto se quiser...
Nós, que somos pessoas que gostam de seguir dress-codes, não nos deixámos desmoralizar e partimos em busca da roupa kitsch perfeita. Pois que nos haviam indicado uma loja em segunda mão. Sim, uma loja em segunda mão.
Agarrámos em nós, metemo-nos na neve (e QUE neveão que caiu nesse dia) e fomos atrás da Roban (que ganha todo um novo sentido quando pronunciado como rrrroban com aquele enrolar da língua). A Roban é quase uma multi-nacional de roupa em segunda mão. A Roban tem roupa em segunda mão e, por conseguinte, a Roban cheira mal. Não é mal de «Ai quem é que mandou aqui um pantufos? Arejem o sítio.». É mal de «Jesuuuuus, quem é que morreu aqui?!» ou mal de «O Francis Obikwelu andou a correr os 100 metros trinta vezes e depois veio esfregar as axilas nas paredes e na roupa.» Cheira mal, pronto. Um cheiro a suor de vinte e cinco anos, um suor que se foi acumulando no estabelecimento e que só sai quando aquilo for demolido. Mas esta não é a característica mais inusitada da Roban. O mais giro na Roban é que a roupa compra-se... esperem.... compra-se ao quilo. (AHAHAHAH) Quando lá fomos, estávamos no início da nova colecção, portanto um quilo de roupa custava 55zl. A senhora (que, a título de curiosidade, tinha um farfalhudo bigode, uma coisa passível de fazer inveja ao Toni) disse-nos que, com o tempo, aquilo ia baixando o preço, chegando à módica quantia de 8zl/kg. Uma pechincha, meus amigos. E nós que sim, senhora, muito bem, vamos dar uma voltinha a ver se gostamos de alguma coisa. Os nossos olhos caíram imediatamente numa secção, cuja plaquinha dizia «RETRO». Ui que é já aqui que ficamos. Vira cabide, torna a virar, acho que vou buscar as minhas luvas que isto deve ter tuberculose e encontramos, entre saias e casacos vermelhos com renas, um casaquinho todo ele florido, botõezinhos dóóirados e um brinde. Um nome lá cosido. Até ver, a dona prévia deste casaco chamou-se Elin Svensson e deverá ter perecido algures numa casa de repouso durante a II Guerra Mundial. Como isto era bom demais para lá ficar, veio connosco para casa. A acompanhá-lo, duas camisolas tamanho XXXXXXXXXL com tudo quanto é cor para serem envergadas na festa. Ao todo, comprámos mais ou menos 1,5 kg de roupa.
Escusado será dizer que, assim que chegámos a casa, metemos tudo em cinco litros de detergente e deixámos marinar durante duas horas. E o cheiro saiu, sim. E nós fizemos sucesso na festa. Que, no final do dia, é o que interessa.




















Ora era kitsch que se pretendia, não era?
(Atento agora que a posição corporal é a mesma, não foi propositado.)

Ontem à noite fomos a uma festa na casa de uma amiga nossa. Nessa casa vivem 9 pessoas e apareceram mais de 50. A cozinha tem um balcão gigante, o que lhe dá um ar de bar. O tema era o estilo kitsch e ou ias em conformidade ou ficavas a limpar a casa hoje (e aquilo ficou um nojo, no-jo). Long story short, eram 23h30 e 5 litros de cerveja já tinham marchado (isto cada uma, não há cá meninos), acho que estamos a virar pequenas polacas nestas andanças de começar cedo e cedo tombar, dá saúde e.. qualquer coisa. Eles baixaram as luzes e, aquilo que antes era uma festa onde se comia chocolate e se tocavam umas modinhas portuguesas (que muito foram aplaudidas), virou uma orgia. Sim, uma orgia. Sem qualquer tipo de preconceito.
É nestas alturas que uma pessoa se toca (e não, não é no sentido javardo da coisa, acho eu) e percebe que está mesmo de Erasmus...

A nossa vida dava "um filme indiano"

Se algum deus existir, acreditamos piamente que não vai com a nossa cara. Ou isso ou estamos destinadas a viver momentos hilariantes que mais parecem uma anedota do Fernando Rocha. O pessoal ri-se para ver se a coisa fica melhor, mas nem fica.
No passado fim-de-semana íamos jantar com o Embaixador de Portugal em Varsóvia (note-se que em Cracóvia há embaixadas e consulados aos pontapés mas não, de Portugal não, já da Áustria sim, é aqui ao lado mas PRECISA de uma embaixada do tamanho de dois Colombos!). Continuando, jantar marcado para as 21h, na boa, apanhamos o comboio às 15h15 e em 3h estamos lá, a tempo de procurar o Portucale, restaurante, que deve ser monumental e bem no centro da capital, ou porque raio iria o Sôr Embaixador dirigir-se a uma espelunca?
Acordámos a horas decentes, o que é bastante difícil, quem nos conhece sabe, tomámos banhinho, aperaltámo-nos, qual casamento qual quê, enfiámos uns trapinhos nas mochilas e ala que se faz tarde. Saímos às 14h40 ou coisa que o valha e corremos para apanhar o autocarro que estava mesmo a passar. Ora bem, acção para a puta do filme! Um trânsito do deus me livre, o autocarro à pinha, nós apertadinhas contra a porta (não há cá bater coro, entras num autocarro destes e sujeitas-te a ser sodomizada/o como gente grande) e parado na avenida. PARADO. Isto podia acontecer noutro dia qualquer, a sério, mas não. Tinha de ser NAQUELE dia. Um percurso que se faz em 10/15 minutos, já eram 15h da tarde e nada.. Ideia de génio, sair na próxima e apanhar um taxi que há-de encontrar um caminho mais desimpedido e fazer um sprint até à estação, atropelando velhinhas se tiver de ser. O plano era bonito e encheu-nos de esperança, qual Gato das Botas fofinho. Só que apanhámos um taxista môno que se pôs atrás do autocarro e se deixou estar à espera. Era ver-nos esbracejar, chamar-lhe nomes, fazer-lhe gestos ofensivos em português, telefonar para as outras duas que já estavam dentro do comboio e... wait for it.. wait.. TINHAM OS NOSSOS BILHETES!! Lá conseguimos chegar à Galeria que é mesmo (mesmo!) ao lado da estação, ainda faltavam 5 minutos, vá, toca de despachar. Para mal dos nossos pecados, mais uma vez, ficámos na parte de trás (ou de lado, eu sei lá) da Galeria. Ora merda que nunca tínhamos entrado por ali, para onde raio ficava a estação?

Vai de correr pelo centro comercial feitas baratas tontas a praguejar e a fintar quem nos aparecesse à frente. Íamos na direcção certa, até que uma mochila se abre e metade do conteúdo se espalha pelo chão, mesmo à frente de uma loja qualquer de nome caro. O telefone toca: arh... o comboio já saiu... como é que vocês vão fazer?. Desatámo-nos a rir e fomos almoçar. Isto não sem antes: fazermos um escândalo na cabine das informações à procura de uma solução para o problema, pedirmos o livro de reclamaçoes por falta de uma, passarmos 10 segundos a achar que fodeu e agora só pagando 70 zlotys (tínhamos pago 30, se tanto, pelo outro bilhete que, ao contrário de nós, rumou para Varsóvia) e finalmente comprarmos um de 26pln que só saía às 18h. Sabíamos que o atraso era inevitável mas como nestas coisas, ainda por cima portuguesas, nunca se come a horas, ficámos mais descansadas. Olha... o que é que nos passou pela cabeça?
O jantar começou às 19h, demorámos 1h para encontrar o restaurante (ou melhor o número da porta, porque nós estávamos na rua certa!), um frio que nos congelou a alma e nós de saia (e sabrinas!), o passeio/estrada em gelo-bom-para-escorregar-e-partir-a-bacia, as outras que estavam com os copos e nada de atender o telefone.. foi lindo. Chegámos foi 2 minutos depois de deixarem de servir vinho à pato. Isso é que nos deixou chateadas. Isso e não ver a celebridade. Já putos bêbedos de calcinha vincada e gravatinha do pai a cantar hits portugueses não faltavam, acreditamos que foi um regabofe à portuguesa. E os putos eram do Benfica, 'certeza.
Nós.. acabámos a noite a enfardar sandes de púmento, a beber cerveja da cara (que a capital é a capital) e quase que a ser convidadas a sair de um bar por termos transformado uma pequena (pequena!) divisão do mesmo numa sala de chuto.


quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Composição: «Os autocarros de Cracóvia»

Os autocarros de Cracóvia são muito diferentes dos autocarros do nosso país. O nosso país não é grande espingarda, mas, no nosso país, se há coisa que é boa, são os autocarros.
Os autocarros de Cracóvia são azuis e brancos e chamam-se MPK*. No nosso país são amarelos e chamam-se Carris.
Os autocarros de Cracóvia têm escrito por todo o lado Bus of the Year 1999 e isto, parecendo que não, dá confiança ao viajante. Que sim senhor, autocarro que foi Autocarro do Ano de 1999 é autocarro que inspira uma pessoa a sentir-se segura. Só um autocarro muito bom e muito acima da Média Europeia dos Autocarros é que pode ter a honra de ostentar um selo com tal dizer.
Os autocarros da Cracóvia são isso mesmo: os autocarros do ano de 1999. Foram autocarros até à meia-noite de dia 31 de Dezembro de 1999. A partir daí, deixaram de ser autocarros e começaram a ser carroças.
Os autocarros de Cracóvia não têm grandes travões, o que faz com que só parem quando batem no passeio.
Os autocarros de Cracóvia tremem e gemem muito quando estão parados no semáforo. Por esta razão, os autocarros de Cracóvia deixam-nos tontas.
Os autocarros de Cracóvia fazem despiques uns com os outros.
Os autocarros de Cracóvia têm revisores undercover.
Os autocarros de Cracóvia só são conduzidos por condutores altamente habilitados a coisa nenhuma. Os condutores dos autocarros de Cracóvia deviam ter uma ordem de restrição em relação a tudo o que tem rodas. Incluindo patins em linha.
O autocarro de Cracóvia onde viemos hoje para casa não nos trouxe a casa, deixou-nos a meio caminho. Foi abaixo trinta e quatro vezes até que deixou de pegar. Nós rimo-nos muito quando o condutor desistiu e abriu as portas para as pessoas saírem para o meio da estrada. Não nos rimos tanto quando tivemos que estar à espera de outro à temperatura de zero graus.
Os autocarros de Cracóvia são melhores, sabemos nós, que os autocarros da Índia ou de Moçambique. Nós sabemos. Mas na Índia ou em Moçambique, cada autocarro transporta dez pessoas, duas bicicletas, quatro cabras e dezoito galinhas. Nós não estamos nem na Índia nem em Moçambique, por isso, não vemos razão para os autocarros de Cracóvia serem a merda que são.
* Tomámos a liberdade de descortinar o que a sigla significa e temos quase, quase a certeza que é mais ou menos isto: Maior P&ta de merda K existe neste país.

Como é que dez portugueses dão na boca a trinta espanhóis?

Indo ver um Portugal-Espanha.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Serve o presente comunicado para comun... informar que ESTÁ A NEVAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAR!



(Está a nervar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, nevar, nevar, nevar, nevar, nevar, nevar, nevar sha lalala nevar, nevar.)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Karma: e se, em vez de pu... profissionais do prazer, atraíssemos dois polacos ricos? Hm? Que dizes?

Está a tornar-se repetitivo, sabem... Saimos e já sabemos que vamos acabar a noite com mais um connect do showbiz. Parece que as atraímos. Estamos nós 'ssogaditas no nosso canto com um amigo lá dos Perus (que, a seu tempo, há-de ver aqui dedicado um post) e eis que elas aparecem. Mini-saia collegial style, botas com uns saltos vertiginosos e muito brilhantes, camisas que lhes tapam portanto... as partes (não se pode exigir mais, não é verdade?) e gravatas. «Bonito...» pensamos nós «Vêm fazer-nos uma lap dance, é, amigas? Podem dar meia volta e ir pregar para outra freguesia quem nem dinheiro para azeite do bom nós temos, quanto mais para badalhoquices. Vá, andor.»
«Can we have a seat?» Podem, pois.
«You're not Polish, are you?» Diz que não, diz que não...
Só uma é que mete conversa, a outra está ocupada a explorar a garganta d'um moço. Diz ela que também não é polaca, é letã. Ah ok, és Erasmus, então? «What's that?» Hmmm... Está bem, deixa estar. Então e estás cá porquê? («Não respondas, não respondas, não respondas, aguenta o riso, mantém um ar sério, mantém um ar sério que ela pode ter aí um pimp, fica tudo perdido e somos corridos ao estalo.") «Working.» A séeerio? A fazer o quê? («Vá lá, vá lá, inventa, não digas que és p&ta. Aaai esta curiosidade mórbida...») «I'm a stripper.» Hm hm... Uma profissão como outra qualquer, diz um de nós enquanto outro deixa escapar um «Of course you are...» Então e não gostavas de... hm... trabalhar no teu país? «Oh I'm going back next year to study. Medicine.» («AAAAHAHAHAHAAAH») Sim, Medicina deve ser giro hm hm... Cochichamos entre nós «Temos que comecar a apostar, eu sabia que ela era p&ta.» «Pronto, estamos no grupo das p&tas. Se estamos no grupo das p&tas, somos p&tas; é o que as pessoas vão pensar.» «You make a beautiful couple.» Haaan? Como? «You make a pretty couple.» «Who does....?» «The three of you.» Entre risos nervosos e pálpebras a tremelicar lá lhe explicamos que ninguém ali é um casal. Nem aos pares nem aos trios. Tudo amigos do peito sem benefícios.
Arranjamos a forma mais rápida de sair dali enquanto ela sobe para o balcão e comeca a dançar. É, contudo, de atentar que aquela era a night-off dela.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Os Dementores invadiram Cracóvia!!!

Ou então é só a nova lei do tabaco a fazer efeito por aqui. É que saiu ontem e hoje está um nevoeiro cerrado... Os polacos passaram a madrugada a fumar na rua, só pode.
Porque isto de estarem habituados a ter macinhos de Marlboro a 2,5€ é muito bonito e faz muito bem à saúde mas eu já estava a começar a achar estranho poder fumar naquele botequim no piso -2.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

(Finalmente) Tratadas como convém

Nós sabíamos e vocês sabiam. Todos sabíamos que era uma questão de tempo até as princesses serem notadas e começarem a fazer parte de eventos da alta-sociedade. Não, não estamos a falar de Lilis Caneças e Cinhas Jardins. Estamos a falar de Sô Cônsul. Pois que Sô Cônsul Português na Polónia nos convidou para um exclusivo jantar no Consulado em Varsóvia. Não é para todos, é só para todo e qualquer Eramus português em território polaco.
Consta que dia 26 deste mês, Sô Cônsul se dispõe a fazer um pouco de companhia aos estudantes que decidiram fazer vida neste bonito país.
Ora, conhecendo-nos, é fácil perceber que vamos deixar de comer na Terça-feira anterior para ir encher o bucho à pala.
Fica desde já avisado, Sô Cônsul, que é mandatório que haja bacalhau. E um cozidinho. E umas quantas Super Bock. Tremoços também fazem parte da lista, assim como um bagaçozinho no fim para digerir, lá está. Vinho do Porto. Baba de camelo e alheiras (se não souber confeccionar esta especialidade, diga que fazemos aí chegar-lhe a receita do SuperMário). Tudo o que Sô Cônsul se lembrar, poderá constar. Não se acanhe. Uns canapezinhos serão bem-vindos. Umas azeitoninhas, poucas. Pão com manteiga. Champanhe (e não espumante, estamos entendidos?). Se houver uma sericaia, ficamos amigos do peito.
Sô cônsul, esperto que só ele, não mandou o convite para todos os portugueses aqui em Cracóvia. Mandou para um, esperando que fossem dois ou três e estava a festa feita com baixo orçamento. O que Sô Cônsul devia saber é que, havendo comida à pato, vai aparecer tudo quanto é tuga; que isto notícia que interessa corre depressa. Com sorte, ainda aparecem uns quantos que cá fizeram em Erasmus em 1985.
Estamos em vias de comprar tupperwares para trazer os restos e deixar de comprar comida durante pelo menos uma semana.
Vamos levar a máquina fotográfica e tirar fotografias com todos os empregados do Consulado. E às casas de banho.
Portanto, dia 26 ao finzinho da tarde, há-de haver um comboio repleto de portugueses rumo à Terra Prometida.
Adenda: é importante, contudo, avisar Sô Cônsul para que não se ponha com ideias de introduzir a gentalha à Polish Cuisine. Deixe-se de merdas que fartas de pierogi e salsichas com couve andamos nós, hm?

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Todos os dias, por volta das 8h30 da manhã, quem está para os lados da Piast vislumbra um zombie. Fronha de quem acordou, fez o xixizinho, vestiu, lavou os dentes e apanhou o autocarro, tudo em 5 minutos. Escusado será dizer que o autocarro pode bater que nem me sinto (e isto é mais provavel de acontecer do que pode parecer à partida).
Hoje, na volta para casa, 11h30 mais coisa menos coisa, autocarro à pinha, sentei-me, não, assentei uma das nalgas num pequenino espaço de um banco que era para uma pessoa e meia (e sim, já lá estava uma pessoa). O marido da dita senhora que ocupava o lugar resmungou e dirigiu-lhe um gesto de como quem diz "Oh mulher d'um raio, encolhe esse rabo, não sejas gorda, deixa a moça sentar-se", ao que ela rapidamente assentiu. That's ok, no need, respondi-lhe com um fiozinho de esperança que ela percebesse o básico do inglês. A senhora sorriu e voltou-se para a janela, isto só durou 10 segundos, depois virou-se novamente para mim e falou "khjvbkwnwkbwski sbsaidcaswmsnacki aj wkbsdkvk kdsvwna!" (eu acho que foi uma exclamação) e desmanchou-se a rir. Eu, que mal ela abriu a boca mergulhei num dilema interior (ou lhe respondia em inglês e tentava explicar-lhe que não falo polaco ou...) AHAHAH, respondi.
A verdade é que, passados 5 segundos, me começou a cheirar a mijo.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Mas faço-me entender óquê?!

Quando o vocabulário em inglês falta, damos graças aos Céus por termos o espírito do desenrascanço. Senão vejamos:
"Olhe é uma water with bubbles, por favor." (Uma quê?, perguntam vocês. Uma água com gás, pois com certeza.)
"Ah isto é um count-bug." (Um bicho-da-conta para os que, ao contrário de mim, não são poliglotas.)
"Sei. É uma libelinha." "Hm?" "Opa uma laibelainha bzz bzz."

Fáááácil.

Old habits die hard (or don't die at all)

Diz que, na Polónia, tens que carregar o passe de mês a mês.
Também diz que, na Polónia, se não o carregares, aumentas o património da Carris-cá-do-sítio em 72 zl.

(Nem multas sabem passar. Ao menos em Portugal é coisa para ser de 100 euros para cima. Não é cá merdas de 17 euros e pouco. Fracos.)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Maiscásmães

Nós sabíamos. Nós sabíamos que os portugueses são maiscásmães e que tudo o que é pedaço de terra tem uns três ou quatro que se ajuntam nem que seja a enfardar Cozido e a beber tintol. Nada de novo. Chegámos cá e conhecemos logo três de enfiada, simpáticos que só eles. Apercebemo-nos que eram lá da terra devido a um «C&raaaal%o» bem mandado no meio da discoteca. «Ok, óptimo, estamos em casa.» pensámos nós.
Depois, mais outra (pois não é, S.?), outra e ainda mais outros três.
Mas o que interessa para este post é o hábito que desenvolvemos. Acontece que, assim que cá metemos os pezinhos, ganhámos uma mania que é qualquer coisa de libertadora: falar mal de tudo e mais alguma coisa quando vamos às compras, quando estamos no autocarro, na rua, no café e por aí adiante. Não há muitas coisas melhores do que ir sentada ao lado de uma rapariga e dizer «Atenta nesta gaja. Tem um olho a apontar para a China e outro para o Brasil.» «Qual gaja?» «Esta aqui ao pé de mim, não vês? E a saia?». E quem diz isto, diz outra coisa qualquer, coisas bastante piores. Coisas que, se alguém percebesse, fazia com que saíssemos daqui mestres em escapar a linchamento público.
Também sabíamos que um dia íamos apanhar alguém na rua que percebesse o que nós gritamos para toda a gente ouvir. E eis que o dia chegou. Estamos nós muito bem na fila para comer uns quantos zapiekanki a falar sobre... a falar sobre... axes. Esta é uma temática que ocupa a maior parte dos nossos diálogos (e quem diz axes, diz antufinhos), falamos disto como quem fala do tempo, estejamos no recato do nosso lar ou numa aula. Somos princesas mas somos pessoas e desengane-se quem acha que as raparigas não mandam axes e muito menos falam sobre isso. Falam, sim senhor, e com uma classe que deixaria qualquer taxista de Lisboa envergonhado. Pois bem, estamos na fila e, quando o nível da conversa não pode descer mais (i.é, quando vai num «Ouve, mas que desarranjo que pr'aqui foi. Vi jeito de ir parar ao hospital desidratada.»), ouvimos um «Vocês são mesmo portuguesas?». Uma de nós engasgou-se e a outra ficou azul. Ao mesmo tempo que pensamos «F"#a-se, já fomos. 'Bora fingir que somos outra coisa qualquer e começar a correr.», dizemos «Sim, porquê? O que é que ouviste? Desculpa desculpa, nós não costumamos ser assim tão mal-educadas. Deixámo-nos levar. Nós geralmente só falamos de flores e maquilhagem e coisas bonitas tipo salvar o mundo e o c$r$lho. A sério, nem toda a gente é assim em Portugal.». O rapaz faz de conta que não percebeu nada até ali e começa então a explicar que é polaco, que estudou Português cá (sim, há efectivamente pessoas polacas que escolhem como carreira ser especialista em Estudos Portugueses) e que agora até dá aulas de Português, que esteve de Erasmus em Lisboa e gosta muito do sítio. «Ok, então não ouviste nada, pois não?» Que não, que nem percebia o que estávamos a dizer (consta que falamos muito rápido. Calúnias.). Nós começamos então a respirar a um ritmo mais normal, recuperamos a cor e ficamos a saber que há uma catrefada de polacos que estudam Português. Inchamos de orgulho e só nos falta começar a cantar o Hino agarradas a uma bandeira, a soluçar. Conversinha para aqui, conversinha para ali, trocamos os números (que isto dá sempre jeito conhecer nativos que falam a nossa língua) e adeus, até qualquer dia.
Julgam, contudo, que isto nos fez parar de falar de todo o assunto que nos vem à cabeça independentemente do lugar onde estamos? Ahah ganhem tento nessas cabeças, crianças de deus...
Passados uns dias, vamos a um Tandem (e o que é um Tandem? Não sabemos. Mas gostamos da palavra e da sonoridade. E já percebemos que a única coisa comum a todos os Tandems a que já comparecemos é a cerveja barata. Portanto, seja o Tandem o que for, nós estamos lá.) e conhecemos mais dois polacos que falam português. Como se vê, é coisa recorrente por aqui. O que não sabíamos é que todos eles falam português quase melhor que nós mesminhas. E começam a falar da língua da perspectiva deles. Sabem mais que nós, os exibicionistas. Tomámos conhecimento de factos tais como o de a nossa língua ter nada mais nada menos que dezasseis tempos verbais. Nós? Nós sabemos os nomes a quatro e e... Ficámos também a saber que é impossível para um polaco dizer «lh». Impossível. Pronto, tivemos diversão para o resto da noite, perdão, para o resto do Tandem. «Olha olha, diz lá alho.» «Áio.» «Aaaaahahahah não, não. A-lho.» «Alio.» «Aaahahahah opá que otário. A-lhe-o, diz.» «Ário.» «AHAHAH!» E foi isto que fizemos durante o que restou do Tandem.
Diz que são pessoas bem-dispostas, estes polacos d'um raio.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Cracóvia - a cidade

Apercebemo-nos subitamente de uma falha neste blog. É fácil isto acontecer? Não, não é, mas não somos perfeitas. (Prova disso é uma de nós estar neste momento a ouvir uma música do Justin Bieber. A outra vibra com o Glee e tem a soundtrack de cima a baixo. So what?)
Então não é que andamos por aqui há coisa de um mês e não nos dignámos a fazer um mísero post sobre a cidade? É bastante simples a razão de tal esquecimento: nós andamos por aqui todos os dias, já a conhecemos de olhos fechados, parece-nos o bairro, só nos falta cumprimentar o senhor do café e ele chamar-nos «meninas» ou então tratar-nos pelo nome para sentirmos que sempre aqui vivemos. Assim, facilmente nos esquecemos que nem toda a gente está aqui a não viver a cidade connosco.
Dizem as agências de viagens, dizem os blogs e nós que sim senhora, que é verdade: Cracóvia é a cidade mais bonita da Polónia. Que outras cidades é que nós conhecemos? Nenhuma. Mas gostamos de corroborar opiniões e esta é uma coisa que facilmente é verdade. Os monumentos, gentes, são mais que muitos e que saltam-nos para a frente dos pés quando vamos a descer a rua. Não há um prédio com mais de três andares ou que tenha sido construído depois de 1950, garantidamente. Mas desenganem-se se acham que os polacos vivem com buracos no tecto e paredes a cair. O cuidado que eles prestam aos monumentos, às praças, aos passeios, a toda a infra-estrutra é uma coisa que nós não sabíamos que era possível. Afinal bloquear as portas e as janelas de um edifício antigo com tijolo para os drogados não irem para lá dar nos fuminhos não é a única solução para o mesmo. Também podemos restaurá-lo, manter a fachada original e meter lá pessoas a morar, impedindo inclusivamente que o centro da cidade (ou, sei lá, a BAIXA) morra. E esta, hein?


Em plena Market Square que, sentimo-nos impelidas a dizer, é a-maior-praça-da-Europa, temos a Feira (que deve ter outro nome qualquer, tipo Fábrica do não sei quê, mas onde o ET passeia e se vendem as coisas mais pindéricas do Universo), a St. Mary's Church (que raios nos partam, que nos caiam aqui os olhinhos, se não havemos de lá entrar, tirar muitas fotografias, carregar neste flash e sair a correr de máquina em riste e a fintar os seguranças), a Clock Tower (que é... precisamente.... uma torre com um relógio... um Big Ben em bebé), uma igreja maipiquena atrás da grandona (que já se sabe, mesmo que os polacos não fossem ligados a estas coisas da religião, com um papa cá nascido e criado, tinham mais era que ser) e, a tooooda a volta, bares e cafés e restaurantes e esplanadas e muita coisa onde os turistas alapam o traseiro e gastam rios de dinheiro. Tudo salpicado com canteiros com florzinhas. Uma coisa fofinha que só visto.



À volta da Market Square, há uma infinidade de ruas, cada uma com bares/cafés/pubs porta-sim-porta-sim e muita lojinha de kebabs. Cada café é uma surpresa, eles não são comedidos nos pormenores, têm as coisas mais confortáveis e ao mesmo tempo mais excêntricas. Queriam fotografias, pois queriam. Mas coisas 'excêntricas' merecem muitos posts neste nosso ilustre recanto, a seu tempo.

Para acabar, temos a Universidade que parece saída de um filme a preto e branco e de onde, ainda acalentamos a esperança, havemos de ver sair o Dumbledore.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Pechépracháme

Em Cracóvia, há uma coisa que é comum a todas as pessoas. Comum a todos os estratos sociais, todas as idades, todos os credos, todos os géneros. Essa coisa é o Pechépracháme e tem identidade própria, é um vulto que contribui para o misticismo cá do lugarejo. É um ex-libris desta cidade e é o equivalente à nossa «caça aos gambuzinos». A verdade é que toda a gente sabe o que é, sabe em que contexto aplicar, mas explicar o que é, tá-quieto.
Pechépracháme é uma palavra que os cracovacos (e, por associação de ideias, o resto dos polacos) usam para... tudo. Quer dizer «bom dia», mas também quer dizer «boa noite». Quer dizer «Aguenta aí os cavalos que já te atendo.» e quer dizer igualmente «Diga, por favor». Significa «com certeza» e também significa «desculpe». Ao mesmo tempo que é «Deixa-me passar para ver se consigo sair deste autocarro.», é «Então, vizinha, há tanto tempo que não a via. Essa vidinha? E o marido? Óptimo, então vá, até uma próxima.»
Nós acreditamos convictamente que tudo depende da entoação que se confere ao Pechépracháme. E já estamos a começar a entrar no espírito da coisa. Já percebemos que se o dissermos num tom seco e rápido, as pessoas se desviam da nossa frente. Se, contudo, o proferirmos num tom assim mais cantado, mais suavezinho, as pessoas respondem com outro Pechépracháme que, por sua vez, tem outra entoação e que já deverá querer dizer outra coisa qualquer. A verdade é que ouvimos um Pechépracháme em toda e qualquer situação. Alvitrámos inclusivamente a hipótese de esta língua ser constituída unicamente por este vocábulo com entoações diferentes.
Apesar de tudo, não esquecer que isto é assistido e comentado por portuguesas em terras estrangeiras que é coisa que, não raras vezes, se assemelha à primeira ida dos cavadores de plantações de batatas à capital.

Como gostamos de ser pessoas informadas, perguntámos a quem de direito que raio quer isto dizer e ficámos a saber que significa tão só e literalmente... «com licença». Hmm... Está certo, então.
Isto, porém, levanta outra questão: POR QUE É QUE AQUI TODA A GENTE COMEÇA UMA CONVERSA COM «COM LICENÇA»?!

Como ele pensa que a coisa aconteceu
Professor encontra aluna no laboratório. «Olá estás boa? Hoje temos uma coisa nova. Vai lavando essa amostra que eu já venho.» Aluna acede com um sorriso nos lábios, como sempre.
Professor sai.
Professor volta daí a 15 minutos. Professor debruça-se sobre a amostra. «Não acredito... Estão todos deteriorados. Hoje até baixei a temperatura do laboratório para ver se eles aguentavam, mas nem assim. São muito sensíveis ao calor. Hoje queria mesmo que tu os visses....» Aluna faz um aceno de concordância e incredulidade perante tal acontecimento.
Professor resigna-se «Pronto, deixa, trabalhamos com outra amostra hoje.»

Como a coisa aconteceu realmente
Aluna chega ao laboratório, vinda da rua, onde pairam uns 5ºC. «C'um c%&%lho, estão aqui a esconder um morto óquê? Muito gostam estes gajos do frio...» Professor entra. «Olá estás boa? Vai lavando essa amostra que eu já venho.» Aluna acede, enquanto pensa «Yes, sir! Os seus desejos são ordens! É uma lavagenzinha que quer, é uma lavagenzinha que tem. Considere o trabalho feito. Venha de lá esse 20! E um cafezinho, não? Vou lá abaixo num instante e tem um café em dois segundos. Sabe outra coisa que faço muito bem? Limpar gabinetes. Não? É só lavar a amostra, não é verdade? Então é isso que vai acontecer. Mas disponha sempre.» Professor sai. Aluna repara que tem as mãos a cair porque o frio é assim uma coisa por demais. Aluna resolve lavar as mãos. «Deixa-me cá lavar as mãos que esta gente que anda nos autocarros tem toda ar de quem é um antro de doenças. O seguro morreu de velho. Saiam, micróbios, saiam. Tomem lá esta águinha a ferver a ver se não saem daí a correr. Que unhas lindas que eu tenho... Tenho que comprar um verniz. E acetona. E algodão. Epa esqueci-me de carregar o telemóvel! Pode ser que me consiga escapulir daqui mais cedo e passo na papelaria. Se bem que vou levar meia hora para explicar à mulher que só quero carregar o telemóvel... Enfim... Ah sim, lavar a amostra. Vira, torna a virar, nadem um bocadinho, bicharocos. Parece que estão nas Caraíbas, não é? Quem é vossa amiga? Prontinho, está feito.»
Professor volta daí a 10 minutos. Professor debruça-se sobre a amostra. «Não acredito... Estão todos deteriorados. Hoje até baixei a temperatura do laboratório para ver se eles aguentavam, mas nem assim. São muito sensíveis ao calor. Hoje queria mesmo que tu os visses...» Aluna faz um aceno de concordância e incredulidade perante tal acontecimento ao mesmo tempo que pensa «F#"a-se que f#"i os bichos. Por favor, por favor deus, faz com que ele não descubra que fui eu. Quem é que posso culpar? A senhora da limpeza? O rapaz do doutoramento? Aqueles outros dois Erasmus? QUEM, meu deus, quem?»
Professor resigna-se «Pronto, deixa, trabalhamos com outra amostra hoje.» Aluna respira de alívio.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Há um motivo para não termos falado das actualizações do nosso Learning Agreement ainda. A verdade é que isto de fazer Erasmus é tudo sempre muito bonito na teoria, "ai que ramboiada que vai ser, ai que vou andar 6 meses sem fazer ponta de corno, ai que não ter aulas é que é bom", mas na prática, quando vem a conversa das equivalências, é que a porca torce o rabo (e, juro, isto é uma metáfora mais do que adequada). Vamos lá ver, estar de Erasmus é quase a melhor coisa do mundo, porque é (ou não estivessemos nós constantemente metidas em situações caricatas!). Agora, dá algumas dores de cabeça (não, não estou a falar das ressacas. Quer dizer, ontem não foi fácil, confesso...).
Nós, pequenas aprendizas de cientistas, viemos para a Cracóvia com uma anedota de Learning Agreement que, surpreendentemente, foi aprovada. Tanto em Portugal, como na Polónia. Ninguém sabia de nada na nossa faculdade, "ai que vocês são as primeiras que vão para lá, não sabemos bem como aquilo funciona, vamos ver, vamos ver e ah! é preciso entregar o Learning Agreement entretanto". Mentira, não fomos nada as primeiras, aliás, muito nos ajudaram os pequenos que cá estiveram o ano passado!
Fomos obrigadas a traduzir a lista de cadeiras que estavam no site da Universidade Jaguelónica (com a ajuda do Google Translator, pois claro) e seleccionar as que eram mais parecidas com as que iríamos ter lá no 1º semestre. Claro que foi tudo muito em cima da hora e as professoras que estavam a "coordenar" "deram-se ao jeito" e assinaram aquilo às três pancadas. O pior veio depois, quando cá chegámos (sejam inteligentes e digam comigo: lá - Portugal, cá - Cracóvia, bom).
Queriam porque queriam impingir-nos uns cursos tais como: A Polónia e o Holocausto (= venham masé visitar Auschwitz pelas nossas agências de viagens e deixar cá o belo do euro), Polaco 101 (= só vão estar cá 6 meses mas é importantíssimo que aprendam esta língua que é tão fácil e bonita, ah! e sim, têm de largar o belo do euro para isto também), Cultura tibetana (= wtf?!), Mysticism: Indian and the People of the Book (= não deu para traduzir, é isto), Será que a Europa está a ficar Americanizada? (= yup, isto é uma cadeira), The Special Relationship Britain and the United States from the II World War to the War on Terror (= pois não sei mas isto de relações especiais não abona a favor da Queen Elizabeth II, parece-me), e isto continua.
Logo quando chegámos fomos ao ISO (Gabinete de Relações Internacionais), tratámos do cartão da universidade e perguntámos: "Então e agora?". Lá começou o Krystofzinho com a conversa dos cursos em inglês que não interessam a ninguém (a ninguém de ciências pelo menos), que eram muitos, de várias faculdades, bla bla bla... Tivémos de fazer cara de más "Não está a perceber. Biologia, onde é?", ao que este nos responde: "Pois, não sei muito bem, vão ao... Institute of Environmental Sciences?, acho que traduzido é isso, e peçam para falar com a Professora Malgorzata qualquer coisa-qualquer coisa e pode ser que resolvem isso". Olha, obrigadinho e ala que se faz tarde.
Depois de 2 autocarros e uma hora de caminho, lá chegámos ao KAMPUS UJ, um desCAMPado. A custo, vimos uns edifícios longíquos (a custo porque chovia e fazia um vento dos diabos) que eram empresas de pesquisa científica, bom demais para ser uma faculdade, portanto. Voltámos para trás e lá estava a paragem que dizia "qualquer coisa-qualquer coisa-Biologii-qualquer coisa". Edifício fofinho, amarelito, promissor, entrámos. Fomos à recepção e, depois de muito gesto, lá conseguimos encontrar o gabinete da senhora, quer dizer, encontrámos a porta-que-dava-acesso -ao-corredor-onde-era-o-gabinete-da-senhora. Que, claaaaaaaaaro, só abria se passassemos o cartão no aparelhinho. Não temos, vá de tocar à campainha (aquilo estava tudo escrito em polaco, mas era de certeza uma campainha!). Ora, vem de lá uma miúda, pouco mais velha do que nós, que toda ela era esbracejar e terror estampado na cara (acho que a vi arrancar um cabelito ou dois enquanto vinha abrir a porta): "ai não toquem aí, por favor, que isto dá tudo em doido, não leram o papel? ah, pois não falam polaco, coitaditas, mas não voltem a fazer, está bem?". Está bem, a Malgorzata? "Ai venham venham, eu sou a assistente" (isto soou-nos a "eu sou a bitch dela ando a ver se me safo no PhD lambendo-lhe um bocadinho as botas").
"Olá, nós somos estudantes de Biologia em Portugal, estamos de Erasmus, queríamos perg..."
"Portugal?"
"Sim, chegámos ontem, fomos ao ISO e mandaram-nos vir aq..."
"Esperem lá, eu não tenho conhecimento de ninguém que venha de Portugal..."
"O QUÊ?!"
"Pois, não tenho aqui informação nenhuma. Têm o vosso Learning Agreement convosco? É que não recebi nada. Que estranho"
"Sim, está aqui mas isto..."
"Ai mas estas disciplinas são todas dadas polaco, onde foram arranjar isto?!"
"Pois, é que na nossa faculdade não sabiam muito bem como proceder então como tinhamos prazo de entrega para isto tivemos de improv..."
"Não, não, não. Que desorganização! Isto não é normal, então mas mandam-vos para aqui assim? Vocês vão ter de fazer um projecto, quer dizer, isto se eu ainda arranjar alguém que vos albergue porque vocês deviam-nos ter contactado logo quando souberam que vinham mesmo para cá..."
"Sim, nós escrevemos para os Departamentos de Zoologia e Botânica mas ninguém nunca nos respondeu e não sabíamos bem..."
"Qual departamento de Zoologia, vocês pertencem é aqui no Instituto! Vou ter de falar com a vossa faculdade, isto não pode ser!"
"Sim, nós sabemos mas..."
"Vocês têm casa aqui já? E as bolsas, receberam-nas?"
"Errr, sim, estamos na Piast. A bolsa havemos de receber..."
"Hão-de receber?! Ai que não me acredito, que falta de.... nem sei. Olhem, agora não têm de se preocupar mais. Têm aqui uma mãezinha polaca, sim porque eu tenho filhos, eu sei como é... Amanhã vão ao nosso site e enviem-me um e-mail com áreas da vossa preferência que tento ver o que vos arranjo"
Mandámos. E ela arranjou. Dois projectos da mais alta complexidade que para aí anda: 1 - separar larvas de insectos (para a nossa querida aspirante a Bióloga Marinha), 2 - dar comida a passarinhos (para a mais bonita das estudantes de Biologia Ambiental Terrestre).
Entretanto, desencantámos uma cadeira dada em Inglês, para licenciaturas, Ecologia Tropical (3 horas, à 6ª feira, do mais enfadonho que há) e agora, a nossa coordenadora fofinha de Portugal quer que façamos mais. Hoje fomos inscrever-nos na cadeira de Life History Evolution que, curiosamente, é para alunos de doutoramento.
Sim, em 5 cadeiras de Biologia dadas em Inglês, 1 é a de Licenciatura, outra é para o 2º semestre, e as restantes são ou de Mestrado (já começaram há séculos) ou Doutoramento (dia 15 lá estaremos). Estamos também incumbidas de ir a seminários todas as quintas-feiras e, é claro, TODOS exigem conhecimentos da cadeira a que chumbámos o ano passado, Genética. Adoraaaaamos estar de Erasmus! Hoje até há concerto de Jazz com cerveja de meio litro a 1euro. Amanhã, report for duty. Gosto tanto de passarinhos...

Aqui entre nós que ninguém nos ouve,

as princesas já têm bilhetes para ir a casa no Natal. Xiu.
Mãe, quero carne sim? Muita carne. E o belo do bacalhau. E o peru. Se arranjares umas Super Bock e umas Sagres também não se estragam. Doces então... não te contenhas.

domingo, 24 de outubro de 2010

Conversas de fim de noite

Três da manhã, à espera do 601, avistamos um homem que tem uma aranha desenhada no casaco. Parecendo que não, isto tem pano para mangas para uma conversa absolutamente desnexada mas que, ainda assim, dura qualquer coisa como 5 minutos. A verdade é que não é qualquer pessoa que tem esta capacidade.

«Olha ali o Homem-Aranha. Peter! Peter Parker!»
«Cala-te que as pessoas aqui percebem o que é Peter Parker.»
(Olhando para o céu) «Achas que vai aí aparecer o Duende Verde? Ou o Sandman
«Aparecer por aparecer, que apareça o Surfista Prateado...»
«Oh estás a misturar duas histórias...»
«Ah pois, esquece.»
«Acho que lhe vou perguntar como é que está a MJ...»
«Para isso, mais vale perguntares pela Aunt Petunia e misturas três histórias.»

terça-feira, 19 de outubro de 2010

À atenção do quem espalhou o rumor de que ia nevar

Então é assim: isto de atrair pessoas para a Polónia com a conversa do venham-venham-que-isto-é-tão-lindo-que-temos-muita-neve-e-montanhas-e-coisas-que-só-visto tem que acabar. Assim como o estarem desde sexta-feira a dizerem que no fim-de-semana neva. Nop, não foi no Sábado... Também não foi no Domingo. Segunda? É segunda, sim senhor. A verdade é que já é Terça e não estamos a achar piadinha nenhuma à brincadeira. A brincar, a brincar fomos a correr comprar casacos e botinhas para estarmos preparadas quais Yetis e neve q'é bom, é mentira.
Parecendo que não, uma pessoa sai à rua, sente o pé a escorregar e começa aos saltinhos «É neve, é neve, eu sabia, olha, olha é neve, está a nevar!» e afinal não. É só a falta de coordenação a trabalhar. Sente uma gota na cara e «Pumbas! É hoje, ainda bem que trouxe o meu gorro e as minhas botas!» e não. É só a varanda de alguém a deitar água. Acorda e vai à janela e quando a outra já se está a levantar aos tropeções para ver a neve, não. Está só muito nevoeiro.
É o passar dias e dias a ir à varanda meter a mãozinha de fora, é o ir buscar uma cadeira e sentar-se à janela, o ansiar pelos bonecos de neve, pelos anjinhos no chão, o imaginar como será andar com neve até à cintura e nada. Só chove. Se há coisa em que a Polónia é boa, é na arte do chover. Ui o que este país chove. Neve? Neve não. E os nossos pequenos corações esmorecem com o passar dos dias. Que Sol não há, não o vemos há três semanas. Se não for a neve para nos animar, qual é o sentido da nossa existência?
Portanto, vamos lá deixar-nos de brincadeiras e carregar nessa neve que é para isso que nós cá estamos. Já estivemos bastante mais longe de pedir o Livro de Reclamações.

domingo, 17 de outubro de 2010

Já agora...

Round 3 (o que é de um rally sem o round 3?)
Aproveitámos o andamento e fomos comprar tabaco. Pediram-nos identificação.
Só na Polónia...

Adenda: Calma, calma... Não NOS pediram identificação, pediram à que, de nós, envergava um bonito abafa-orelhas da Hello Kitty. Está percebido?

Rally dos hospitais

Nós descobrimos a modalidade mais praticada aqui em terras cracovacas. E só precisámos de uma constipação de caixão à cova, com dores de garganta e ouvidos para o fazer. Muito fácil. E muito, muito divertido. Esta modalidade chama-se Rally dos hospitais.
Requisitos: estar doente, quanto mais melhor, dá mais pica à coisa; não falar polaco (se se souber falar polaco, a coisa perde toda a piada); ser estudante estrangeiro; ter uma certa propensão para ser enganado e muita paciência.
Round 1
O jogo começa com uma ida ao so-called hospital para estudantes só para pedir uma receita com uns medicamentos que nos tirem a assface com que fomos acometidas. E lá vamos nós em direcção ao dito, o que, ao que tudo indica, não nos levará mais do que meia horinha. (Aaaahahahah otárias...)
Chegamos, queremos registar-nos, mas é aqui que começa o giro da situação. Cartão Europeu de Saúde para cá, Cartão Europeu de Saúde para lá e a-senhora-não-faz-puto-de-ideia-do-que-isto-seja-não-é-verdade?, sim-eu-tenho-quatro-nomes-desculpe-lá-já-vou-ralhar-com-os-meus-pais-por-terem-tido-ideia-tão-descabida and so on, and so on. Fazemo-nos valer das almas caridosas e faladoras de Inglês que andam no pedaço e ganhamos uma considerável vantagem sob todos os outros. Tentamos registar-nos e, por intermédio de gestos e rapazes simpáticos e prestáveis, ficamos a saber que nos encontramos numa unidade de saúde privada que funciona, como todas, na base do queres-ser-tratada-arrota-60zl-para-a-instituição.
«Ok, obrigadinha, mas não, onde é que há aqui uma porcaria de um hospital público?»
«Ah... Não há.»
«Não há? Como não há? Não há hospitais públicos nesta cidade?»
«Há pois, mas fecham às sete da tarde.» Ah pois, muito bem então. Quem vê qualquer coisa de muito estranho em as unidades de saúde públicas fecharem à noite, ponha a mão no ar.
«Então, mas oh amigo, se eu estiver a morrer durante a noite, adio a coisa para as nove da manhã?»
«Pois, não é? Lá terá que ser...»
É aqui que a brincadeira começa a ser uma rambóia, uma Meca do divertimento. Pagamos os 60zl a custo, o rapaz preenche a nossa ficha (ficando a saber a nossa história clínica toda e quantos sinais temos no corpo todo) e vamos esperar para a salinha. Entramos no consultório e a médica não fala Inglês. Fazemos umas contas de cabeça e sabemos que o mais provável é sermos auscultadas, o que implica ficarmos em pelarota e decidimos que se calhar não é boa ideia ir chamar o rapaz para traduzir a conversa nós-médica. Rapidamente chegamos à conclusão que a coisa só lá vai com gestos e agora deixamo-vos dar asas à vossa imaginação acerca de como foi a consulta e o rigor com que os medicamentos foram prescritos. Adeusinho-boa-noite-não-tire-um-curso-de-Inglês-não-que-não-é-preciso e farmácia com elas.
Round 2
Aqui é que começa o difícil desta prática. Começa se, e só se, os remédios receitados outrora não fizerem qualquer espécie de efeito até porque o mais provável é serem para curar micoses nos dedos dos pés. Sabemos que existe outro hospital (público, ai não!) e que é mais ou menos na Rua X. Lá vamos nós de mapa nas mãos a arrastar-nos, a espalhar germes por toda a gente que se cruza connosco e chegamos ao nº19. Entramos, mas que não, não é aqui, é na porta um bocadinho mais ao lado. Atentamos, contudo, que esta instalação do hospital tem um leve cheiro a matéria a decompor-se e atiramos a eventualidade de ser a morgue. Nada a temer.
Entramos na porta ao lado e vamos à recepção para nos registarmos mas aquilo tem escrito por cima qualquer coisa como «Cirurgia». Fazemo-nos de mortas, fingimos que não vimos, que não é nada connosco, queremos acreditar que entrámos no sítio certo. Sentamo-nos e perguntamos a um rapaz se aquilo é o hospital. Que não, não é bem ali ainda, um nadinha mais ao lado. Aaaah quase, estamos quase.
Terceiro portão: aparece um senhor a gesticular e a falar polaco. Tomo aqui a liberdade de traduzir o que me pareceu ser um «Mas onde é que vocês pensam que vão, minhas vadias? Isto não tem nada para vocês verem, bazem daqui se não querem levar com um chumbinho nesses costados.»
Quarto portão: sim, tem que ser aqui, há ambulâncias. Escusado será dizer que entrámos precisamente por onde entram as ambulâncias, uma espécie de garagem. Não encontrávamos a porta, you see. Recepção. Aceitam-nos os cartões sem mais conversa. «Sim sim sim, é aqui, é aqui, é aqui.» enquanto saltamos histericamente e a bater palminhas. A senhora faz a ficha (numa média de 12 minutos cada campo de preenchimento) e venham comigo que já vos levo lá. Isto parecia bom demais para ser verdade. E era. Andámos de salinha em salinha e, às páginas tantas, aparece-nos uma médica que nos diz no seu melhor Inglês «Nop, não é aqui, minhas meninas. Isto são só urgências. O que vocês têm que fazer é marcar consulta num médico da especialidade e vão lá. E isso não é aqui, é na porta um bocadinho mais ao lado, na morada tal. Para aqui só vêm se se estiverem a esvair em sangue. Vá, vão lá à vossa vidinha e amigas como sempre.» Caem-nos os queixos, saimos dali, chamamos uns quantos nomes a tudo o que se cruza connosco,vais-ao-médico-vais-vou-lhe-masé-à-boca-e-a-estes-paneleiros-destes-polacos-todos-mais-à-p%&a-c'os-pariu e entramos no primeiro BurguerKing que nos aparece à frente, curar a constipação.

(já que estamos numa de actualizar isto)

Cracóvia desafia-nos constantemente. Estão a ver aquele jogo da "Verdade ou consequência"? Pronto, é mais ou menos isso, só que estamos sempre a escolher consequência e nem damos por ela. Não, não queremos desesperadamente saltar para cima de um gajo sem termos de nos justificar nem descobrir os seus segredos mais sórdidos. Na verdade, a maior parte das vezes só queremos ir às compras ao supermercado. O problema é que, para além de estar tudo escrito em polaco, os empregados só falam a-língua-que-não-exige-respirações-intervaladas. Agora, pintem o quadro. São horas e horas de observações exaustivas às prateleiras do Carrefour, ou do Biedronka (baratinho baratinho, uma das nossas mais recentes descobertas. Obrigada, Jerónimo), ou do outro sem nome.
Primeiro que conseguíssemos distinguir natas de iogurtes... Muita comida estranha se fez nestas cozinhas... E muito bom senso tivemos nós em não arriscar no atum. Ah pois, que aquilo está perigosamente perto dos Whiskas saquetas ou lá como se chama a comida de gato aqui. Portanto, não há cá "comida do estudante" (esparguete e atum para os mais velhos). Há sim duas Marias que não dão uma para a caixa na cozinha (ou não davam!) a fazer os mais belos cozinhados (ele é rolo de carne, francesinhas modificadas, bifes de peru do melhor que há) . Vá, os noodles também são muito nossos amigos. Eles e o McDonald's. E os kebabs. E os zapekankas.

(A bonita despensa que já possuímos. Tudo com um nível de bom-gosto acima da média.)

E falando em kebabs, temos uns amigos turcos do mais simpático que há. Impingiram-nos o chá e agora não queremos mais nada, quer dizer, também gostamos das tortas, das bolachinhas e de todos os doces que nos queiram oferecer. Quando quiserem, já sabem, um andarzito acima.
E falando em andares... Isto cada andar tem um hall grande com duas cozinhas, uma sala do lixo (don't ask), uma sala trancada onde se pratica sexo louco, não, mentira, está trancada não sabemos o que é, e umas quantas portas que dão para dois quartos. Ora quer isto dizer que partilhamos um outro mini (mas mini) hall com o quarto do lado, ah sim, e partilhamos também uma casa de banho (que está sujaaaa e ninguém se chega à frente para limpar. Ouviram?!). Acontece que isto de partilhas seria muiiiiito bom se fossem com dois polacos giros e altos e descomprometidos que acordassem de manhã e fossem ver o tempo à varanda (comum, claro) ainda em boxers. Bom não. Muito bom. Mas não. Em vez disso, temos uma californiana com a mania que é gente e uma húngara intrometida e com riso estridente (esqueci-me, também é um bocadinho esfomeada).

A Piast, em si, é um pequeno mundo. Não apenas pelas quantidade de gente com diferentes nacionalidades em que uma pessoa esbarra, mas também porque é quase uma comunidade auto-suficiente. Ele é cabeleireiro, ele é cantina, ele é café, ele é lavandaria, ele é restaurante chinês, ele é Correios, ele é papelaria. Só não tem uma farmácia (e o jeito que já nos tinha dado). A cantina é assim uma espécie de sopa dos pobres porque toda a gente com aspecto duvidoso lá vai parar. Nós fomos lá uma vez, mas já sabemos que, da próxima, temos que escolher o outfit apropriadamente para eles não acharem que somos as princesas cá do sítio e nos açambarcarem todo o qualquer bem que levemos connosco. Calças de fato-de-treino e t-shirt a dizer «15ª Meia-maratona de Fornos de Alqueide» vai muito bem. E temos mais um problema neste mundo que é a cantina da Piast. As senhoras não falam inglês, pasmem-se. A ementa não está em inglês, dá para acreditar? Pois que estamos destinadas a comer sempre o que a pessoa da frente come. Isto porque a pessoa pede e nós apontamos «The same. A mesma merda, vá.». Correu bem. Até ao dia...
Só mais uma coisa para terminar o raciocínio: frigoríficos, q'é isso, gentes polacas? Frigorífico, por estes lados, significa chão-da-varanda-que-com-sorte-se-há-de-encher-de-gelo-e-então-aí-sim-talvez-possamos-comprar-iogurtes-e-fruta-e-pizzas. Por enquanto, está assim:


Diz que sim, que a Cracóvia é muito bonita, as pessoas afáveis e o tempo uma maravilha. Pronto, bem-vindos à Cracóvia.

Passemos então ao que de facto interessa que são as experiências que sucedem aqui às princesas. Coisas que, temos para nós, não acontecem a mais ninguém. Já desenvolvemos inclusivamente uma teoria que é mais ou menos isto: os polacos estão todos feitos uns com os outros para nos colocar nas situações mais embaraçosas que existem. Achamos que há uma câmara a seguir-nos há coisa de um mês. Uma espécie de Big Brother mas em bom. Uma coisa que depois passa na televisão polaca. E somos a nova sensação cá do sítio.
Comecemos então com um episódio que sucedeu há qualquer coisa como duas semanas. Enquadramento: nós, às 2 ou 3 da manhã, na paragem do autocarro à espera do nosso 601 para virmos repor energias a casa que é como quem diz, dormir que nem lontras. Pois que chega uma rapariga toda ela muita base, muita purpurina, muito rímel e muito de outra coisa qualquer que lhe fazia as pestanas terem 5 cm de comprimento. That's fine to us. Pois que a moça mete conversa connosco num tom de voz muito a atirar para o psycho-o-que-eu-vos-fazia. E que está em Cracóvia há muito pouco tempo e que estuda Psicologia e que trabalha num clube que nós, vai-se a ver, e até conhecemos. Diz o nome e nós que não, ainda não conhecemos, mas também estamos cá há pouco tempo. «Eeer... It's a strip club.» «Aaaah bom, confere então.» E a partir daqui, descambou. Que faz muito dinheiro, que devia deixar de fumar, que já perdeu muitos homens por causa do tabaco, mas, coitadita, é um vício. Que adooooora Portugal do fundo do coração, aquelas praias, ui que bonitas que são, e que é um país muito bonito, com mulheres muito bonitas. «Ah então já lá foste?» «Não.» «Pronto, está bem.»

A moça pergunta «E vocês estudam?» Nós que sim. «Então e trabalham?» Nós que não. «Então e gostavam?» Pumbas, já chegámos ao que interessa. Amiga, com toda a consideração que o teu trabalho nos merece, não estamos interessadas em entrar no showbiz no ramo da dança exótica. Prioridades. Mas ela continua a dizer que aquilo dá muito dinheiro e quando uma de nós (vejam lá se sabem qual) começa a pensar que se calhar não era tão mau quanto isso e até se propõe a perguntar «How much exactly are we talking?», chega o autocarro. Aaaargh, fica para a próxima. E pronto, foi esta a nossa rápida incursão do mundo dos strip clubs.

domingo, 26 de setembro de 2010

Let the party begin II

Dia 22, a chegada

Depois de 2 horinhas e de uma dor de pescoço que não vos passa pela cabeça, lá aterrámos em solo polaco. Passámos a fronteira a custo e quando demos por nós já cá estávamos fora. Cracóvia. Quer dizer, os campos de cultivo da Cracóvia. Pronto, Cracóvia - a aldeia. Entre uns «Eu NÃO me acredito, q'é dos monumentos, q'é dos prédios, q'é das praças, q'é dos autocarros, q'é das pessoas sem aspecto de vou-ali-plantar-milho-e-ordenhar-as-minhas-vacas?» e uns «Oh não, vamos ser agricultoras, pronto. Vamos entrar no avião outra vez discretamente e fingir que nos enganámos na paragem.» lá fomos, em estado de choque, a hiperventilar e a tremer para dentro do aeroporto, à espera da Joanna (uma das mentoras). Uma horinha à espera, mais coisa menos coisa, que isto de fusos horários faz com que as princesas, habituadas a não se preocupar com essas ninharias, combinem mal as horas.

Depois de um autocarro, um comboio, um táxi e conversa de circunstância lá chegámos àquele que vai ser o nosso poiso durante o próximo semestre. A entrada é gigante, a recepção idem, falar inglês é que 'tá-quieto. Nem inglês nem coisa que se assemelhe. Falam polaco e sabe deus como. Dando graças aos céus por termos a Joanna connosco, lá fomos ao gabinete-onde-se-trata-dos-papés-e-onde-se-paga e tratámos dos papéis e pagámos. Prontinho, aqui está a vossa chave, ala que se faz tarde.

«Uh como é que será o quarto, como é que não será? Achas que é mesmo como nas fotografias? Achas que temos uma mega varanda? E o armário? De que cor é que serão as colchas? E as paredes?». Abrimos a portinha e... nada. Fechamos a porta, voltamos a abrir, na expectativa de que tivéssemos sofrido uma daquelas ilusões em conjunto, que as há, há. Não, tudo, na mesma. Fechamos a porta, olhamos para o número da porta - xyz. Olhamos para a chave, de certeza que nós enganámos. Nop... - xyz. Piscamos os olhos uma vez. Olhamos uma para a outra e cá vai disto, estamos no nosso quarto. Pois bem, é complicado de explicar. «Eeeh exageradas, não pode ser assim tão mau.» pensam vocês. Pois... Pode. Se tiverem em mente aquelas instalações que datam da II Guerra Mundial, umas camas que não são camas, são sofás desdobráveis, armários que são qualquer coisa de assustador porque não se lhes avista o fim (e têm de certeza qualquer animal lá adormecido), uns cortinados arranjados à pressa, amarelos do Sol, uma canalização que parece prestes a explodir, umas prateleiras que não vêem um pano do pó desde 1945 e umas cadeiras que têm tétano escrito em tudo quanto é lado; pronto, têm uma descrição bastante fidedigna do nosso quarto. Alguém morreu de overdose nestas camas, isso é limpinho.


(é de atentar que aqui já tinhamos dado um bocadinho o ar da nossa graça ao quarto, já tinhamos inclusive feito as camas, já estavámos abastecidas, etc etc)

(aqui então... já estávamos em casa)

Let the party begin

Pronto, não era mentira. Eis-nos em terras polacas há já quatro diazinhos. Podemos mesmo dizer que já dominamos o sítio. Mas comecemos pelo princípio....


A Viagem

Partimos de Lisboa no dia 21 às 20h e deixámos para trás muitas lágrimas, muita promessa de nos portarmos condignamente, mas, acima de tudo, muita roupa. E quem diz roupa, diz sapatos, toalhas de banho e necessidades várias. Ora e isto porquê? Porque escolhemos viajar numa companhia de low-cost (que, para futuras referências, começa em Easy e acaba em jet) e que é muito bom e poupamos dinheiro que é uma coisa louca, mas que nos obriga a levar 20kg de bagagem e mai nada. Mesmo que tenhamos pago uma mala extra. E quem é que informou as iluminadas que uma mala extra não é equivalente a 20 kg extra? A Easyjet não foi de certeza. Portanto, se algum de vocês passou pelo aeroporto de Lisboa entre as 18h e as 18h30 de terça~feira viu, com certeza, muita camisola a voar, muita cueca e muito sapato. Pois que ficou tudo em Lisboa. O que faz sentido, porque é lá que a nossa roupa deve estar, sim senhor. Meia horinha chegou para reduzirmos 40 kg de bagagem a 20. Nada a temer. Mas também quem é que nós queríamos enganar? Até parece que podíamos embarcar na paz do senhor, sem nenhum contra-tempo.

No meio desta azáfama, aparecem os amigos, os de sempre, que tinham dito que lá estariam, mas que, com o passar das horas, já não tínhamos assim tanta esperança que aparecessem. Mas apareceram e fizeram eles muito bem. (Não ia ser bonito, quando voltássemos, se eles não tivessem ido dizer-nos adeus ao aeroporto!). Fofinhos que só eles. Dividimos os abraços, as lágrimas e os «Eu disse que não ia chorar.» entre eles e os nossos pais.
No entanto, não podíamos embarcar sem antes dar, mais uma vez, ar de nossa graça. Ora claro que quando chegou a parte do mítico detector de metais foi ver-nos, mais uma vez, tirar botas, camisolas, casacos, mochila, computador, televisão (don't ask) e ser cortejadas (not that much) pela senhora da segurança. Quem é que não gosta de uma última marmelada na hora da despedida?

Last call, ou não seríamos nós, e lá entrámos no avião rumo a Luton. Acho que é escusado dizer que não conseguimos ficar juntas, o que não nos impediu de partilhar imensas pérolas quando, finalmente, aterrámos. Ora, é que esta bela companhia aérea não só é uma autêntica feira da ladra no exterior como também o é no interior. Eles são quase uma loja dos chinesas, mas cara, é que vendem de tudo (tudo mesmo). Se tiverem hipótese, vão assistir a esse belo espetáculo que é viajar pela Easyjet, o último número então é de rir e chorar por mais; quem disse que andar às voltinhas no céu, em mil diferentes 'approachs', a tentar aterrar, não é engraçado?

Enfim. Passemos para Luton. Aquilo não é Londres, amigos, mas é que nem de longe, nem de perto, aliás, muito menos ainda de perto. Trata-se de uma zona industrial, onde está frio, muito frio, onde os carros são ao contrário e andam ao contrário (ok, aqui até parece Londres, mas parece só), onde os taxistas são marroquinos (ou paquistaneses) e mentirosos e onde existe um Hotel bom. Mas, e se isto não tivesse um mas não era escrito por nós, serve um pequeno-almoço horrível. Resultado, as princesas dormiram coisa de 5 horas numa caminha que era a coisa mais confortável do mundo, acordaram, não comeram (atentem, por favor, nas horas que passámos sem comer!) e seguiram para o aeroporto. Isto depois de esperarmos por um taxi que não apareceu e ouvirmos a história de vida do taxista suplente.
Outra coisa, tenho para mim, inclusive, que fomos enganadas no câmbio de euros para zlotys (quer dizer, euros-libras-zlotys) mas pronto.
Quanto à viagem Luton-Cracóvia, foi muito mais sossegada (mal fora, viemos a dormir que nem koalas). É claro que tivemos direito ao espetáculo Easyjet on air once again mas como foi protagonizada por male (ahahahaah, está bem) hospedeiros (imaginem as demonstrações das saídas de emergência..), foi menos mau. Mentira, foi mau na mesma mas nós estávamos com demasiado sono ainda.