quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

«Frio? Pfff isto ainda não é nada!»

O próximo polaco a dizer que isto ainda não é frio à séria, corre grandes riscos de ouvir leves injúrias e, quiçá, sofrer danos físicos. Porque quando eu estou na paragem do autocarro durante quarenta e cinco minutos à espera do que já devia ter vindo mas não tem forma de aparecer, a -15ºC, quero é que os polacos se f&dam com as manias que só a partir dos -30ºC é que nos podemos queixar.
Vamos lá esclarecer uma coisa: nós vimos praticamente dos trópicos. Na nossa terra, só não há palmeiras e água de coco por uma niquinha de nada. De onde nós vimos, não há cá temperaturas de -20ºC (e se algum dia houver, fecham-se escolas, fecham-se hospitais, fecha-se o país, declara-se o estado de emergência e evacua-se todo e qualquer ser vivo para Espanha).
Para nós, frio é 0ºC e já é um ver-se-te-avias porque as pessoas deixam de sair de casa. Saber que estão -15ºC na rua, ver a neve a cair, o vento a levar tudo à frente e MESMO ASSIM (e reparem como é aqui que está o difícil da questão) sair de casa de manhã não é para qualquer pessoa. Só para os mais fortes de nós (nos quais nós as duas estamos notoriamente incluídas).
Portanto, a mensagem é esta: está frio sim senhor, deixem de se armar em maiores da aldeia que nós sabemos e vocês sabem que está um frio do c&aralho. Vão masé p'ó raio que vos parta e imigrem para a Sibéria se ainda não está bom. Se não está assim taaaaanto frio, se isto é só uma leve brisa invernal, por que é que andam todos que parecem bonecos da Michellin, hm hm hm? Aaaaaah!
Estúpidos.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Polaco e o Desvio

Que os polacos não são as coisas mais fofinhas e hospitaleiras que existem à face da Terra, já nós tínhamos percebido (salvo algumas excepções, verdade seja dita). Eles são assim meio «Chega p'ra lá, bicho-ruim-não-falador-de-polaco-e-que-portanto-deve-ser-enviado-para-Marte» mas nós desculpamos porque o clima aqui deixa uma pessoa assim... indisposta.
O que é necessário partilhar acerca dos polacos (e isto devia ser considerado serviço público) é que esta gente não se desvia. «Como assim, ilustres Trippers?» Nós explicamos: imaginem um passeio de coisa de um metro de largura. Vocês vão numa direcção e O Polaco vem na oposta. Num país normal, com pessoa normais (uma coisa assim como Portugal), cada um de vocês cede um bocadinho, desviando-se (coisa pouca!) e assim cada um segue o seu caminho feliz e contente, sem prejuízos de maior. Mas aqui não. Aqui, é a lei do mais forte que impera. O que for mais forte segue caminho, o outro badameco fica no chão a estrebuchar com a força do impacto. Nós, não-habituadas a estas regras, começámos por nos desviar da frente de toda a gente, metíamo-nos nas valetas, saltávamos para o meio da estrada, entrávamos num prédio, qualquer coisa para não ter um confronto físico desta envergadura.
Ora, tudo o que é demais enjoa, pois não é verdade? Decidi, há pouco tempo, que, na Polónia, há que ser polaco e vai daí comecei a não me desviar mais coisa nenhuma, que-vocês-não-são-mais-que-eu-e-raios-me-partam-se-não-hei-de-fazer-alguém-desviar-se-da-minha-frente. Pronto, aprendi que se eu continuar o meu caminho e não me desviar nem um bocadinho da minha rota, eventualmente O Polaco há-de ceder. E a coisa tem corrido bem.
O que eu devia saber é que o Karma não brinca e o Universo não dorme. Temos então que o Universo pensou mais ou menos isto «Queres andar a brincar aos carrinhos de choque, não queres?».
Hoje, ao vir para casa, num segundo vinha absorta nos meus pensamentos e, no a seguir, fui completamente abalroada pel'O Polaco. Caiu-me a mala. Eu podia tê-la fechada? Podia, mas assim o Karma não ficava com o sentimento de mission accomplished, portanto, ela ia aberta e fez questão de espalhar todo o seu bonito conteúdo na neve. E as pessoas a passar. Enquanto eu via estrelas e guinchava «Ai o meu ombro, tenho um ombro deslocado. Nunca mais sou ninguém, vou ficar sem o braço.», o anormal d'O Polaco, entre Pechépréchames (já falámos aqui disto?) e outros que tal, estava a agarrar as minhas coisas (tudo isto enquanto as pessoas passavam) com neve e com tudo e a juntá-las. «Ooooh pshtóoóó parou! Tira daí os presuntos que eu apanho tudo, não preciso de ajuda. Vai lá à tua vidinha, assassino.» E pronto, ele lá foi e eu segui o meu caminho, visivelmente transtornada mas com uma lição aprendida: na Polónia, podes ser polaco... Mas depois o Universo fode-te.

A única pessoa que nos prestou atenção! Unf!

Como já aqui foi dito, se há coisa que nos aquece os corações é vir no 601 a dizer mal de tudo o que mexe. Ou então simplesmente a dizer coisas estúpidas pelo prazer de dizer coisas estúpidas.
Se não, vejamos: «Não é fixe que, aqui, possamos dizer asneiradas atrás asneiradas com um ar sério e fazer as pessoas pensar que estamos a falar de temáticas de relevo para a sociedade?» ou ainda «Se eu gritar aqui «Vão todos para o car&lho!» ninguém vai perceber e ninguém me vai à cara. Olha, «PILA PILA PILA». Ninguém reagiu grandemente, viste?». E continuamos a ter mais ou menos este nível de conversa (mais ou menos porque pode descer, nunca subir), fazendo experiências com outras palavras num tom de voz um nadinha acima do desejável.
Às tantas, oiço um «Sorry» do meu lado esquerdo e rezo para que seja alguém a querer sair do autocarro. Mas não. Gelo. «What language are you speaking in?». «Hm ahah...» digo eu, com uma gota de suor a escorrer-me pela testa «Hm... Porquê? Que língua é que te parece...?» «Is it Swedish? It looks like Swedish.» Aaaaah ok. (E agora podia fazer conjecturas acerca do sueco como língua e dos bardajões que os suecos devem ser, mas não. Guardo-as para mim.) «Néeepia, it's Portuguese.» «It's... what?» «Portuguese??», respondo, abrindo os olhos muito expressivamente. «Ok...» Ah c/brão, não estás convencido que exista, não é? «I'm sorry, but Portuguese is from...?», pergunta a pobre alma, convicta de que eu lhe vou responder assim tão facilmente. «Frooom...?», digo. «Frooooooooom........?», diz ele. E eu desisto, que se há coisa que eu sei é reconhecer um caso perdido. «From Portugal, buddy. From Portugal...»

domingo, 12 de dezembro de 2010

A validade do meu passe dos transportes acabou ontem.

E eu hoje tinha (porque tinha; falem com a gaja do PhD de quem eu sou bitch) de estar na faculdade às 8h30 da manhã com muita vontadinha para trabalhar. Ora, para ir do dormitório até à faculdade são precisos dois autocarros, duas pontes, roupa a dobrar (tudo aos pares; duas camisolas, dois casacos, umas calças e umas meias-calças (!) e dois cuequedos quiçá), muita paciência e carradas de música no telemóvel. O primeiro trajecto faz-se tal qual uma rapidinha, coisa de 2 minutos, duas paragens e está-se no sítio. Para quê pagar bilhete? Tive sorte, não se aparattou (adoro ter autorização para ser nerd aqui no blog) nenhum "revisor". Quando apanhei o segundo autocarro não quis arriscar...
- A student's ticket, please.
- "Pchejsdbasd w sjdfnsd dsknaskdfnski (?)"
- Hmmm, bilet. Studenski. (cara de por favor, por favor, percebe-me e vamos lá embora que estamos a parar o trânsito!)
- (a fazer-me sinais) "Wejsnciajcjas asadkskdfsajan dwadzieścia pięć broche"
- Ahhh, broches! Já podia ter dito que queria dinheiro. Tome lá, um zloty e vinte cinco grozny (isto lê-se qualquer coisa como gróche, eu juro que tem piada!).

Nós ainda acalentamos a esperança de, numa futura viagem a Londres, dar de caras com o Daniel Radcliffe e com o Rupert Grint* numa avenue qualquer, eles apaixonarem-se por nós e quererem desposar-nos logo ali. É difícil de acontecer? É capaz. Mas nós gostamos de sonhar alto.
De modos que, em Julho, quando soubemos que o novo filme do Harry Potter ia estrear em Novembro, decidimos imediatamente que era uma coisa a ser vista na Polónia. Que esperar até Dezembro não fazia sentido nenhum.
Fomos, claro que fomos. Agora... Percebemos o enredo? Hm... Nem por isso. Como se não bastasse a merda do filme ter todo ele aquele accent do inferno e as legendas serem em polaco, ainda conseguimos calhar no meio de um grupo de miúdas (histéeericas) loucas que suspiravam e guinchavam a cada palavra dos actores. «Estas p&tas, daqui a pouco, voam. Têm legendas, as vacas, não precisam de ouvir.» A juntar a tudo isto, o cinema era de 1943, as cadeiras infligiram-nos severos danos na zona, portanto... do cu e ficámos mais ou menos a 87 metros do ecrã.
Aquilo que prometia ser uma experiência inesquecível tornou-se uma coisa a esquecer. Ficámos magoadas com o sucedido. A primeira coisa a fazer assim que botarmos os pezinhos em Portugal, é ver a porcaria do filme num cinema do século XXI, com pipocas, muitas, com anúncios em português e com legendas de gente. Na loucura, ainda o vamos ver dobrado para português.

* Se não sabem de quem se trata, fora deste blog! Xô!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Conversas de fim de noite #2 (ou de como descobrir se há um bully dentro de si)

Ontem à noite saímos da Piast e deparámo-nos com um boneco-de-neve com qualquer coisa como dois metros. «Oooh tão giro, vamos tirar fotografias e dizer às pessoas que fomos nós que fizemos!» (Aaaargh, já nos desbroncámos. Não fomos nós que o fizemos. Mas podíamos ter sido, que skills e jeito para trabalhos manuais não nos faltam.)
Adiante, este é o boneco.


Ao finzinho da noite, ao voltar para casa, uma de nós avista o boneco e tem uma ideia para lá de genial. «'Bora dar pontapés ao boneco-de-neve??», diz a F., com os olhos a brilhar. Ao que a sensata de nós responde «..... Por que razão é que eu haveria de querer dar... pontapés ao boneco, F.?». (E aqui entra a segunda parte do título deste post.) «Oh ele nem se consegue defender...»
Pronto, por hoje era mesmo só isto. Agradecidas.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

(Fofinha, this one is for you.)

(Nós íamos pôr o genérico do «Perdoa-me» da Fátima Lopes quando ela apresentava programas de merda, mas assim vai sem nada. Mas com muito sentimento.)

Isto já vem um nadinha tarde, mas mais vale tarde que nunca, pois não é? Pois que nós, imberbes pessoas, más pessoas, esquecemo-nos que a Fofinha fez anos. Merecemos umas chicotadas.
A Fofinha é uma pessoa de quem nós muito gostamos e que fez anos há uns dias. Nós esquecemo-nos do aniversário dela e, depois, enviámos-lhe um e-mail a desfazer-nos em desculpas, com um e-card assim muuuuito para lá de lindo que (achámos nós) derreteria o coração de qualquer pessoa. A Fofinha odeia-nos e tem todo o direito. A Fofinha é, como o nome indica, uma pessoa muito, muito fofinha que, depois de ver que tem um post dedicado aqui no estaminé, vai (achamos nós) perdoar-nos por sermos tão más pessoas. Que nós sabemos que somos. Mas a Fofinha também vai perceber que nós andamos aqui há tanto tempo e que temos muita, muita, demasiada vodka no sistema, bem como Okocim. Okocim é a cerveja DO INFERNO, Fofinha. Limpa-nos a memória. Um GHB mas em bom (ou em mau porque não nos garante acção. Olháá piada javardolas!). Pronto, já me alonguei mais do que devia.
Isto tudo para dizer: Fofinha, muitos parabéns e muitas desculpas. E muitos beijinhos de parabéns. (Isto, assumindo que ainda vens aqui ao blog, porque, mesmo nós sendo as más pessoas que somos, merecemos que tu te preocupes em ver se estamos vivas.)

(E se isto não amoleceu o teu coração, isto fá-lo-á.)

(Claramente que eu sou o Calvin e a F. o Hobbes. Ela é mais alta do que eu.)

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ora vamos lá a saber...

... quem é que foi o (filho da p&ta) fofinho que disse que vida de Erasmus não mete estudo. A sério, quem foi? Que se acuse para conversarmos um bocadinho. Uma coisa ligeira. Uma troca de impressões, quiçá uns pontapés e umas chapadas bem assentes intercalados com um bastão de baseball nos costados. Uma coisa de respeito, prometemos.

É que, parecendo que não, vem uma pessoa enganada, porque é disso que se trata, a achar que vida de Erasmus são seis meses de (xiba!) rambóia e, de repente, damos por nós a declinar convites para comparecer em festas dos alunos de Direito (Direito, minha gente! Dos que têm country houses e iates e empregados a magotes.) no Lux cá do sítio porque... porque... temos que estudar...? Mas nós vimos de Erasmus para estudar, é? É? É?!

O Diabo perdeu o frigorífico.

O que anteriormente era um problema porque não era frio o suficiente, tornou-se um problema porque passou a ser frio demais. Agora, a nossa varanda funciona como congelador. Não podemos lá pôr nada que apenas requeira frio e não congelamento. De um dia para o outro, o pacote de leite virou arma de arremesso (aaai o perto que estive de fazer um trocadilho com «arma branca»...). Portanto deixámos de poder comprar coisas que precisassem de frigorífico.
Tanto nos lamuriámos, tanto nos lamuriámos com a falta de um frigorífico, que tanta falta nos fazia, e o que nós gostávamos de ter leite em condições para beber e que tanto que nós gostávamos de poder comprar carne e guardá-la no frigorífico que alguém lá nos céus (yeah right) atendeu às nossas preces e nos mandou uma vizinha nova com um frigorífico em attachment. Vibrámos, saltámos, fizemos planos para o futuro. Que felizes que nós íamos ser com um frigorífico. A vida estava completa. Uma panóplia de opções surgiu diante de nós, um novo universo. Dividimos a vida em duas épocas: a.F. e d.F*... BALELAS! O c%r%lho do frigorífico faz um chavascal que não lembra a ninguém. Parece uma família inteira de besouros aqui na entrada a zumbir o dia todo. A noite toda. Noi-te-to-da. É o frigorífico do Demo. Mas ele não é parvo! É passivo-agressivo, o cabr/o! Está ali a zumbir, a zumbir, a zumbir baixinho que quase não se dá por ele, mas é ver-nos na cama à noite às voltas, a enterrar a cabeça na almofada, a tapar os ouvidos com os dedos, a cantar baixinho porque a merda do frigorífico não tira folga. Acordamos com os olhos raiados de sangue, só nos apetece bater com a cabeça nas paredes, cortar-lhe a ficha e atirá-lo janela fora.
Estávamos tão bem sem frigorífico...

A semente do Diabo.

* antes do Frigorífico e depois do Frigorífico

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

«Pão de trigo e linguiça para a merenda sempre dá para enganar a saudade.»

Quanto a vocês, não sabemos. A nós, ao lembrarmos Portugal, vem-nos imediatamente à ideia... bacalhau. Que mais? Quem diz bacalhau, diz um café (um café, senhores! Era tão somente um café que queríamos, um café curto, longo, o que fosse! Um café a que se possa chamar café e não esta mixórdia com que esta gente tenta iludir os nativos), uns tremoçozinhos, uns caracóis, na loucura. Mas Portugal é bacalhau. Mai nada.
De modos que tanto nos queixámos no Skype (esse grande senhor), tanto pedinchámos, tanta indirecta mandámos às mães que o bacalhau chegou. E nós que, outrora, gozámos com o facto de nos quererem mandar o dito pelo Correio, pulámos e guinchámos de alegria quando, ao abrir a encomenda, se nos começou a chegar o cheiro de um bonito bacalhau. (Ou três postas, vá, que se me chegasse aqui um bacalhau inteiro em meu nome, quem o ia buscar não era eu, 'certeza.) A acompanhá-lo vinha azeite, vinhozinho de mesa (yup.) e atum (que, aqui, comprar atum é coisa para requerer um curso superior). Quase nos vieram lágrimas aos olhos da emoção.
Cozinhar já foi outra conversa. Massa e arroz sabemos nós cozinhar, agora bacalhauzinho já é conversa para outros Carnavais... Mas como somos moças de QI (mais ou menos) elevado, fomos à internet e pusemo-nos a sacar receitas. Encontrámos uma simples que metia cebolas e batatas a murro e pareceu-nos a nossa cena. Aprendemos um novo termo. «Demolhar». Parece que se não se fizer isso ao bacalhau, ele fica intragável.
Fiquem com o resultado.



sábado, 4 de dezembro de 2010

A Roban

No post anterior falou-se da nossa ida a uma festa que tinha como tema o kitsch.
Ora, o que é o kitsch para leigas como nós? Pessoas vestidas com mau-gosto. Cores e padrões tudo à mistura. Quem nos conhece (ou, pelo menos, uma de nós) sabe que isto não representa desafio nenhum, pelo que decidimos botar mãos à obra e procurar no Tio Google que raio era isto de kitsch. E encontrámos muitas coisa, oh lá se encontrámos. Encontrámos filmes, músicas, loiça (quem é que se recorda daquela loiça-couve verde que há nas casas das nossas avós? Aaaah gozaram com isso, não gozaram? Isso é kitsch, suas bestas.), roupa e penteados (sim, penteados...) kitsch. A coisa confirmou-se: mau-gosto a barrotes, leggings, maiôs azuis eléctricos, perneiras, chumaços, flores, riscas, botões dourados e tudo quanto se quiser...
Nós, que somos pessoas que gostam de seguir dress-codes, não nos deixámos desmoralizar e partimos em busca da roupa kitsch perfeita. Pois que nos haviam indicado uma loja em segunda mão. Sim, uma loja em segunda mão.
Agarrámos em nós, metemo-nos na neve (e QUE neveão que caiu nesse dia) e fomos atrás da Roban (que ganha todo um novo sentido quando pronunciado como rrrroban com aquele enrolar da língua). A Roban é quase uma multi-nacional de roupa em segunda mão. A Roban tem roupa em segunda mão e, por conseguinte, a Roban cheira mal. Não é mal de «Ai quem é que mandou aqui um pantufos? Arejem o sítio.». É mal de «Jesuuuuus, quem é que morreu aqui?!» ou mal de «O Francis Obikwelu andou a correr os 100 metros trinta vezes e depois veio esfregar as axilas nas paredes e na roupa.» Cheira mal, pronto. Um cheiro a suor de vinte e cinco anos, um suor que se foi acumulando no estabelecimento e que só sai quando aquilo for demolido. Mas esta não é a característica mais inusitada da Roban. O mais giro na Roban é que a roupa compra-se... esperem.... compra-se ao quilo. (AHAHAHAH) Quando lá fomos, estávamos no início da nova colecção, portanto um quilo de roupa custava 55zl. A senhora (que, a título de curiosidade, tinha um farfalhudo bigode, uma coisa passível de fazer inveja ao Toni) disse-nos que, com o tempo, aquilo ia baixando o preço, chegando à módica quantia de 8zl/kg. Uma pechincha, meus amigos. E nós que sim, senhora, muito bem, vamos dar uma voltinha a ver se gostamos de alguma coisa. Os nossos olhos caíram imediatamente numa secção, cuja plaquinha dizia «RETRO». Ui que é já aqui que ficamos. Vira cabide, torna a virar, acho que vou buscar as minhas luvas que isto deve ter tuberculose e encontramos, entre saias e casacos vermelhos com renas, um casaquinho todo ele florido, botõezinhos dóóirados e um brinde. Um nome lá cosido. Até ver, a dona prévia deste casaco chamou-se Elin Svensson e deverá ter perecido algures numa casa de repouso durante a II Guerra Mundial. Como isto era bom demais para lá ficar, veio connosco para casa. A acompanhá-lo, duas camisolas tamanho XXXXXXXXXL com tudo quanto é cor para serem envergadas na festa. Ao todo, comprámos mais ou menos 1,5 kg de roupa.
Escusado será dizer que, assim que chegámos a casa, metemos tudo em cinco litros de detergente e deixámos marinar durante duas horas. E o cheiro saiu, sim. E nós fizemos sucesso na festa. Que, no final do dia, é o que interessa.




















Ora era kitsch que se pretendia, não era?
(Atento agora que a posição corporal é a mesma, não foi propositado.)

Ontem à noite fomos a uma festa na casa de uma amiga nossa. Nessa casa vivem 9 pessoas e apareceram mais de 50. A cozinha tem um balcão gigante, o que lhe dá um ar de bar. O tema era o estilo kitsch e ou ias em conformidade ou ficavas a limpar a casa hoje (e aquilo ficou um nojo, no-jo). Long story short, eram 23h30 e 5 litros de cerveja já tinham marchado (isto cada uma, não há cá meninos), acho que estamos a virar pequenas polacas nestas andanças de começar cedo e cedo tombar, dá saúde e.. qualquer coisa. Eles baixaram as luzes e, aquilo que antes era uma festa onde se comia chocolate e se tocavam umas modinhas portuguesas (que muito foram aplaudidas), virou uma orgia. Sim, uma orgia. Sem qualquer tipo de preconceito.
É nestas alturas que uma pessoa se toca (e não, não é no sentido javardo da coisa, acho eu) e percebe que está mesmo de Erasmus...

A nossa vida dava "um filme indiano"

Se algum deus existir, acreditamos piamente que não vai com a nossa cara. Ou isso ou estamos destinadas a viver momentos hilariantes que mais parecem uma anedota do Fernando Rocha. O pessoal ri-se para ver se a coisa fica melhor, mas nem fica.
No passado fim-de-semana íamos jantar com o Embaixador de Portugal em Varsóvia (note-se que em Cracóvia há embaixadas e consulados aos pontapés mas não, de Portugal não, já da Áustria sim, é aqui ao lado mas PRECISA de uma embaixada do tamanho de dois Colombos!). Continuando, jantar marcado para as 21h, na boa, apanhamos o comboio às 15h15 e em 3h estamos lá, a tempo de procurar o Portucale, restaurante, que deve ser monumental e bem no centro da capital, ou porque raio iria o Sôr Embaixador dirigir-se a uma espelunca?
Acordámos a horas decentes, o que é bastante difícil, quem nos conhece sabe, tomámos banhinho, aperaltámo-nos, qual casamento qual quê, enfiámos uns trapinhos nas mochilas e ala que se faz tarde. Saímos às 14h40 ou coisa que o valha e corremos para apanhar o autocarro que estava mesmo a passar. Ora bem, acção para a puta do filme! Um trânsito do deus me livre, o autocarro à pinha, nós apertadinhas contra a porta (não há cá bater coro, entras num autocarro destes e sujeitas-te a ser sodomizada/o como gente grande) e parado na avenida. PARADO. Isto podia acontecer noutro dia qualquer, a sério, mas não. Tinha de ser NAQUELE dia. Um percurso que se faz em 10/15 minutos, já eram 15h da tarde e nada.. Ideia de génio, sair na próxima e apanhar um taxi que há-de encontrar um caminho mais desimpedido e fazer um sprint até à estação, atropelando velhinhas se tiver de ser. O plano era bonito e encheu-nos de esperança, qual Gato das Botas fofinho. Só que apanhámos um taxista môno que se pôs atrás do autocarro e se deixou estar à espera. Era ver-nos esbracejar, chamar-lhe nomes, fazer-lhe gestos ofensivos em português, telefonar para as outras duas que já estavam dentro do comboio e... wait for it.. wait.. TINHAM OS NOSSOS BILHETES!! Lá conseguimos chegar à Galeria que é mesmo (mesmo!) ao lado da estação, ainda faltavam 5 minutos, vá, toca de despachar. Para mal dos nossos pecados, mais uma vez, ficámos na parte de trás (ou de lado, eu sei lá) da Galeria. Ora merda que nunca tínhamos entrado por ali, para onde raio ficava a estação?

Vai de correr pelo centro comercial feitas baratas tontas a praguejar e a fintar quem nos aparecesse à frente. Íamos na direcção certa, até que uma mochila se abre e metade do conteúdo se espalha pelo chão, mesmo à frente de uma loja qualquer de nome caro. O telefone toca: arh... o comboio já saiu... como é que vocês vão fazer?. Desatámo-nos a rir e fomos almoçar. Isto não sem antes: fazermos um escândalo na cabine das informações à procura de uma solução para o problema, pedirmos o livro de reclamaçoes por falta de uma, passarmos 10 segundos a achar que fodeu e agora só pagando 70 zlotys (tínhamos pago 30, se tanto, pelo outro bilhete que, ao contrário de nós, rumou para Varsóvia) e finalmente comprarmos um de 26pln que só saía às 18h. Sabíamos que o atraso era inevitável mas como nestas coisas, ainda por cima portuguesas, nunca se come a horas, ficámos mais descansadas. Olha... o que é que nos passou pela cabeça?
O jantar começou às 19h, demorámos 1h para encontrar o restaurante (ou melhor o número da porta, porque nós estávamos na rua certa!), um frio que nos congelou a alma e nós de saia (e sabrinas!), o passeio/estrada em gelo-bom-para-escorregar-e-partir-a-bacia, as outras que estavam com os copos e nada de atender o telefone.. foi lindo. Chegámos foi 2 minutos depois de deixarem de servir vinho à pato. Isso é que nos deixou chateadas. Isso e não ver a celebridade. Já putos bêbedos de calcinha vincada e gravatinha do pai a cantar hits portugueses não faltavam, acreditamos que foi um regabofe à portuguesa. E os putos eram do Benfica, 'certeza.
Nós.. acabámos a noite a enfardar sandes de púmento, a beber cerveja da cara (que a capital é a capital) e quase que a ser convidadas a sair de um bar por termos transformado uma pequena (pequena!) divisão do mesmo numa sala de chuto.