quinta-feira, 7 de julho de 2011

No seguimento do post aqui de baixo, e muito correndo o risco de levar uns murros do karma daqui a meia dúzia de dias, temos a dizer-vos que é possível.


Porque nós sabemos e vocês sabem que vão usar a desculpa de terem ido de Erasmus para perder o semestre :)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ir de Erasmus e acabar a licenciatura: será possível?

We'll get back to you on that. Soon.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Equivalências, equivalências...

Há quanto tempo é que nós voltámos? Pois.
Quando é que fomos dar os papéis à coordenadora para ela submeter aquela porcaria para que quem veja os nossos dados não pense que desaparecemos durante um semestre e andámos a pagar propinas só porque sim? Pois.
Quando é que ela os vai lançar? Sexta-feira.
Está bem então. Está tudo muito certo.

terça-feira, 15 de março de 2011

Pois que é o seguinte,

e ai que andámos deprimidas e a chorar pelos cantos que já cá estamos há um mês e que parece que não aconteceu e que somos umas incompreendidas e que ir de Erasmus devia ser obrigatório no Ensino Superior e ai que só quem vai é que sabe e não vão, não que não vão gostar e ai que preferia estar a passar fominha lá do que estar aqui e pardais ao ninho.
É verdade, andámos um niquinho tristes e nostálgicas depois de voltar e houve uma altura em que dávamos o cu e as calças para voltar e não sei quê e que deixámos de aqui vir porque ler tudo dava um bocadinho mais de saudades. Mas... Flashnew, o mundo não parou de girar porque a nossa estadia acabou (um grande «Como não?!» a vir desse lado) e como ainda há muita coisa que não foi contada, eis-nos aqui outra vez. Para servir o objectivo primeiro desta casa: dar aos que vão a ajuda que nós não tivemos quando fomos (hmmm? Estamos todos a sentir a tensão da indirecta? Óptimo.).

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Este blog está a ressacar...

assim como nós. Não acabou, com certeza, que aqui ainda se há-de falar muito mal. Está só a tentar habituar-se à rotina lisboeta outra vez. Como nós.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Delito 101 ou Karma is a bitch

Cenário: três e meia da manhã, a estudar Genética, à beira de uma síncope e com vontade enfiar a cabeça no forno com cinco ou seis Xanax no bucho.
F. «Tenho fome.»
A. «Também eu. Mas não temos nada para comer...»
F. «A Kati mudou-se lá para cima e a polaca não está cá...»
A. «Nem penses, a comida do frigorífico não é nossa.»
F. «Está bem.»
A. «Se bem que... Vamos embora daqui a dois dias, a Kati bazou e a polaca deve estar de férias. Deve voltar só no fim da semana. Portanto, tudo o que ali está vai estragar-se. Até que ponto não estávamos nós a prestar um serviço ao evitar que a comida se estrague?»
F. «É isso que eu acho. Até porque depois repômos. Amanhã repômos.»
A. «Repômos? Quando ela voltar já nós nos fomos embora...»
F. «Só comemos a comida dela se repusermos!»
A. «Está bem, whatever
E corremos para o frigorífico. Uma caixinha de bifes e outra de ovos. Há que dizer que a polaca nos mete um bocadinho de medo. Não é só pelo metro e oitenta e tal de pessoa que ela é, mas também porque ela é a modos que paranóica e nós temos sempre medo que lhe dê um surto psicótico e ela entre por aqui de faca em riste e nos estripe. Portanto, comer-lhe a comida deixou-nos um tudo ou nada apreensivas. Mas entre apreensão e fome, ganhou a segunda. Há igualmente que dizer que ela é o tipo de pessoa que escreve o nome dela na caixinha dos bifes como que a dizer hei-vocês-ladras-do-caralho-xô-desinfectem-que-isto-não-vos-pertence-unhas-fora-daqui-estão-a-ver-o-meu-nome?
F. «A.? A partir de hoje somos ladras?»
A. «Não, roubar comida não é crime.»
F. «Hm... Está bem.»
A. «Achas que ela é o tipo de pessoa que nos mata por termos invadido o espaço dela?»
F. «Ela não vai saber. Além disso, não se recusa comida a ninguém. Se nós lhe dissermos que estávamos com imensa fome, ela vai ter coragem de se chatear?»
A. «Pois, se fosse ao contrário, eu dava-lhe a comida.»
F. «Eu não...»
A. «Eu também não, mas ela não tem que saber disso. Amanhã vamos ao super-mercado, guardamos a caixa dos ovos e pomos lá novos. Ela nem vai saber.»
O plano infalível, certo? Pois, nós também achámos.
Ocorre que hoje ao voltarmos da rua, com os bifes e os ovos, diga-se, o frigorífico já cá não estava. A polaca também se mudou. Parece que toda a gente deste andar tem que se mudar dentro em breve porque vai haver remodelações. O nosso sentido de honra mostrou-se inabalável e toca de ligar à Kati a perguntar em que quarto é que está a polaca para ir lá dar a cara (e, de caminho, os bifes e os ovos). Mas claro que a Kati não sabia, «algures no sétimo andar».
Agora, das duas uma: ou vamos bater todas as portas do sétimo andar à procura dela ou vamos à recepção pedir pelo amor de deus que nos digam em que quarto está a rapariga, deixar as coisas à porta e desatar a correr. De qualquer forma, nenhuma das opções é muito digna. Mas nós tínhamos fome...

Vamos a contas

Com o quarto agora parcialmente mutilado e desfigurado, ao tirarmos os posters, esvaziarmos o armário, limparmos as prateleiras e vasculharmos debaixo da cama à procura dos sapatos, temos que ir pondo música. Alta. Não é que o quarto faça eco que não tem tamanho para isso. Mas nós temos uma playlist que tem vindo a ser preparada para um momento mais ou menos como este.
São músicas que, por uma razão ou por outra, por estupidez ou não, fazem parte do último semestre. Aquilo que seria a soundtrack se isto tivesse sido um filme. Wanna know?
«Love the way you lie» da outra com o outro
«Marry you», «Forget you», «River deep mountain high» e «Jessie's girl» do grandioso Glee Cast
«Billionaire» e «Baby, baby, baby» - vocês devem saber de quem são e figuram aqui juntas porque o que tem que ser tem muita força
«Club can't hadle me» de não sei exactamente quem
«Dog days are over» e «Kiss with a fist» dos Florence
«Um contra o outro» (e as outras todas) - Deolinda
«Chain of fools» da sô dona Aretha
«Drift away» do Bill Withers (não, não andámos a fazer bebés)
«Ga gago» do Carlos Paião (diz que isto assenta que nem uma luva a uma de nós)
«Beautiful flower» da Indie Arie
«Os loucos estão certos» dos Diabo na Cruz
Xavier Rudd, todas.
«Rosa branca» pela Mariza
variadíssimos «reviveres» do Rui Veloso

Quem passou a Genética, quem foi?

Em Cracóvia, em cinco meses, ...

... ri-me muito. Provavelmente, ri mais vezes por dia do que em qualquer outro período da minha vida.
... soltei umas lágrimas.
... estive triste.
... conheci as pessoas mais estranhas.
... conheci pessoas muito, muito fofinhas.
... ganhei imunidade a constipações.
... comi com um garfo que estava há dois dias para ser lavado.
... passei a acreditar que «o que não mata, engorda».
... disse muitas vezes que «o pior é se mata».
... percebi o significado de «ter uma boa noite».
... apanhei uma bebedeira que figura certamente no meu Top5.
... tive permanentemente a sensação de estar a ser enganada em todos os restaurantes e lojas.
... fumei mais do que a conta.
... contei tostões.
... provei a pior comida do mundo.
... comecei a detestar noodles.
... deixei de conseguir comer bolachas de manteiga.
... fui nobremente introduzida às maravilhas da depilação com gilete.
... apaixonei-me. Três vezes por dia, todos os dias.
... pus a hipótese de ficar.
... fiquei com a certeza de voltar.
... risquei coisas da lista.
... visitei Auschwitz e lembro-me de cada passo.
... ganhei uma aversão para lá de grande a comboios.
... ia sendo multada.
... experimentei -25ºC.
... percebi que não é preciso muito para se morrer de frio.
... atravessei mais vezes o Vistula do que o Tejo.
... fiquei sem uma avó e não fui ao funeral dela.
... estive à beira de um ataque de nervos no laboratório.
... chamei mais nomes a mais pessoas na cara delas do que em toda a minha vida.
... pedi o Livro de Reclamações e recusaram-mo porque «estás na Polónia, não estás no teu país».
... dei-me com pessoas com quem não me daria em Portugal.
... tive medo.
... quis muito enrolar-me com um professor.
... conheci os melhores cafés do mundo.
... bebi o pior café do mundo.
... andei que me esmerdei.
... comi zapiekanki.
... caí algumas vezes, mas aprendi a andar na neve.
... vesti três pares de collants para conseguir sair de casa.
... limpei o quarto vez nenhuma.
... aspirei o chão quatro ou cinco vezes.
... roubei posters que agora vão para o lixo.
... fui à discoteca das discotecas.
... aprendi a fazer bolas de neve perfeitas.
... entrei em igrejas.
... estive em situações caricatas.
... aprendi a cozinhar.
... a senhora do super-mercado passou a conhecer-me.
... só não fiz o que não quis.
... nunca me arrependi de ter vindo.

A.

Agora a sério, ...

... as pessoas que moram nesta residência são ou não são loucas?

(Isto está afixado na lavandaria do segundo andar.)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Adeus, enxoval

Andamos angustiadas. O tempo traiu-nos e, quando demos por nós, já só faltava uma semana para irmos embora. Não sabemos que raio aconteceu neste último meio ano, mas foram os seis meses mais rápidos de sempre. Não sabemos como nem porquê.
Ora, ir embora é difícil. Por causa das pessoas? Não. Ao longo de quase seis meses acumulámos muita coisa neste pequenino quarto da Piast. Experiências? Oh yeah. Mas não é disso que este post trata. Trouxémos muita coisa de Portugal mas arranjámos cá uma quantidade estúpida de tralhas que parecem que floresceram como erva daninha aqui no quarto. Algumas das coisas não sabemos de quem são (se são tão-pouco de alguma de nós) nem de onde vieram. Se nós não ligámos a nada disto enquanto não chegou a hora do adeus e andavámos aos pontapés às coisas para chegar ao outro lado do quarto, agora é complicado fazer a triagem. Modos que a maior parte vai ou já foi fora. As malas são demasiado pequenas para tudo o que queremos levar (tudo o que é material, diga-se. Porque o que não se vê... 'Tá bem, 'tá.) e até andamos a sonhar com a forma de conseguir levar tudo o que queremos.
Mas o que mais nos custa é deixar cá as coisas que foram tão nossas amigas este tempo todo. Panelas, tabuleiro, frigideiras, chaleira eléctrica, pratos e taças (lindos que só eles), três garfos, três colheres, duas facas, dois copos roubados do primeiro andar e uma caneca verde-ranho que já não tem pega. Parecendo que não, trata-se de todo um enxoval que foi sendo feito com muito carinho e que faz parte da nossa história aqui. Tudo aqui abandonado. Sofremos por eles, já lhes demos muitos beijinhos, já lhes dissemos que não é que não os queiramos levar, é que não há espaço, mas que vão estar sempre nos nossos corações e nunca nos esqueceremos deles. Mas nao deixa de ser difícil... Não deixa de ser difícil...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Já não atraímos prostitutas, sofremos um upgrade. Atraímos chulos.

Lembram-se daquela teoria de que andamos a ser seguidas por câmaras e de andarmos a ser exibidas na televisão nacional da Polónia? Pois é, continuamos convictas disto.
No outro dia, fomos ao Diva. Note-se que esta se tratou de uma das nossas raras incursões a tal discoteca por razões que serão adiantadas mais à frente. Aquilo que podia ter sido uma saída aborrecida devido ao facto de certas (CERTAS!) se terem cortado à última da hora tornou-se por demais divertido, por mais do que uma razão. Mas a que vos interessa segue-se.
Estavam as princesas, quietinhas, a bebericar a sua cerveja, a chamar vacalhonas às polacas e a rebolar a rir com o que os polacos consideram ser «estar bem vestido», quando chega um grupo da Máfia. Ou da ciganagem, ainda estamos para descobrir. Vestidos integralmente de preto, dois ou três anéis de ouro em cada mão, sapatos brilhantes que doíam e, pareceu-nos, um ou outro dente de ouro. O charme personificado. Desde que entraram no espaço até virem alapar-se ao pé de nós passaram trinta segundos. De onde são e o que fazem e a conversa da treta do normal. E nós lá dissemos, com esperanças que ainda se oferecessem para nos pagar uma bebida. Eram noruegueses (arraçados de sicilianos, 'certeza), estavam na cidade em trabalho e bazavam no dia seguinte. De repente, saltam umas mãozinhas para as minhas pernas. Enquanto penso «Eu sabia que não devia ter trazido esta saia... Vais já refundida para o armário, minha amiga.», digo ao senhor «Uuui, vamos lá a ter calma que isto eu sou uma moça de respeito e não tenho por hábito enrolar-me com quem tenha idade para ser meu pai, amigo.» Depois seguiu-se a abordagem mais estranha da minha vida «És hospedeira de bordo? Pareces hospedeira.» WTF? É assim que se mete conversa hoje em dia?! «Ahah não, não sou. Não tenho idade para isso. Vinte aninhos, praticamente uma criança.» Resposta: «We could have fun tonight.» «Pois, suponho que podíamos mas não estou para aí virada, hei, olhinhos para cima. F., faz alguma coisa!» Nada. Divertida a assistir à cena. Às tantas, saiu-me um «Actually, me and her? We are together.» «Yeah, I can see that.» «No. Together as togeeeether. See?» Má ideia, A., má ideia. Não pareceu dissuadi-lo por aí além... «Modos que... adeusinho, ala.» E desapareceu-se-nos.
Isto, contudo, tem uma razão de ser, não pensem que aqui toda a gente é louca. O Diva é conhecido por ser um bar de miúdas que tendem a proporcionar bons momentos em troca de um valor monetário justificado. Putas, vá. Claro que nós só soubemos isto depois deste episódio. Porque nem os néons, nem o quartinho com uma cama que é chamado de «Quarto VIP» nem as empregadas meias despidas no-lo indicaram...

Pizza

Nós somos pessoas que se queixam. Pessoas que gostam de se lamentar e revoltar contra tudo e mais alguma coisa. Pessoas que gostam, portanto, de discutir pelo prazer de discutir. (A seu tempo, havemos aqui de divulgar a arte de bem-armar-o-escabeche-num-café-em-Budapeste-situação-esta-que-acaba-connosco-a-acusar-o-empregado-de-xenofobia-e-ele-a-mandar-nos-para-o-caralho.)
Mas também sabemos dizer bem de algumas coisas. Das cenas fixes. Cracóvia (ou a Polónia, na generalidade) tem muitos defeitos, mas se há coisa boa aqui é a pizza. Porque nós, pasmem-se, comemos muita pizza. Temos para nós que o negócio da pizza em Cracóvia se mantém graças a nós e adivinhamos o facto de as receitas irem descer a pique assim que nos bazarmos. É o ciclo da vida. Mas estava eu a dizer que a pizza aqui é boa. Não só a pizza. É o virem trazer quase ao quarto, o os estafetas andarem de bicicleta ou de patins e o preço. Nós não encomendamos muitas pizzas em Portugal mas sabemos que os preços andam pelo preço da morte, que quase mais vale ir a restaurante gourmet do que mandar vir uma pizza. Porém, em Cracóvia, esta refeição é uma peça fundamental, um vulto incontornável que, na volta, diz muito de nós. É que temos douradinhos no frigorífico e arroz na prateleira, mas como é tudo comida que não se faz sozinha... Já me desviei outra vez do assunto. A pizza. Experimentámos muitas pizzarias, mandámos muitos empregados para a escola por não falarem inglês, até que chegámos à Da Grasso. Estes fofinhos, que já nos devem conhecer como as maluquinhas-do-quarto-xyz-da-Piast-que-não-fazem-mais-nada-qué-enfardar-pizza-ao-fim-de-semana, têm uma pizza que poderia facilmente ser a prova da existência de deus. A isto juntam um molho de alho e outro de tomate e um litro de Pepsi. 24,20 zl, que dá mais ou menos seis euros.
«E em que é que isto contribui para a minha felicidade, Trippers, amigas?» Em nada, absolutamente nada.
p.s: Sim, já andamos a tratar da inscrição num ginásio.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O E. passou a Matemática.


O E. passou a Matemática e nós estamos muito contentes. Só quem já esteve, como nós, a ver a vidinha a andar para trás por não fazer Química ou Genética nem à lei de bala é que sabe o que isto significa. O E. passou a Matemática e, honestamente, não nos interessa se foi com estudo, com cábulas, com choradinhos ou com favores sexuais à professora. Interessa que passou e está feito. É daquelas coisas que uma pessoa acha que, por mais anos que viva, nunca há-de ver realizada. Daquelas coisas que já tomamos como adquirido. O mundo que nós conhecemos é um mundo onde o E. nunca há-de fazer Matemática e vivemos todos bem isso. Agora temos que aprender a viver nesta nova Era: a Era em que todos já fizemos Matemática.
Mas isto levanta outra questão: o que é que nós vamos fazer com as piadas e trocadilhos que já tínhamos feito a gozar com o facto de ele estar há dois anos a fazer a cadeira mais fácil do curso? E outras tantas que englobavam o ele ter ido a toda a frequência e todo o exame e nunca ter tido mais que 5? Problemas, a nossa vida só tem problemas.

p.s: Parabéns, E.!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

(«Ah e que não fazem nada e que andam a laurear a pevide e que são umas parasitas e blá blá blá pardais ao ninho...»

O TANAS!
Que horas são? Que estamos nós a fazer? A chegar a casa depois de uma saída louca regada com muita cerveja? É, é. 'Tá-quieto-oh-Vânia!)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Estou a corrigir o meu relatório final de projecto pela terceira vez



Life life life I hate my life!

Estou a estudar Genética



Haters, get mad 'cause I got DNA polymerase.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Marizocas, Marizocas

Tens uma pontaria que nem te digo nem te conto.

(no encadeamento dos posts aqui de baixo)

A macumba que vocês fizeram resultou, suas bestas. Hoje fomos falar com o professor de Genética para acertar os detalhes do último exame. A caminho do gabinete:
F. «Põe um ar cansado, temos que parecer que não dormimos nem tomamos banho há cinco ou seis dias.»
A. «Ok, eu vou referir o relatório. Ouve, imagina que ele nos diz que afinal não é preciso fazer este exame, que o outro chega!»
F. «Vá vá. Tu dizes do relatório e eu digo que mal temos tempo para nos coçarmos. Acho que vou tirar os livros da mala e levá-los na mão. Despenteia-te um bocadinho.»
(entramos no gabinete)
A. «Boa tarde, desculpe lá o atraso mas temos estado imensamente atarefadas com os relatórios finais. Andam a dar cabo de nós. Ainda nem começámos a estudar Genética, veja bem...»
F. «Pois, isto não está nada fácil... Ainda por cima mais um exame... Porque temos mesmo que o fazer, não é?»
Professor «...»
A. «Claro que temos, não é? Só um exame era demasiado fácil, F. Mas andamos tão cansadas. Nem posso acreditar que ainda não estamos de férias.»
F. «É, ainda por cima vamos embora daqui a uma semana. Mal temos tempo para aproveitar estes últimos dias. Mas pronto, se temos que fazer o exame, fazemos.»
Professor «...»
A. «A não ser que não seja preciso. O professor é que sabe.»
Professor «Que vos parece quinta-feira?»
F. «Hmm... Um dia tão bom como qualquer outro...?»
Professor «Então pronto, quinta às 13h.»
A. «Obrigadinha pela atenção. Até uma próxima.»
O nosso futuro não passa, seguramente, pela representação.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

(post dedicado a todos os nossos amigos que não apagaram o blog dos Favoritos quando leram o post anterior)

Perceberam a ironia do post anterior? É que está bem patente. Bem fizeram vocês em terem ficado com o rabo alapado a Lisboa sem se meterem em aviões e aventuras e merdas que tal. É que isto do Erasmus é muito giro, muito giro mas só até à última semana de aulas. A semana em que os professores (e nós, vá) se lembram que Erasmus, antes de um programa de (chibas) intercâmbio cultural, é um programa de estudo no estrangeiro. A parte do estrangeiro já está bem entranhada em nós, a parte do estudo é que custa a fazer-se sentir. Modos que estamos há uma semana de cabeça enterrada no The Final Report que é para sair uma coisa para lá de boa. Amanhã entregamos. E eu, muito sinceramente, não me podia estar mais a borrifar para como é que isto vai. Assim como assim, toda a gente sabe que os Erasmus têm vinte a tudo. Iremos nós estragar a corrente e dar mau nome ao programa?
Sem contar com o último exame de Genética que é sexta-feira (se o professor não tiver um enfarte. Uma coisa pequenina. Que não mate, que o senhor é simpático. Uma coisa que o deixe impossibilitado de aparecer na Faculdade só até dia 8.) e nós vamos começar a estudar amanhã para o mesmo.
Aaah vida de Erasmus. Boa que é!
p.s: Eis que a Kati decide que, de todas as horas que existem num dia, esta é a mais indicada para ouvir o «Waka Waka» no volume a que ele soou na abertura do Mundial.

(post dedicado a todos os nossos amigos que se encontram agora a estudar para os exames e, quiçá, a chorar sentados no chão e a hiperventilar)

Tivessem vindo de Erasmus.

sábado, 29 de janeiro de 2011

CouchSurfing


Este blog aconselha.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Próxima paragem: Budapeste


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Os bares de Cracóvia I

Eu podia, porque podia, vir aqui falar-vos de um Harris Jazz Piano Bar ou de um Alchemia, quem diz Alchemia diz Propaganda, na loucura falava até de um Carpe Diem. Se estivesse bebêda ainda trocávamos um dedos de conversa sobre o Kitsch. Mas não. Acredito piamente que vocês, crianças acabadas de desmamar, recém chegadas a esta cidade where dreams still do not come true, precisam de conhecer os clichés primeiro.
Assim sendo, comecemos pelo cliché mais cliché de todos que até enjoa só de pensar: o Frantic. Ora isto é uma espécie de Lux aqui do sítio, mas em mau. Todo o troglodita lá aterra, isto, claro, devido à forma requintada como os security monkeys despacham betinhos e acolhem tchê máno's e pimps.
Nós nunca lá entrámos propriamente, também nunca tentámos, é verdade. Mas ouvimos histórias, e isso basta-nos. Isso e amarfanhar um Big Mac sentadas no degrauzinho do McDonald's cuja vista dá mesmo para a entrada do Frantic. Juro, é melhor do que ir ao circo em época de Natal.
Acho que aqueles.. seres, quando se estão a vestir para a night pensam qualquer coisa como: "epá, deixa cá ver quais são as calças mais mostra-tomates que tenho. Sim, porque o gajedo tem que ver bem aqui o material, se pudesse andava com uns néons a apontar aqui para o Messi das pilas, que isto é pequeno mas trabalha com'ós grandes!". E pronto, isso e uma camisinha preta ou lilás brilhante, vai bem com o sapatinho de bico e ala para o engate.
Senhores, este é o típico machóman que entra no Frantic e, claro está, engata.
Se fores um fofinho de Lisboa, calça de ganga no ponto, camisinha branca para fora a mostrar um nico do pelito, botinha Merrell ou Timberland ou raio que o parta, nananinanão. "Parece que vais fazer uma caminhada nas montanhas, bazê".
Não entrando neste mui nobre estabelecimento, um gajo vai ter ao Shakers, ali ao ladinho, assim com'ássim vai dar ao mesmo. E vai, no fundo, vai. Bebidas caras que dói, miúdas sobreproduzidas, músiquinha de há 5 anos atrás e muita mangueira, tudo com a mesmíssima ideia.
Se querem noites com erasmAs (desde turcas, lituanas, romenas, eslovenas, checas, russas, fáceis fáceis) têm o Diva. Todo o estrangeiro lá vai à procura de gado fácil, só que às vezes são caçados e calham-lhes as "profissionais do prazer". Giro deve ser a manhã a seguir quando a rapariga lhes pede guitos "para o táxi". Cién, igualito.
Prozak. Todo o estudante erasmus lá vai parar um par de vezes por engano, tal é a publicidade. Nunca percebi muito bem como aquilo funciona, ora há guestlist ora não há, ora estás muito bebêdo para entrar, ora não. Demasiada salsa, esfreganço a dar com pau (piadola), festas temáticas q.b. mas a cerveja é cara para o espaço. Já para não falar do ambiente... A menina não gosta, pronto.
Depois temos o Afera aos domingos que também não passa muito do standart: músiquinha comercial e ultrapassada, mas com bebida baratíssima, espaço para conversar (se não forem adeptos de bailarico como moi meme), espaço para fumar (muito importante, que isto agora com a lei anda pela hora da morte e está um frio desgraçado), muito erasmus, muita gente, beca beca. Thumbs up.
Para "arrematar", vá, não implorem mais. O Kitsch, antigo (pfff, AHAHAHA) bar gay, é bom para o after hours. Nem pensar ir para lá antes das 3h da manhã (a não ser que queiram morrer sufocados ou andar ao estalo), músiquinha antiga mas boa (principalmente se estivermos com os copos), muito engate, só vai para casa sozinho quem quer (e fizer que já não está a ver bem), check para a sala de fumos, preços acessíveis e poles (just in case).

A propósito da falta de tempo

Ando numa corrida contra o relógio e o cabrão está a dar-me uma valente abada.
Pudera, são três contra uma!

Aqui a do lado, a outra

Nós podíamos ter vizinhas normais e pacatas que podíamos. Mas assim, ia-se logo uma fonte de peripécias que tão bem figuram aqui no blog. E isso, parecendo que não, era aborrecido.
Já é do conhecimento geral a peça que é a Kati. Dali, nada de novo há-de vir. Tudo o que possamos dizer sobre ela, passará pelo facto de ela foder tudo o que mexe.
Hoje, contudo, falamo-vos da outra, da polaca. A polaca (porque por mais que tente, não me consigo lembrar do raio do nome da miúda. E parece-me francamente mau perguntar-lhe «Como é que disseste que te chamavas mesmo?» quando ela já aqui mora há dois meses e quando falamos diariamente.) ficou logo marcada por ter trazido para o conforto do nosso lar uma coisa que dá pelo nome de frigorífico, mas que é bem mais do que isso: é a razão de todos os nossos problemas, insónias e indisposições. Depois disso, nada que valha a pena relatar. Vá, uma coisinha: ela é paranóica. Tem um qualquer distúrbio esquizofrénico que se reflecte na relação dela com as portas. Disse-nos mais do que uma vez, e quase à beira das lágrimas, para, pelo amor de deus, fecharmos a porta à chave que nunca se sabe quem é que aí vem. Depois, pede-nos para deixarmos a nossa porta aberta enquanto ela toma banho, não vá entrar algum ladrão no quarto dela e sodomizá-la à bruta quando ela lá entrar. Nós, compreensivas que somos, sim senhor, deixa lá a porta aberta, na boa.
Hoje estava eu quase desperta e quase vestida, prontinha para sair de casa e enveredar por mais um dia de exploração gratuita e olhares furtivos para o Mateusz, quando aqui a polaca nos entra pelo quarto adentro, muito aflita. Tinha assim um tom azulado ou roxo ou o raio que a parta e vinha agarrada à garganta. Arfava e emitia outros barulhos igualmente estranhos. A F. estava a dormir e a dormir continuou. Eu, um nadinha chocada, levei um bocadinho a perceber o que se estava a passar. O tempo de ela dizer «I'm choking! I'm choking, I can't breath!». Eu pensei «Tuuuuudo o que me faltava...» e ela correu para a casa-de-banho. Eu atrás dela. Não esteve de modos e toca de meter os dedos à garganta. Eu só pensava que não lhe fazia a manobra de Heimlich nem que ela caísse no meio do chão que isso faz mal às costas. Às minhas. Confesso que também pensei «Vá lá, vá lá, não morras já. Deixa-me só ir ali acordar a F. para ela testemunhar que não fui eu que te matei. Vá lá, aguenta só dois segundos.» mas foi só até aquilo lhe passar mais ou menos. Eu não sabia muito bem o que dizer, então perguntei a única coisa que me ocorreu: se ela tinha comido peixe ou se tinha alergias. «I am not crazy, I wouldn't eat something if I was allergic!» «Ok, desculpa lá a preocupação, hm, oh otária? Morre para aí.» Mas como eu sou fofinha, fiquei com ela até aquilo lhe passar, para depois lhe começar a doer a cabeça.
A F. acordou depois do espectáculo todo e quando eu lhe disse que a polaca tinha estado a morrer, voltou-se para o outro lado e continuou a dormir.

sábado, 22 de janeiro de 2011

(Nós temos uma amiga francesa que mora numa casa com mais oito pessoas. Na cozinha deles cabem quatro ou cinco quartos dos nossos. E têm um balcão de bar. É tudo o que é necessário dizer acerca do sítio... Só mais isto, talvez: é lugar das (dependendo do ponto de vista) melhores festas Erasmus da cidade. Temos um dress-code que é para ser seguido à risca. A última festa acabou como acabou. Para a de hoje, só uma palavra: medo. Muito medo.)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Nós vamos parar ao Inferno

Nós temo-nos como relativamente boas pessoas: não roubamos, não batemos em ninguém e... penso que é tudo. Por isso, sempre tivemos como certo que, quando chegasse o derradeiro momento, e estivéssemos à frente de duas setinhas, uma a dizer «Céu», outra «Inferno», nós seguiríamos a primeira, com um hi5 no big boss lá do sítio. Hoje, já não temos tanta certeza disso. A Polónia faz de nós más pessoas. Nós já passávamos o dia a dizer mal de tooooda a gente (isto está a ficar descontrolado, acho que precisamos de ajuda especializada quando chegarmos a Portugal) o que, só por si, reduz as nossas hipóteses de entrar no cantinho dourado. Nós já não nos levantávamos quando os velhinhos decrépitos entravam no autocarro e se punham à nossa frente com aquele ar de carneiro mal morto, à espera do que nunca havia de vir. «Hm.. Acho que este está a olhar para nós. Levanta-te.» «Levanta-te tu!» «Eu não...» «Eu também não. Deixa-o estar, é para esticar as pernas.» Nós já não deixávamos ninguém passar à frente no supermercado (a menos que fosse uma grávida muito, muito prestes a dar à luz. E mesmo assim já se lhe tinha que vislumbrar a cabeça da criança.) Quando fomos à terra da Joanna, o primo dela andava na rua a recolher dinheiro para fazer não sei o quê na igreja lá do sítio. Ela deu-lhe 5zl. Nós nada. Só quando ela se voltou para nós e apontou para o puto, que estava com a latinha esticada, é que nós sacámos das carteiras, demos 1zl e dissemos «Fá-lo render!». Nós já não éramos o protótipo de boas pessoas e nunca alimentámos a esperança vã de ganhar o Nobel da Paz. Hoje, porém, atingimos outro patamar.
Pois que estávamos nós quietinhas no café mais fofinho aqui da aldeia, onde vamos nós eeeee... a empregada, quando entram umas miúdas também fofinhas e vão ao balcão. Falaram lá no dialecto delas com a empregada e, de repente, sem aviso prévio, foram-se pôr ao pé da porta, sacaram de um presépio e de um copo e começaram a cantar alegremente. Nós, apanhadas de surpresa, ficámos a olhar para elas durante dois segundos, antes de nos apercebermos que raio era aquilo. «O...que....é...que....se....está...a...passar...aqui?» sussurrei eu pelo canto da boca, com medo de fazer movimentos bruscos, não fossem elas começar também a dançar e a cuspir fogo. «Não sei, mas desconfio. Para lhes darmos dinheiro?» «DINHEIRO? Nem para mim tenho, quanto mais para andar a alimentar vícios!» «São crianças... E até estão a cantar...» «Ai a minha vida... Mas tu queres ver...?», enquanto elas acabaram a música. Chegaram-se ao pé de nós, puseram aquele ar de criança fofinha e pedinte e disseram «Ajdejnfhfjdd Jndhwiqpqmcn Hue w ednduandanian qwwe?», rematando com um sorrisinho angelical e enfiando-nos o presépio nos olhos. «Eeeer... Nós não falamos polaco...» Nada. Sorriso ensaiado e persistente. «Portanto... Se calhar... Cada uma de nós ia à sua vidinha e esquecia que nos vimos. Hm? Que nos dizem?» Desapareceram os sorrisos. Baixaram os olhos. Recolheram o presépio. Viraram costas e foram-se embora. Nós ficámos com caras de tacho, assim entre o chocado e o envergonhado. «Eu não acredito que não deste dinheiro às miúdas! Ouve, que má pessoa! Eram crianças!» «Também não te vi dar! Mas eu ia dar, se elas tivessem insistido mais um bocadinho, eu dava!» «Mas eu também ia dar, estava a pensar se tinha moedas.» «Vamos parar ao Inferno. Recusar dinheiro a crianças que, ainda por cima, cantaram é um livre-passe para o Inferno...» Silêncio... «Achas que elas passam fome?» «Não, estavam bem vestidas. Provavelmente, andam a recolher dinheiro para uma viagem da escola.» «Achas? Na rua?» «Sim, de certeza, deve ser para a viagem de final da primária. Deve ser dinheiro para irem a Lloret.» «Tens razão. Em Lloret, uma pessoa só se desgraça, ainda bem que não demos. Estamos a fazer-lhe um favor.» «É, ainda nos vão agradecer.»

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

tradicional vs rebuscado

Eu, apologista afinco do whatever makes you feel good, tenho para mim que Brufen é para meninas. Acordar às 8h da manhã para tomar um comprimido não funciona comigo. Como tal, adoptei outro antibiótico. O belo do moscatel de Setúbal. Juro, é o licor dos deuses. Já me sinto outra. E aconselho vivamente. Isso e uma quantidade parva de açúcar. Isto, claro, não se aplica só a constipações; quem sofre de males como: stress pré- (ou pós-) exames (muito em voga nesta época), solidão por feiura (ou por outra coisa qualquer), falta de carinho (ou de outra coisa que tal), ai-que-ele-não-me-responde-ai-que-ele-não-me-quer (é remédio santo), frio simplesmente ou só por gosto. Isto resolve todos os males, já dizia a minha avózinha.



terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Dos desejos

Estar doente é meio caminho andado para virarmos mini-pessoas (que é como quem diz, bebés) outra vez, choronas e dependentes. Se eu estivesse em casa agora, tenho a certeza que, por esta altura, a minha mãezinha já me tinha feito uma canja de galinha com arroz, xarope de cenoura, 4 chás diferentes e 2 bolos. Já me tinha vindo dar colherzinhas de mel à boca, enfiado uma dose estúpida de comprimidos e mézinhas no bucho e empilhado cobertores na minha cama. Tudo enquanto regulava o aquecedor e mexia na antena da televisão para eu poder ver bem o canal que queria.
A verdade é que esta terrivel doença que é a constipação praguense tem muito que se lhe diga. A mim, por exemplo, para além de todos os germes, atacou-me também com desejos. Não, não estou grávida. Mas acho que a ranhoca vai começar a sair com cara de cheesecake se a A. não me for buscar um entretanto.


Destes.

O cair de um mito

Desenganem-se os que de vocês achavam que os dias das princesas eram repletos de coisas interessantes e histórias vibrantes. Os que achavam que as nossas vidas acontecem num cenário brilhante, com arco-íris e borboletas.
Estamos doentes, muito doentes. Às portas da morte, arriscaríamos dizer. A verdade é que estamos muito, muito constipadas (uma doença um bocadinho larilas, é certo; mas muuuuito maçadora) e já estivemos mais longe de ligar para a morgue a reservar duas caminhas. Não aconselhamos niguém a entrar neste quarto sob pena de sair daqui tuberculoso (mentira, já convidámos a Kati a aqui entrar para ver se ela PÁRA DE PINAR dia sim dia sim).
Ora, ir ao médico está fora de questão que eles são talhantes com um diploma. Portanto, é encharcarmo-nos nos comprimidos todos que para aqui temos e esperar que matem o bicho. Praga traiu-nos e pegou-nos isto. Estamos sobretudo sentidas com Praga. Porque é uma coisa que não se faz; nós visitámo-la com tanto carinho, só dissemos bem dela e é assim que ela nos p(r)aga*. Nós que nem íamos apontar os defeitos que Praga tem. Porque Praga tem defeitos. Assim, só para ela não se armar em esperta, fiquem sabendo que, em Praga, toda a gente tem cães apaneleirados. Não há cães másculos e fortes, só merdas pequenas e histéricas. Em Praga, tem que se pagar para ir à casa-de-banho (estás no restaurante a consumir uma refeição que te custou os olhos da cara e dá-te a vontade súbita? Arrota 5 ou 10 CZK!) Aaah how does it feel, Praga? Que tal o sabor da traição?
Por outro lado, este dia tem-nos servido para pormos em dia as séries que temos vindo a acompanhar religiosamente desde que estamos na Polónia. A saber: Gossip Girl, Glee, Desperate Housewifes, Criminal Minds, Private Practice, Grey's Anatomy, Modern Family e, a mais recente descoberta, Californication. Tudo coisas que exigem um nível de intelectualidade baixinho, baixinho. Menos o Glee.
Aos que estão a pensar neste momento «QUE bando de desocupadas!», o nosso bem-haja.
* O que é que faz de nós pessoas extraordinárias, perguntavam vocês? A capacidade de criar piadas com este nível de complexidade mesmo com os pés virados para a cova.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Parabéns, Croissant!

Não estávamos aí contigo para te enfrascar mas não nos esquecemos. Em jeitos de prenda e para compensar as chouriças, vimos isto e pensámos em ti.

Akropolis

Se há coisa pela qual Praga é conhecida é pela noite. Toda a gente sabe onde fica a maior discoteca da Europa Central, uma coisa assim estúpida de grande que é, com cinco pisos. Vale a pena lá ir? É capaz, não sabemos.
Nós não gostamos de ficar pelo óbvio, portanto, quando toda a gente que vai a Praga, vai pelo menos uma noite à Karlovy Lázne, nós decidimos não ir. Acatámos a sugestão do Lenny e pusemo-nos a caminho do Akropolis.
Nós devíamos ter desconfiado. Nós devíamos ter percebido que um lugar que fica a cinquenta e quatro mil quilómetros do centro da cidade, num bairro homólogo à Cova da Moura, não pode ser coisa boa. Mas não desconfiámos, mesmo quando aquilo de fora parecia um prédio prontinho a ser demolido. Entrámos à mesma, desembolsando 30 CZK. Descemos umas escadinhas e estávamos num sub-mundo. Corredores e mais corredores que levavam a duas salinhas: uma hardcore, com música daquela que entra na cabeça e nos começa a fazer ver pontinhos luminosos onde devia estar uma cara; outra com música assim baixinha, agradavelzinha. Óptimo para nós e sentámo-nos. O lugar em si parecia uma coisa que só vampiros ou foras-da-lei frequentariam. A luz também era coisa escassa. Só sabíamos onde estava uma de nós quando ela falava.
Assim, de um momento para o outro, ficou a loucura. Desconfiamos inclusivamente que estava tudo a postos à nossa espera. O DJ ocupou lá o lugar dele e começou a pôr um Charleston, tudo muito anos 20, misturado com um jazz remixado. Uma coisa quase boa demais para ser verdade. E depois música latina. E disto outra coisa qualquer.
Aconselhamos vivamente o Akropolis, pelas pessoas. E pela pedra barata. O DJ misturava a música na mesa com uma mão e enrolava e fumava um charro com a outra. Mais à frente, outro homem fumava doses industriais de erva. Ao nosso lado, uma rapariga dançava alegremente enquanto enfardava amendoins (ou seria ecstasy?) como se não houvesse amanhã. A S., quando foi à casa-de-banho, ouviu duas pessoas a sniffar umas linhas, rematando com um «Maaaan, this shit is good!». Uma senhora com uns respeitáveis cinquenta e tal anos dançava no meio da pista, enquanto engatava descaradamente um moço que tinha idade para ser nosso irmão mais novo. De vez em quando dava uns pontapés no ar de fazer inveja a qualquer contorcionista.
Um casal do mais estranho, completamente pastilhado, dançava à nossa frente e caía no meio do chão a cada dois minutos, levantando-se logo de seguida e continuando com as voltas e os rodopios.
Nós estivemos metade do tempo agarradas às barrigas a rir, o que se traduz numa noite bem passada. Era tudo demasiado engraçado. Ou, agora que penso nisso, do fumar passivamente.

Praga, que cidade do caralho! IV

Ponte Carlos




John Lennon Wall






Praga, que cidade do caralho! III

Praga é uma cidade que não dorme, ao contrário de nós, que dormimos e bem. Assim, um plano de acordar às 10h depressa se estendeu por mais três horas.
Este dia foi dedicado apenas a visitar o Castelo de Praga e o que, à partida, pode parecer demasiado tempo para ver um castelo, revelou-se insuficiente. É que o Castelo de Praga, como aliás tudo na cidade, é absurdamente grande. É uma vila dentro de muralhas. E a Catedral ?



















Praga, que cidade do caralho! II

Pagamos um café a quem perceber para que é que isto serve.

Pista: a bota está sobre um pedal.
Senhoras e senhores, eles têm um Museu das Máquinas de Sexo. Um museu com todo e qualquer objecto sexual desde os primórdios da Humanidade até aos dias de hoje. Têm inclusivamente toda uma secção dedicada ao sadomasoquismo. Uma coisa de medo, muito medo. É um lugar onde podemos sentar-nos no conforto de uma salinha a apreciar um filme pornográfico espanhol dos anos 20. E quem acha que por ser dos anos 20 é uma coisa soft onde o máximo que se vê é um tornozelo descoberto ou um ombro desnudado, engana-se! A pornografia hardcore nasceu nos anos 20, arriscamo-nos a dizer. Já para não falar no estranho que é estar na salinha com mais algumas quinze ou vinte pessoas. Olhares desconfortáveis, esgares, risinhos tímidos foram uma constante.
Está percebido agora o serem o principal exportador de pornografia a nível mundial?



Praga, que cidade do caralho! I

As expectativas eram altas. Quase altas demais, temíamos nós. Tinha medo que fosse como quando abriu a Expo e as pessoas diziam que ia ser uma coisa megalómana e nunca antes vista e a única coisa que eu gostei foi da fita para o cabelo que os meus pais me compraram no Pavilhão do Peru. «Praga? Uuui que coisa tão bonita. A cidade mailinda que eu já vi! Uma pessoa fica parva a olhar para aquilo!» E nós lá fomos, com medinho de lá chegar, não gostar e depois não ter coragem para responder «Nada de especial.» quando nos perguntassem «Então? O que é que acharam de Praga?».
Saímos de Cracóvia às dez na noite e já sabíamos que tínhamos que comprar bilhete até à estação antes da fronteira - Zabrydowice -, passar a fronteira no mesmo comboio enquanto rezávamos para que o revisor não aparecesse e então, já na República Checa, comprar bilhete de Bohumín para Praga. A razão de nos darmos a este trabalho todo foi o pagarmos pouco menos de vinte euros para fazer o percurso todo, em vez de pagarmos o quíntuplo. Passámos a fronteira e, mais descansadas, fizemos um in your face aos checos por não descobrirem tão brilhante plano. Em Bohumín, contudo, levámos um in your face ainda maior. Felizes que só nós, ao querer comprar o bilhete, o senhor disse-nos que só aceitava coroas checas. Nós, como é lógico, só tínhamos zlotys. «Então e euros? Têm?» Que não, que não... Não fazia grande sentido, uma vez que estamos a morar na Polónia, não sei... «Ah... Então... Pois, não sei.» Picture: Nós + duas da manhã + a meio quilómetro da fronteira + sem dinheiro + sem multibancos + sem merda nenhuma = medo, muito medo. «Vão mandar-nos para a Polónia, pelos campos, a pé, pronto. Com sorte, há aí um posto de Guarda Fronteiriça e começam a disparar contra nós e soltam os cães.» Ou então, o revisor foi simpático e deixou-nos ir levantar dinheiro na estação seguinte. Pronto, foi mais isto. Chegámos sem percalços de maior a Praga, por volta das sete da manhã.
Praga mete medo de grande que é, deixa-nos o coração nas mãos porque temos medo de não conseguir guardar tudo na memória, pena por não termos olhos grandes o suficiente para apanhar a vista toda só com um olhar. Então andamos na rua com atenção, sem pestanejar, não vamos nós passar por (mais) um edifício demasiado bonito para estar num beco. Praga tem o maior centro histórico da Europa e, para nós, está mais que justificado. Tem mais de vinte museus e algumas cem galerias.
Assim que deixámos as mochilhas no hostel e dormimos umas três horas na sala (porque o ar no dormitório era irrespirável. Wanna know why? Imaginem um quarto com quatro rapazes. E com quatro pares de ténis. Isso, irrespirável.) , arrancámos para a cidade.
Apesar de só termos estado in town três dias, pensamos que vimos o que de mais importante havia para ser visto. Mas não temos a ingenuidade ou a arrogância de achar que Praga não tem mais nada para oferecer. Porque podíamos sempre lá ter vivido que desconfiamos que ainda nos íamos conseguir surpreender com o que cada rua esconde.
Assim, e a quem interessar, eis alguns dos lugares que visitámos:






Museu Nacional de Praga (a colecção de História Natural é muito, muito boa)







O Relógio Astronómico (os checos não estão de modos; para evitar que o relojoeiro repetisse a proeza, cegaram-no.)





A praça principal com a Igreja de Nossa Senhora Diante de Tyn (qué feito da entrada? Não há.).


Museu da Tortura (oh coisinha macabra!)

(post tardio, mas muito a tempo)

Senhor Embaixador,
Nós somos moças votadeiras.
Somos pessoas opinativas que têm sempre algo de novo e instrutivo a acrescentar a uma conversa. Gostamos de pensar que conseguiremos deixar o mundo um bocadinho melhor se exercermos o nosso direito de voto o maior número de vezes possível. Votamos na presidência da Associação de Estudantes e na Assembleia Geral. De caminho, votamos sempre também na mesa da RGA (e o que é a mesa da RGA, pergunta o sr. Embaixador. Pergunta bem, pergunta bem...). Só não votámos na Comissão de Residentes aqui da Piast porque a folhinha estava em polaco. E porque a votação foi às oito da manhã de um sábado.
Como tal, e dado que algo género (mas de menor envergadura, note-se) se está a passar no país que nos é comum, nós gostaríamos de votar para eleger o PR. Assim sendo, e como V. Ex. bem sabe, enviámos-lhe um e-mail todo ele cheio de floreados e palavras caras para perguntar somente «Méquié? Onde é que se vota aqui num raio de duzentos metros?». O sr. Embaixador, como pessoa ocupada que é, mandou um dos seus assessores responder-nos qualquer coisa como «Querem votar, get your ass num comboio rumo a Varsóvia no dia 11 ou no dia 12 e é isto.».
Ora, aqui é que reside o problema da questão e a razão pela qual o senhor se encontra a ler este post. O senhor sabe, mais uma vez tão bem quanto nós, que a nossa última ida a Varsóvia também foi a seu mando, aliciando-nos com um jantar português. Sabe igualmente que a dita viagem ficou marcada pela falta de jantar e, imperdoável!, de bebida. Deste modo, e para se redimir e tentar salvar a nossa relação, só lhe ficava bem meter o seu real cu no carro financiado pelos impostos (que os nossos pais pagam) que nós pagamos e vir aqui ao sul com dois boletins. O senhor não achará, com certeza, que vamos dispender 52zl para ir aí sem a garantia de que temos uns canapés à nossa espera, supômos nós.
Mas não fiquemos por aqui; achamos legítimo que o senhor queira saber se vale a pena o vir a Cracóvia só para duas princesas escrevinharem uma cruz. Fique sabendo que nós somos jovens politicamente activas, valemos o esforço. Se não, vejamos:
1) Este ano, fomos à Festa do Avante. O que é que uma pessoa faz no Avante? Fuma char... Inteira-se da abordagem política do saudoso PCP.
2) Temos conversas tão eruditas como «Olha lá, este Passos Coelho é giro ou é impressão minha?»
3) Frequentamos assiduamente o Capas Negras. E quem é que mora na porta imediatamente à direita do Capas? O former president Mário Soares.
4) Uma de nós, no caminho casa-Faculdade, passa diariamente pela Braancamp. Quem é que mora na Braancamp? O seu chefe.
5) As nossas toalhas, canecas e chapéus-de-chuva foram comprados no IKEA. Quais são as cores do IKEA? Amarelo e Azul. Quais são as cores do CDS-PP? Amarelo e azul.
E isto são apenas exemplos, podíamos continuar. Se isto não atesta o nosso interesse e envolvimento na Agenda Política Nacional, pouco mais o fará.
A sério, venha cá que ainda aceitamos um copo. (Nós oferecíamos, mas o dinheiro das bolsas não chega para tudo. Dê aí um toque ao big boss nesse sentido, já agora.)
Maneiras que é isto: vá masé proceder a acções que pouco ou nada nos interessam, por intermédio do seu traseiro , acções essas que may or may not ser indícios de que o senhor é apreciador de amor entre iguais, que nós vamos deixar-nos estar 'ssogaditas aqui em Cracóvia a ver as eleições pela TvTuga e a gastar os 52zl em rodadas à saúde do novo PR.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Da próxima vez que jogarmos ao "Nunca" já vamos poder beber quando disserem:

Eu nunca fui roubada num comboio.
Eu nunca fui roubada num comboio no valor de 100euros (filho da puta).
Eu nunca quase fiquei apeada na fronteira sem ter a moeda do país para comprar o bilhete de comboio e como tal...
Eu nunca entrei num país sem bilhete.
Eu nunca checkei num comboio (inchem).
Eu nunca paguei para checkar.
Eu nunca paguei 8euros por duas noites num hostel (e pensei que me fossem tirar um rim enquanto estava a dormir).
Eu nunca paguei 8euros por duas noites num hostel e dormi com mais 3 gajos na camarata.
Eu nunca apelidei dois coreanos de Thai e Zé.
Eu nunca fui apanhada pelo Thai (ou foi pelo Zé?) com as calças na mão.
Eu nunca vi um filme pornográfico.
Eu nunca vi um filme pornográfico de 1920 (faz toda a diferenca).
Eu nunca vi um filme pornográfico de 1920 na companhia de mais de 20 pessoas.
Eu nunca fui a um Museu de Máquinas de Sexo.
Eu nunca fui a um Museu da Tortura.
Eu nunca conheci ninguem do Panamá.
Eu nunca conheci ninguem do Panamá que parecesse o Lenny Kravitz.
Eu nunca conheci ninguem do Panamá que parecesse o Lenny e fosse professor de Salsa.
Eu nunca conheci ninguem do Panamá que parecesse o Lenny, fosse professor de Salsa e estivesse de coração partido.
Eu nunca cobicei um espanhol de outra.
Eu nunca visitei o Museu Nacional de Praga.
Eu nunca visitei o Museu Nacional de Praga estando quase a dar-me o badagaio.
Eu nunca passei uma secção inteira de um museu de olhos fechados e em passo acelerado.
Eu nunca andei 2horas à procura de uma farmácia.
Eu nunca andei 2horas à procura de uma farmácia e fiquei com vontade de encher a farmacêutica de estalos.
Eu nunca paguei 130 qualquer coisa pelo meu almoço.
Eu nunca paguei 100 qualquer coisa por uma revista.
Eu nunca atravessei um rio de metro.
Eu nunca vi o Super Mário ao vivo e a cores.
Eu nunca vi o gajo mais giro do mundo.
Eu nunca fiz a dança do "Marry me" do Glee.
Eu nunca fiz a dança do "Marry me" do Glee a atravessar as passadeiras de Praga.
Eu nunca dei um concerto de músicas dos Glee na estação dos comboios de Praga.
Eu nunca ouvi ninguém a sniffar.
Eu nunca estive num bar de queimados.
Eu nunca cavalguei um bebé.
Eu nunca personifiquei uma estátua como algo suado e másculo.
Eu nunca vi um alien a servir num bar.
Eu nunca pensei em usar bling-blings, tal era a quantidade.
Eu nunca cantei "I just had sex" pelo metro de Praga.

to be continued..

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Aguenta, Praga, daqui a nada tens aí as princesas.


Das descobertas de vocação

Quando, há três ou quatro anos, na altura dos testes merdó-técnicos, a psicóloga me perguntou «Qual é que achas que é a tua melhor qualidade?», eu levei meio segundo para formular e verbalizar a seguinte resposta brilhante «Imitar os cabeçudos do Carnaval.». A psicóloga riu-se. Eu ri-me. Calámo-nos. Eu percebi que ela achava que eu estava a brincar e achei melhor deixar-me estar calada. Ela mandou-me seguir Psiquiatria. Eu agradeci a sugestão, fiz-lhe um manguito mental e a minha mãe deixou-me ir sair à noite nessa semana por ter acordado ir lá.
Desde este tempo até hoje, muito pouco mudou; continuo a imitar sublimemente os cabeçudos. É uma coisa que envolve toda uma coordenação de braços e cabeça que não é para qualquer um. Se houvesse uma competição disso, acho que todos sabemos quem era a World Champion.
Contudo, se a psicóloga me fizesse esta pergunta hoje, eu teria que lhe dizer que a minha melhor qualidade é fazer sampling. Nasci para isto. Dêem-me umas botas, uns frasquinhos, um rio e uma rede e é ver-me a samplar como ninguém. Podia relatar aqui coisas extremamente engraçadas da minha saída de campo, mas tudo parece insignificante quando comparado com o meu talento recém-descoberto.
Podia contar-vos coisas como o Professor ter caído ao rio e ter sido arrastado pela corrente por dois ou três metros (sendo que estavam -7ºC na rua) por se ter posto a andar em cima do gelo (a sério, eu não percebo nada das neves e não sei quê, mas o que é que acontece em TODOS os filmes quando uma pessoa atravessa um rio que está congelado? A sério, o problema sou eu? Tentei alertá-lo para este facto, mas ele olhou para mim com cara de está-masé-calada-estrangeira-do-caralho-que-eu-já-vivi-cinquenta-e-muitos-invernos-neste-país-e-percebo-mais-de-neve-e-gelo-e-rios-do-que-tu e eu calei-me.) Podia contar-vos igualmente como o outro (o do PhD) saltou de imediato para dentro do rio e eu me deixei estar quietinha a segurar os frascos, a assobiar e a olhar para o ar. Podia partilhar que, quando o Professor se levantou, depois de ter andado a contactar com os peixinhos e estar que nem um pinto, o Zam lhe disse «You're wet.». E de como, aqui, quase sufoquei com o riso. Podia dizer que atravessámos um rio de jipe (Oh yeaaaah on the road, sem medos! O que é aquilo? É um rio? 'Bora atravessá-lo de jipeeeee!).
Podia contar tudo isto que podia, mas é tudo menor quando comparado com a magia que aconteceu quando euzinha me meti no rio. Tremia por todos os lados, só me apetecia gritar pela minha mãe e quase, quase que rezei. Fiz promessas a uma qualquer entidade de que, se me deixasse sair dali sã e salva, deixava de dizer asneiras. Ahah in your face, entidade! Ingénua.

Enfim, já me desviei do ponto principal. Foi a primeira vez que fiz tal coisa e já sei que o meu futuro e a minha felicidade passam por isto: apanhar bicheza nos rios munida de um fósforo e um elástico, como o MacGyver, se for preciso. Baixa rede, dá pontapés no chão, escava um bocadinho, equilíbrio minucioso para não ir ter ao mar, levanta rede, abre frasquinho, mete amostra, etiqueta, fecha frasquinho; I'm a natural!


Depois disto, o limite é um Nilo ou um Mississipi.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A marcar pontos desde 1990

Eu gosto do meu orientador. Damo-nos às mil maravilhas. Ele deixa-me fazer o que eu quero, quando e como quero. Não me chateia a cabeça, só me pede contas no final de cada semana; se faço todos os dias um bocadinho do trabalho ou se, na Quinta-feira, não durmo para o fazer, é comigo. Não me culpou de ter morto a bicharada e deixa-me sair mais cedo para estudar para Genética ou para fazer ensaios. Empresta-me livros e nem «Be careful.» me diz. Trata-me por Ms. M. e até me vai levar amanhã numa field trip, uma coisa de elite (vou ser aquela-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado-não-por-medo-mas-porque-não-é-importante-o-suficiente-e-que-carrega-as-merdas? Vou, pois, mas o que interessa é que vou.).
Enfim, só não somos os melhores amigos por causa de uma tiny little thing que me dá cabo do juízo. Ele meteu na cabeça, porque meteu, que eu falo francês. Tem na convicção que, sendo portuguesa, tenho mais é que falar francês e, de caminho, espanhol e italiano também.
Ora, isto, parecendo que não, é um handicap na nossa relação. Eu, que gosto muito pouco de confusões, tenho um certo problema em explicar-lhe, sem o ofender, que não senhor, não domino tal língua.
O meu trabalho é tão somente processar amostras que ele recolheu algures nos últimos tempos. Isto engloba separar quilos de insectos mortos ou a estrebuchar e metê-los em frasquinhos com os nomes. Para isto, o Professor muniu-me de uma quantidade estúpida de chaves dicotómicas, ala que se faz tarde, desemerda-te e adeusinho. Eu já nem falo do facto de ele não se ter preocupado em perguntar «Alguma vez fizeste isto, minha filha?». Não, eu não falo disso até porque quão difícil pode ser ter um bicho à frente e seguir uma chave? Tudo na boa. O que é facto é que, no meio daquilo tudo, havia uma chave em francês. E digo eu «Oh Professor, obrigadinha, mas desta não preciso. Não percebo francês.» «What?» «Não falo francês...?» (muito perto de começar a correr para a casa-de-banho para ver se tinha alface nos dentes, tal era a expressão do homem) «How come?» (How come o quê, caralho? Não falo francês, o que é que há para perceber?) «Poooorque não...?» «But aren't you Portuguese(Aaaah ok, chegámos ao problema.) «Bem, sim, mas não percebo mesmo francês.» «But isn't it similar?» «Hmm... Suponho que sim, não é? Mas não é tudo o mesmo, sabe?» (cara de desconfança profunda e de não-queres-é-fazer-nada-minha-grandessíssima-preguiçosa) «Ok then, nevermind.» E eu percebi que a coisa não ia ficar por ali.
Noutro dia, chegou-se ao pé de mim de fininho com uma folha, a apontar para não sei onde e perguntou-me «What does this mean?», eu olhei assim pelo canto do olho e percebi que aquilo era francês. Aqui, põe-se uma pergunta: eu podia fazer um esforço para olhar para aquilo e dizer-lhe a ideia geral da coisa? Podia, mas a insistência do «claro que falas francês, deixa de te fazer de difícil» começou a fazer-me comichão e disse-lhe «French.» do alto da minha superioridade submissa. «Oh yeah, that's right.» Isto passou-se no início do semestre e eu achei que ele tinha percebido que não, daqui não ia ouvir nem um «croissant» nem um «marquise».
Hoje, estava eu e o Zam (o do PhD) a preparar as coisas para a saída de campo e entrou ele com uma rapariga que, se não tinha doze aninhos, aparentava. «Hey, how are you? This is a-não-sei-quantas-que-não-percebi, she's Belgian and is here with her mother for a colloquium. She doesn't speak English very well, so I thought about bringing her here a little.» e olhou para mim como quem diz toma-lá-que-já-te-fodi-agora-desemerda-te. Pus a minha cara de «A séeeerio, a sério? É para ir por aí?» e disse-lhe «I reeeaaally don't speak French. I can't understand her and she can't understand me.» «Are you sure?» «Yeah, I'm pretty sure. I can speak French the same way you can speak German.» rematei com um sorriso e um risinho a roçar o histérico. A cara dele fechou-se e carregou o semblante «Polish is nothing like German.» e só não me voltou as costas e bateu com a porta porque... não sei porquê.
Boaaaaaa, A.! Sempre a marcar pontos! Tanta língua para escolher para gozar um bocadinho com o teu Professor (aquele que, por sinal, te vai dar a nota final) e escolhes Alemão, minha estúpida? A língua daqueles gajos que ocuparam a Polónia há setenta anos e que dizimaram metade da população? Boa, muito bem. Não largues essa mania das ironias que não é preciso. Otária. «Oh... I was kidding... Sorry. I mean, not kidding about you and the Germans. I mean not kidding about the situation and... the stuff. Because it's not funny, you see.» digo, enquanto o volume de voz vai baixando consideravelmente e olho para os meus pés e me sinto como se tivesse sido apanhada a gozar com deficientes. «Yeah, sure.» e vai à vidinha dele.
Resumindo: vou chumbar a tudo aqui, mesmo ao que não é dado por ele porque ele vai mexer cordelinhos para eu sair deste país em miséria e debaixo de apedrejamento e axincalhamento público.
Lado bom da coisa: nunca mais toca no assunto do francês.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Great minds think alike

Nós não somos moças esquisitas, aliás, dentro do anormal, achamos piada a 71%. Logo por aí podem adivinhar que não somos de escolher amigos a dedo (às vezes espreitamos a conta bancária antes, mas isso é só porque somos gaiatas curiosas) e , de quando em vez, calham-nos pessoas estranhas. "Os Fofinhos" são como uma seita disfarçada, pequenas mentes do mal que, à primeira vista, parecem pessoas que podemos apresentar aos pais. Mas, na verdade, sofrem de algo como: ter ideias tão cheias de piadola e tão destinadas a mentes igualmente inteligentes que, perigosamente, roçam o estúpido. Então.. estava eu muito descansadinha no sono de beleza das quatro da tarde quando se me chega a outra (a minha sócia simplória aqui do blog). É verdade, ela às vezes atrasa-se no banho, dois, três dias, mas já nem é por aí, uma pessoa habitua-se. O problema é que ontem o cheiro a catinga era tal que me acordou. Já estava eu a começar (a medo, porque ela às vezes irrita-se) "Oh A., foooooda-se, achas nor...", "Recebeste uma encomenda!", "Ahn?", "Sim, quer dizer, recebemos, deles (Os Fofinhos)".
E lá abrimos aquilo sob um ambiente que, cada vez que inspirávamos, nos feria as narinas (tipo Edward quando sente o belo do cheirinho do sangue da Bella, percebem?). Mistério desvendado. Mais uma ideia genial. Eis que eles não resistiram e nos enviaram duas belas chouriças da Serra acompanhadas por um fofo (?) par de peúgas. Eu, sinceramente, acho que deviam ter mandado dois pares, assim com'ássim vamos ter que partilhar e isso é um bocadinho nojento (já para não falar que a outra calça o 45 na boa). Já a chouriça, não nos importa que tenha bolor, ahn?, a nossa varanda é que é capaz de não gostar muito do bom ar (nem as vizinhas, vá), mas descansem que com o moscatel que trouxemos ou com o vinho que comprarmos, elas vão.

Isto tudo para dizer.. muito obrigada, Fofinhos. Gostámos muito.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Quando...

... acordas às 9h30 para ir à secretaria pagar o próximo mês de estadia e ela está fechada, quando queres carregar o telemóvel mas o café do costume não está aberto, quando o senhor dos baegels não está no sítio de sempre, quando estás sozinha numa paragem de autocarro que, àquela hora, costuma ter mil pessoas, quando o autocarro não vem à hora certa mas daí a dez minutos, quando não há nem metade do trânsito que costuma haver, quando vês famílias inteiras no parque de manhã, quando chegas à Faculdade e a porta não abre... Quando tudo isto acontece, é hora de parares e te perguntares «Será que hoje é feriado?»

The one and only... Kati!

Nós temos tido muitas vizinhas. O quarto ao lado do nosso partilha connosco a entrada, o frigorífico (!!), a varanda e a casa-de-banho. Portanto, temos necessariamente que nos dar com elas (e são sempre umas «elas», ninguém nos faz o favor de aqui meter uns «eles»). A nossa relação com as vizinhas nunca passou da cordialidade e do «Bom dia» e «Boa noite». Tivemos uma italiana, uma californiana (que nos testou os limites da paciência) e agora uma polaca (que é enfezada que dói, benza-a deus). A única que se mantém desde que cá chegámos é a Kati. A Kati é húngara e hoje, por ontem, merece um post.
E então o que é que a Kati tem de especial que mereça tamanha honra? Por si só, uma pessoa que se chama Kati e não tem problemas em dizê-lo em voz alta, tem, desde logo, a nossa afeição. Por mais que queiramos levá-la a sério, é impossível assim que nos lembramos que o nome dela é Kati. Outra coisa que lhe é característica é a voz. Ela tem um timbre (?) de voz que não é para qualquer pessoa. É aguda. Mas não é aguda-tipo-Júlia-Pinheiro. É um novo tipo de agudo, um agudo que nós desconfiamos que só seja produzido na Hungria. É uma coisa que, quando passa ali dos trinta segundos, começa a doer.
Se não fosse por isto, podia ser por ela ter feito o favor de, no meio de não sei quantos Erasmus, dizer a toda a gente que nós passamos o dia a cantar. Alto. Alto demais. Ou que temos que limpar a casa-de-banho. Podia ser igualmente pelo facto ela ter cozinhado pieroggi e nos ter vindo dar uns quantos. Eram maus que eram, mas nós somos pessoas bem educadas portanto comemos e calámos. Noutro dia, veio cá alapar-se e sugou metade do nosso jantar (que era substancialmente melhor que o que ela nos tinha oferecido) e bazou-se. Outra: quando os portugueses cá vieram e fizemos a rave aqui no quarto, ela chegou por volta das 8h bêbeda que nem um cacho, sapatos na mão, desfraldada, despenteada, com maquilhagem até ao queixo e achou por bem vir para aqui socializar. Não se tinha em pé, mas ainda tentou levar um deles para o quarto com ela para lhe dar colinho. É uma pessoa que não teme, a Kati.
Noutra ocasião, chegámos nós a casa e estava ela nas escadas enrolada com um rapaz aqui da residência. Nós dissemos «What's up, Kati?» e ela acenou-nos por entre as pernas do miúdo e disse «Great, how are you?».
Contudo, a coisa mais WTF que ela fez foi pôr-se aqui na entrada, computador em riste, Skype ligado e toca de ter conversas vá... de cariz sexual com um rapaz que, segundo percebemos, era russo. Ora, ela sabe tão bem quanto nós que, se uma pessoa respirar na entrada, se ouve nos dois quartos que isto o isolamento é coisa desconhecida. E aqui estivemos nós meia hora enquanto ela dizia «OMG, you're so mean! I'm wearing jeans and a top. What about you?» e nós engolíamos risos e íamos à casa-de-banho várias vezes só para a ver encavacada.
É uma figura incontornável da nossa estadia aqui na Piast. Se tudo isto não serve para justificar o escrevermos um post sobre ela, a situação seguinte fá-lo-á. Não sei como é que nos surpreendemos quando tudo indicava o que aí vinha, uma vez que os acontecimentos tinham sucedido seguindo uma escala do inusitado. Hoje aconteceu o que nós sempre soubemos que aconteceria.
Esta noite, eram 4h30 e acordo com o que me pareceu alguém a ser sovado. Oiço um riso sufocado e pergunto «O que é isto?» (sussuro) «É a Kati... a vir-se. Ahhahahahhah!» «'Tás a gozar?» «Não 'tou nada! Ela acordou-me aos gritos e está nisto há dez minutos. É para aí a quinta vez!» «Opa eu não acredito...» «A sério, eu já te tinha chamado mas tu não acordaste. Cala-te e ouve.» Calámo-nos e ouvimos uns gemidos cavernosos, uma coisa que depressa passou a gritos. Entre uns «Oh my god!» e uns «Yes yes yes!», há um «MAINTAIN THE PRESSURE!» e foi aqui que nós nos atirámos para o chão a rir. A coisa durou e durou (ainda estamos para saber como), uma de nós encostou o ouvido à porta para tentar ouvir mais pérolas e, entretanto, alguém sai do quarto e entra na casa-de-banho. «Epa isto é que não! Que f"dam no quarto, na casa-de-banho era só o que faltava.» e quando decidimos qual de nós é que lá vai impor respeito e acabar com a brincadeira, a(s) pessoa(s) saiu(ram) e nós descansámos.
Agora, ansiamos o momento em que nos vamos cruzar com a Kati. Porque nós sabemos, ela sabe e nós sabemos que ela sabe que nós sabemos que nós ouvimos tudo o que havia para ouvir. E esperamos ardentemente que ela nos pergunte «Did you hear...?». É que a nossa resposta vai ser só uma «Yup, Kati. We did

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Hala Madrid!

Quando comprámos as viagens para voltar para Cracóvia, pusemos as cartas na mesa e, depois de muito analisar o caso e planear com afinco a coisa, decidimo-nos a fazer a escala da praxe em Madrid. (Mentira, a única coisa que pesou foi o ser mais barato ou não, mas, para fins literários, fica maibonito todo este palavreado.)
A única coisa que pudemos decidir foi a hora do voo e quantas horas iriam as princesas passar em terras madrilenas. Pensámos que, se é para ir, ao menos que tivéssemos tempo para dar uma olhadela na aldeia. Decidimos por bem chegar a Madrid às 16h, ir dar uma voltinha, voltar para o aeroporto e esperar calmamente pelas 6h30 enquanto dávamos um toque no soninho de beleza. (Ahah 'tá bem, 'tá.)
Começámos no aeroporto de Lisboa, contentes que só nós, a planear passar chez Cristiano Ronaldo, dar um olá à Irina, uma beijoca à D. Dolores, um cafuné no Ronaldo Jr. e cantar umas modinhas com a Ronalda. (Entretanto descobrimos que dizer «Ronaldo Ronaldo Ronaldo» muitas vezes é extremamente engraçado porque, ao fim da vez número cinquenta e três, já não sai «Ronaldo» e as pessoas estão a modos que enfadadas connosco.)
Claro que o voo, que era para sair às 14h35, saiu às 15h45 e nós chegámos a Madrid às cinco e picos da tarde. Recolher malas, não recolher, perceber o que quer dizer Touroperadores escrito numa placa (a que, no entretanto, chegámos à conclusão que só se pode tratar de uma praça de touros dentro do aeroporto) e explicar às pessoas que queríamos um locker para meter as malas... «Un qué?» «Um locker! Uma merda para meter as merdas lá dentro, espanhol do c&ralho!» «No te entiendo.» «Un... cacifo...?» «Qué?» «Vai-te p'rá tua mãe que não precisamos de ajuda para nada. Inprestable
Provámos mais uma vez ao mundo que somos auto-suficientes e que os espanhóis têm a pior pronúncia de inglês que deus algum dia deitou ao mundo e descobrimos a porcaria nos cacifos que, como é lógico, ficavam em direcção ao sol-postinho, longe do aeroporto, como se quer. Para futuras referências: «cacifos», em espanhol, é «consigna».
Resolvido o assunto, ala para o metro para ver se ainda temos contacto com a cidade. Dois euros mais tarde (DOIS! Um bilhete de metro a dois euros?!), chegámos à Plaza de España (que, como sabiamente uma de nós apontou, também fica na linha azul), mapa na mão e «Qué feito da Gran Vía? Gran Víiiiaaaa, onde é que tu estás? Come out, come out, wherever you aaaaare!». Estava quase ali, mas nós gostamos de procurar coisas que estão à frente dos nossos olhos.
Ora, Gran Vía. O nome quase que aponta nesse sentido: é uma rua... grande. Mas grande assim a atirar para o enorme. Uma coisa que tem pessoas a perder de vista a andar de um lado para o outro, lojas que nunca mais acabam e teatros. Nunca vimos tanto teatro por metro quadrado como naquela rua. São musicais e ballets e peças e óperas que nunca mais acabam.




A fome apertou e nós, sendo tugas, tivemos que escolher o restaurante com mais nível que ali se nos apareceu. Maneiras que acabámos no Paraíso del Jamón que, como a designação indica, é um restaurante slash tasca que tem presuntos pendurados no tecto. Empregados (giiiiiros) simpáticos , que nos tratam por chicas e que falam brasileiro aparte, jantámos benzinho entre «Deixa-lhe o teu número, escreve num guardanapo, qualquer coisa!» e «Cala-te masé que ele vem aí.».
Subimos a rua até nos doerem as pernas e explorámos o sítio à volta. Madrid é assim tipo Lisboa, mas cinco vezes maior. Tudo é maior: os edifícios, as ruas, as rotundas, suspeitamos inclusivamente que as pessoas são mais altas. Andámos à procura do Bairro Alto do sítio para ir beber um copo mas ele não apareceu. Assim, acabámos por ir para uma coisa que devia haver em Lisboa: uma loja/café da National Geographic. Uma coisa muito gira em que tudo está à venda: a mobília, os quadros, os tapetes, as almofadas. O interior parecia uma casa na árvore e os empregados eram (giiiiiros) fofinhos.
Voltámos para o aeroporto e deparámo-nos com um campo de refugiados. Imensas pessoas deitadas no chão, sobre as malas, ao computador ou a dormir à espera dos voos da madrugada. Havia quem tivesse um saco-cama ou até um colchão. Nós, princesas que somos, decidimos ir à procura de uns banquinhos que tínhamos na ideia que aquela gente tinha um gostinho especial por dormir no chão frio e que, por isso, é que não estavam em bancos. Acontece que não há bancos no aeroporto de Madrid. Nem bancos nem merda nenhuma. Aliás, há bancos na área das partidas. Ora, uma vez que só se pode aceder a essa área depois de ter feito o check-in e o security control e que estes só se fazem perto da hora do voo, montámos o estaminé no chão, encostadas a uma coluna com tomada para ver séries e esperámos cinco horas. Cinco horas que pareceram um dia. As senhoras da limpeza andavam para trás e para a frente com os carrinhos da limpeza, os peruanos ou mexicanos ou o raio c'os parta tiravam fotografia atrás de fotografia sempre intercaladas com muita gritaria, o homem do megafone dizia de cinco em cinco minutos para não deixarmos as malas sólas, para irmos vendo os ecrãs que os vuelos podiam ser alterados e para não fumarmos no aeropuerto. Portanto, dormir 'tá-quieto.
Finalmente chegaram as quatro e meia da manhã e nós fomos checkar-in para ver se, finalmente, podíamos sentar os traseiros em qualquer coisa almofadada. Havia três voos das seis da manhã e filas até à porta do aeroporto. Os checkadores começaram a despachar aquilo à velocidade da luz e eu tenho para mim que se quisesse ter ido no voo para Tenerife, tinha ido e ninguém se tinha apercebido. Tudo a correr para o security control e mais uma fila de meia hora. E nós já a ver o avião a ir-se embora sem nós. O controlo de segurança, neste aeroporto, pelo que nós vimos, é uma brincadeira. Agarras num tabuleiro, metes lá o que queres, enfias aquilo no raio-X, passas a maquineta. Apitaste? Caga nisso, para a frente é que é o caminho, não pára. Ora, nós sabíamos que não tínhamos nenhuma bomba nas malas, mas e os outros? Então demos por nós a mirar os outros passageiros com ar de poucos amigos a ver qual era mais propício a ter uma bomba ou uma faquinha nas meias. Se os seguranças não fazem o que lhes compete, estamos cá nós para salvar o dia.
Mais uma corrida para a porta de embarque e... fomos das últimas. Como sempre. Escusado será dizer que íamos em piloto automático, parecia que flutuávamos com o sono que tínhamos em cima. Entrámos, sentámos e em dois segundos estávamos ferradas. Não sem antes ouvir um hospedeiro dizer para a hospedeira «It's your first day? I'm also starting today!»... Quem é que vê qualquer coisa de errado em haver três hospedeiros num voo e dois deles estarem a começar no próprio dia? Pois, em condições normais, nós também veríamos, mas tínhamos taaaanto sono que cagámos no assunto. Até porque sabíamos que se o avião caísse, não íamos sentir. Morríamos a dormir.