quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Hala Madrid!

Quando comprámos as viagens para voltar para Cracóvia, pusemos as cartas na mesa e, depois de muito analisar o caso e planear com afinco a coisa, decidimo-nos a fazer a escala da praxe em Madrid. (Mentira, a única coisa que pesou foi o ser mais barato ou não, mas, para fins literários, fica maibonito todo este palavreado.)
A única coisa que pudemos decidir foi a hora do voo e quantas horas iriam as princesas passar em terras madrilenas. Pensámos que, se é para ir, ao menos que tivéssemos tempo para dar uma olhadela na aldeia. Decidimos por bem chegar a Madrid às 16h, ir dar uma voltinha, voltar para o aeroporto e esperar calmamente pelas 6h30 enquanto dávamos um toque no soninho de beleza. (Ahah 'tá bem, 'tá.)
Começámos no aeroporto de Lisboa, contentes que só nós, a planear passar chez Cristiano Ronaldo, dar um olá à Irina, uma beijoca à D. Dolores, um cafuné no Ronaldo Jr. e cantar umas modinhas com a Ronalda. (Entretanto descobrimos que dizer «Ronaldo Ronaldo Ronaldo» muitas vezes é extremamente engraçado porque, ao fim da vez número cinquenta e três, já não sai «Ronaldo» e as pessoas estão a modos que enfadadas connosco.)
Claro que o voo, que era para sair às 14h35, saiu às 15h45 e nós chegámos a Madrid às cinco e picos da tarde. Recolher malas, não recolher, perceber o que quer dizer Touroperadores escrito numa placa (a que, no entretanto, chegámos à conclusão que só se pode tratar de uma praça de touros dentro do aeroporto) e explicar às pessoas que queríamos um locker para meter as malas... «Un qué?» «Um locker! Uma merda para meter as merdas lá dentro, espanhol do c&ralho!» «No te entiendo.» «Un... cacifo...?» «Qué?» «Vai-te p'rá tua mãe que não precisamos de ajuda para nada. Inprestable
Provámos mais uma vez ao mundo que somos auto-suficientes e que os espanhóis têm a pior pronúncia de inglês que deus algum dia deitou ao mundo e descobrimos a porcaria nos cacifos que, como é lógico, ficavam em direcção ao sol-postinho, longe do aeroporto, como se quer. Para futuras referências: «cacifos», em espanhol, é «consigna».
Resolvido o assunto, ala para o metro para ver se ainda temos contacto com a cidade. Dois euros mais tarde (DOIS! Um bilhete de metro a dois euros?!), chegámos à Plaza de España (que, como sabiamente uma de nós apontou, também fica na linha azul), mapa na mão e «Qué feito da Gran Vía? Gran Víiiiaaaa, onde é que tu estás? Come out, come out, wherever you aaaaare!». Estava quase ali, mas nós gostamos de procurar coisas que estão à frente dos nossos olhos.
Ora, Gran Vía. O nome quase que aponta nesse sentido: é uma rua... grande. Mas grande assim a atirar para o enorme. Uma coisa que tem pessoas a perder de vista a andar de um lado para o outro, lojas que nunca mais acabam e teatros. Nunca vimos tanto teatro por metro quadrado como naquela rua. São musicais e ballets e peças e óperas que nunca mais acabam.




A fome apertou e nós, sendo tugas, tivemos que escolher o restaurante com mais nível que ali se nos apareceu. Maneiras que acabámos no Paraíso del Jamón que, como a designação indica, é um restaurante slash tasca que tem presuntos pendurados no tecto. Empregados (giiiiiros) simpáticos , que nos tratam por chicas e que falam brasileiro aparte, jantámos benzinho entre «Deixa-lhe o teu número, escreve num guardanapo, qualquer coisa!» e «Cala-te masé que ele vem aí.».
Subimos a rua até nos doerem as pernas e explorámos o sítio à volta. Madrid é assim tipo Lisboa, mas cinco vezes maior. Tudo é maior: os edifícios, as ruas, as rotundas, suspeitamos inclusivamente que as pessoas são mais altas. Andámos à procura do Bairro Alto do sítio para ir beber um copo mas ele não apareceu. Assim, acabámos por ir para uma coisa que devia haver em Lisboa: uma loja/café da National Geographic. Uma coisa muito gira em que tudo está à venda: a mobília, os quadros, os tapetes, as almofadas. O interior parecia uma casa na árvore e os empregados eram (giiiiiros) fofinhos.
Voltámos para o aeroporto e deparámo-nos com um campo de refugiados. Imensas pessoas deitadas no chão, sobre as malas, ao computador ou a dormir à espera dos voos da madrugada. Havia quem tivesse um saco-cama ou até um colchão. Nós, princesas que somos, decidimos ir à procura de uns banquinhos que tínhamos na ideia que aquela gente tinha um gostinho especial por dormir no chão frio e que, por isso, é que não estavam em bancos. Acontece que não há bancos no aeroporto de Madrid. Nem bancos nem merda nenhuma. Aliás, há bancos na área das partidas. Ora, uma vez que só se pode aceder a essa área depois de ter feito o check-in e o security control e que estes só se fazem perto da hora do voo, montámos o estaminé no chão, encostadas a uma coluna com tomada para ver séries e esperámos cinco horas. Cinco horas que pareceram um dia. As senhoras da limpeza andavam para trás e para a frente com os carrinhos da limpeza, os peruanos ou mexicanos ou o raio c'os parta tiravam fotografia atrás de fotografia sempre intercaladas com muita gritaria, o homem do megafone dizia de cinco em cinco minutos para não deixarmos as malas sólas, para irmos vendo os ecrãs que os vuelos podiam ser alterados e para não fumarmos no aeropuerto. Portanto, dormir 'tá-quieto.
Finalmente chegaram as quatro e meia da manhã e nós fomos checkar-in para ver se, finalmente, podíamos sentar os traseiros em qualquer coisa almofadada. Havia três voos das seis da manhã e filas até à porta do aeroporto. Os checkadores começaram a despachar aquilo à velocidade da luz e eu tenho para mim que se quisesse ter ido no voo para Tenerife, tinha ido e ninguém se tinha apercebido. Tudo a correr para o security control e mais uma fila de meia hora. E nós já a ver o avião a ir-se embora sem nós. O controlo de segurança, neste aeroporto, pelo que nós vimos, é uma brincadeira. Agarras num tabuleiro, metes lá o que queres, enfias aquilo no raio-X, passas a maquineta. Apitaste? Caga nisso, para a frente é que é o caminho, não pára. Ora, nós sabíamos que não tínhamos nenhuma bomba nas malas, mas e os outros? Então demos por nós a mirar os outros passageiros com ar de poucos amigos a ver qual era mais propício a ter uma bomba ou uma faquinha nas meias. Se os seguranças não fazem o que lhes compete, estamos cá nós para salvar o dia.
Mais uma corrida para a porta de embarque e... fomos das últimas. Como sempre. Escusado será dizer que íamos em piloto automático, parecia que flutuávamos com o sono que tínhamos em cima. Entrámos, sentámos e em dois segundos estávamos ferradas. Não sem antes ouvir um hospedeiro dizer para a hospedeira «It's your first day? I'm also starting today!»... Quem é que vê qualquer coisa de errado em haver três hospedeiros num voo e dois deles estarem a começar no próprio dia? Pois, em condições normais, nós também veríamos, mas tínhamos taaaanto sono que cagámos no assunto. Até porque sabíamos que se o avião caísse, não íamos sentir. Morríamos a dormir.

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