segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Polaco e o Desvio

Que os polacos não são as coisas mais fofinhas e hospitaleiras que existem à face da Terra, já nós tínhamos percebido (salvo algumas excepções, verdade seja dita). Eles são assim meio «Chega p'ra lá, bicho-ruim-não-falador-de-polaco-e-que-portanto-deve-ser-enviado-para-Marte» mas nós desculpamos porque o clima aqui deixa uma pessoa assim... indisposta.
O que é necessário partilhar acerca dos polacos (e isto devia ser considerado serviço público) é que esta gente não se desvia. «Como assim, ilustres Trippers?» Nós explicamos: imaginem um passeio de coisa de um metro de largura. Vocês vão numa direcção e O Polaco vem na oposta. Num país normal, com pessoa normais (uma coisa assim como Portugal), cada um de vocês cede um bocadinho, desviando-se (coisa pouca!) e assim cada um segue o seu caminho feliz e contente, sem prejuízos de maior. Mas aqui não. Aqui, é a lei do mais forte que impera. O que for mais forte segue caminho, o outro badameco fica no chão a estrebuchar com a força do impacto. Nós, não-habituadas a estas regras, começámos por nos desviar da frente de toda a gente, metíamo-nos nas valetas, saltávamos para o meio da estrada, entrávamos num prédio, qualquer coisa para não ter um confronto físico desta envergadura.
Ora, tudo o que é demais enjoa, pois não é verdade? Decidi, há pouco tempo, que, na Polónia, há que ser polaco e vai daí comecei a não me desviar mais coisa nenhuma, que-vocês-não-são-mais-que-eu-e-raios-me-partam-se-não-hei-de-fazer-alguém-desviar-se-da-minha-frente. Pronto, aprendi que se eu continuar o meu caminho e não me desviar nem um bocadinho da minha rota, eventualmente O Polaco há-de ceder. E a coisa tem corrido bem.
O que eu devia saber é que o Karma não brinca e o Universo não dorme. Temos então que o Universo pensou mais ou menos isto «Queres andar a brincar aos carrinhos de choque, não queres?».
Hoje, ao vir para casa, num segundo vinha absorta nos meus pensamentos e, no a seguir, fui completamente abalroada pel'O Polaco. Caiu-me a mala. Eu podia tê-la fechada? Podia, mas assim o Karma não ficava com o sentimento de mission accomplished, portanto, ela ia aberta e fez questão de espalhar todo o seu bonito conteúdo na neve. E as pessoas a passar. Enquanto eu via estrelas e guinchava «Ai o meu ombro, tenho um ombro deslocado. Nunca mais sou ninguém, vou ficar sem o braço.», o anormal d'O Polaco, entre Pechépréchames (já falámos aqui disto?) e outros que tal, estava a agarrar as minhas coisas (tudo isto enquanto as pessoas passavam) com neve e com tudo e a juntá-las. «Ooooh pshtóoóó parou! Tira daí os presuntos que eu apanho tudo, não preciso de ajuda. Vai lá à tua vidinha, assassino.» E pronto, ele lá foi e eu segui o meu caminho, visivelmente transtornada mas com uma lição aprendida: na Polónia, podes ser polaco... Mas depois o Universo fode-te.

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