quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Pechépracháme

Em Cracóvia, há uma coisa que é comum a todas as pessoas. Comum a todos os estratos sociais, todas as idades, todos os credos, todos os géneros. Essa coisa é o Pechépracháme e tem identidade própria, é um vulto que contribui para o misticismo cá do lugarejo. É um ex-libris desta cidade e é o equivalente à nossa «caça aos gambuzinos». A verdade é que toda a gente sabe o que é, sabe em que contexto aplicar, mas explicar o que é, tá-quieto.
Pechépracháme é uma palavra que os cracovacos (e, por associação de ideias, o resto dos polacos) usam para... tudo. Quer dizer «bom dia», mas também quer dizer «boa noite». Quer dizer «Aguenta aí os cavalos que já te atendo.» e quer dizer igualmente «Diga, por favor». Significa «com certeza» e também significa «desculpe». Ao mesmo tempo que é «Deixa-me passar para ver se consigo sair deste autocarro.», é «Então, vizinha, há tanto tempo que não a via. Essa vidinha? E o marido? Óptimo, então vá, até uma próxima.»
Nós acreditamos convictamente que tudo depende da entoação que se confere ao Pechépracháme. E já estamos a começar a entrar no espírito da coisa. Já percebemos que se o dissermos num tom seco e rápido, as pessoas se desviam da nossa frente. Se, contudo, o proferirmos num tom assim mais cantado, mais suavezinho, as pessoas respondem com outro Pechépracháme que, por sua vez, tem outra entoação e que já deverá querer dizer outra coisa qualquer. A verdade é que ouvimos um Pechépracháme em toda e qualquer situação. Alvitrámos inclusivamente a hipótese de esta língua ser constituída unicamente por este vocábulo com entoações diferentes.
Apesar de tudo, não esquecer que isto é assistido e comentado por portuguesas em terras estrangeiras que é coisa que, não raras vezes, se assemelha à primeira ida dos cavadores de plantações de batatas à capital.

Como gostamos de ser pessoas informadas, perguntámos a quem de direito que raio quer isto dizer e ficámos a saber que significa tão só e literalmente... «com licença». Hmm... Está certo, então.
Isto, porém, levanta outra questão: POR QUE É QUE AQUI TODA A GENTE COMEÇA UMA CONVERSA COM «COM LICENÇA»?!

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