quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Composição: «Os autocarros de Cracóvia»

Os autocarros de Cracóvia são muito diferentes dos autocarros do nosso país. O nosso país não é grande espingarda, mas, no nosso país, se há coisa que é boa, são os autocarros.
Os autocarros de Cracóvia são azuis e brancos e chamam-se MPK*. No nosso país são amarelos e chamam-se Carris.
Os autocarros de Cracóvia têm escrito por todo o lado Bus of the Year 1999 e isto, parecendo que não, dá confiança ao viajante. Que sim senhor, autocarro que foi Autocarro do Ano de 1999 é autocarro que inspira uma pessoa a sentir-se segura. Só um autocarro muito bom e muito acima da Média Europeia dos Autocarros é que pode ter a honra de ostentar um selo com tal dizer.
Os autocarros da Cracóvia são isso mesmo: os autocarros do ano de 1999. Foram autocarros até à meia-noite de dia 31 de Dezembro de 1999. A partir daí, deixaram de ser autocarros e começaram a ser carroças.
Os autocarros de Cracóvia não têm grandes travões, o que faz com que só parem quando batem no passeio.
Os autocarros de Cracóvia tremem e gemem muito quando estão parados no semáforo. Por esta razão, os autocarros de Cracóvia deixam-nos tontas.
Os autocarros de Cracóvia fazem despiques uns com os outros.
Os autocarros de Cracóvia têm revisores undercover.
Os autocarros de Cracóvia só são conduzidos por condutores altamente habilitados a coisa nenhuma. Os condutores dos autocarros de Cracóvia deviam ter uma ordem de restrição em relação a tudo o que tem rodas. Incluindo patins em linha.
O autocarro de Cracóvia onde viemos hoje para casa não nos trouxe a casa, deixou-nos a meio caminho. Foi abaixo trinta e quatro vezes até que deixou de pegar. Nós rimo-nos muito quando o condutor desistiu e abriu as portas para as pessoas saírem para o meio da estrada. Não nos rimos tanto quando tivemos que estar à espera de outro à temperatura de zero graus.
Os autocarros de Cracóvia são melhores, sabemos nós, que os autocarros da Índia ou de Moçambique. Nós sabemos. Mas na Índia ou em Moçambique, cada autocarro transporta dez pessoas, duas bicicletas, quatro cabras e dezoito galinhas. Nós não estamos nem na Índia nem em Moçambique, por isso, não vemos razão para os autocarros de Cracóvia serem a merda que são.
* Tomámos a liberdade de descortinar o que a sigla significa e temos quase, quase a certeza que é mais ou menos isto: Maior P&ta de merda K existe neste país.

Como é que dez portugueses dão na boca a trinta espanhóis?

Indo ver um Portugal-Espanha.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Serve o presente comunicado para comun... informar que ESTÁ A NEVAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAR!



(Está a nervar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, está a nevar, nevar, nevar, nevar, nevar, nevar, nevar, nevar sha lalala nevar, nevar.)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Karma: e se, em vez de pu... profissionais do prazer, atraíssemos dois polacos ricos? Hm? Que dizes?

Está a tornar-se repetitivo, sabem... Saimos e já sabemos que vamos acabar a noite com mais um connect do showbiz. Parece que as atraímos. Estamos nós 'ssogaditas no nosso canto com um amigo lá dos Perus (que, a seu tempo, há-de ver aqui dedicado um post) e eis que elas aparecem. Mini-saia collegial style, botas com uns saltos vertiginosos e muito brilhantes, camisas que lhes tapam portanto... as partes (não se pode exigir mais, não é verdade?) e gravatas. «Bonito...» pensamos nós «Vêm fazer-nos uma lap dance, é, amigas? Podem dar meia volta e ir pregar para outra freguesia quem nem dinheiro para azeite do bom nós temos, quanto mais para badalhoquices. Vá, andor.»
«Can we have a seat?» Podem, pois.
«You're not Polish, are you?» Diz que não, diz que não...
Só uma é que mete conversa, a outra está ocupada a explorar a garganta d'um moço. Diz ela que também não é polaca, é letã. Ah ok, és Erasmus, então? «What's that?» Hmmm... Está bem, deixa estar. Então e estás cá porquê? («Não respondas, não respondas, não respondas, aguenta o riso, mantém um ar sério, mantém um ar sério que ela pode ter aí um pimp, fica tudo perdido e somos corridos ao estalo.") «Working.» A séeerio? A fazer o quê? («Vá lá, vá lá, inventa, não digas que és p&ta. Aaai esta curiosidade mórbida...») «I'm a stripper.» Hm hm... Uma profissão como outra qualquer, diz um de nós enquanto outro deixa escapar um «Of course you are...» Então e não gostavas de... hm... trabalhar no teu país? «Oh I'm going back next year to study. Medicine.» («AAAAHAHAHAHAAAH») Sim, Medicina deve ser giro hm hm... Cochichamos entre nós «Temos que comecar a apostar, eu sabia que ela era p&ta.» «Pronto, estamos no grupo das p&tas. Se estamos no grupo das p&tas, somos p&tas; é o que as pessoas vão pensar.» «You make a beautiful couple.» Haaan? Como? «You make a pretty couple.» «Who does....?» «The three of you.» Entre risos nervosos e pálpebras a tremelicar lá lhe explicamos que ninguém ali é um casal. Nem aos pares nem aos trios. Tudo amigos do peito sem benefícios.
Arranjamos a forma mais rápida de sair dali enquanto ela sobe para o balcão e comeca a dançar. É, contudo, de atentar que aquela era a night-off dela.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Os Dementores invadiram Cracóvia!!!

Ou então é só a nova lei do tabaco a fazer efeito por aqui. É que saiu ontem e hoje está um nevoeiro cerrado... Os polacos passaram a madrugada a fumar na rua, só pode.
Porque isto de estarem habituados a ter macinhos de Marlboro a 2,5€ é muito bonito e faz muito bem à saúde mas eu já estava a começar a achar estranho poder fumar naquele botequim no piso -2.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

(Finalmente) Tratadas como convém

Nós sabíamos e vocês sabiam. Todos sabíamos que era uma questão de tempo até as princesses serem notadas e começarem a fazer parte de eventos da alta-sociedade. Não, não estamos a falar de Lilis Caneças e Cinhas Jardins. Estamos a falar de Sô Cônsul. Pois que Sô Cônsul Português na Polónia nos convidou para um exclusivo jantar no Consulado em Varsóvia. Não é para todos, é só para todo e qualquer Eramus português em território polaco.
Consta que dia 26 deste mês, Sô Cônsul se dispõe a fazer um pouco de companhia aos estudantes que decidiram fazer vida neste bonito país.
Ora, conhecendo-nos, é fácil perceber que vamos deixar de comer na Terça-feira anterior para ir encher o bucho à pala.
Fica desde já avisado, Sô Cônsul, que é mandatório que haja bacalhau. E um cozidinho. E umas quantas Super Bock. Tremoços também fazem parte da lista, assim como um bagaçozinho no fim para digerir, lá está. Vinho do Porto. Baba de camelo e alheiras (se não souber confeccionar esta especialidade, diga que fazemos aí chegar-lhe a receita do SuperMário). Tudo o que Sô Cônsul se lembrar, poderá constar. Não se acanhe. Uns canapezinhos serão bem-vindos. Umas azeitoninhas, poucas. Pão com manteiga. Champanhe (e não espumante, estamos entendidos?). Se houver uma sericaia, ficamos amigos do peito.
Sô cônsul, esperto que só ele, não mandou o convite para todos os portugueses aqui em Cracóvia. Mandou para um, esperando que fossem dois ou três e estava a festa feita com baixo orçamento. O que Sô Cônsul devia saber é que, havendo comida à pato, vai aparecer tudo quanto é tuga; que isto notícia que interessa corre depressa. Com sorte, ainda aparecem uns quantos que cá fizeram em Erasmus em 1985.
Estamos em vias de comprar tupperwares para trazer os restos e deixar de comprar comida durante pelo menos uma semana.
Vamos levar a máquina fotográfica e tirar fotografias com todos os empregados do Consulado. E às casas de banho.
Portanto, dia 26 ao finzinho da tarde, há-de haver um comboio repleto de portugueses rumo à Terra Prometida.
Adenda: é importante, contudo, avisar Sô Cônsul para que não se ponha com ideias de introduzir a gentalha à Polish Cuisine. Deixe-se de merdas que fartas de pierogi e salsichas com couve andamos nós, hm?

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Todos os dias, por volta das 8h30 da manhã, quem está para os lados da Piast vislumbra um zombie. Fronha de quem acordou, fez o xixizinho, vestiu, lavou os dentes e apanhou o autocarro, tudo em 5 minutos. Escusado será dizer que o autocarro pode bater que nem me sinto (e isto é mais provavel de acontecer do que pode parecer à partida).
Hoje, na volta para casa, 11h30 mais coisa menos coisa, autocarro à pinha, sentei-me, não, assentei uma das nalgas num pequenino espaço de um banco que era para uma pessoa e meia (e sim, já lá estava uma pessoa). O marido da dita senhora que ocupava o lugar resmungou e dirigiu-lhe um gesto de como quem diz "Oh mulher d'um raio, encolhe esse rabo, não sejas gorda, deixa a moça sentar-se", ao que ela rapidamente assentiu. That's ok, no need, respondi-lhe com um fiozinho de esperança que ela percebesse o básico do inglês. A senhora sorriu e voltou-se para a janela, isto só durou 10 segundos, depois virou-se novamente para mim e falou "khjvbkwnwkbwski sbsaidcaswmsnacki aj wkbsdkvk kdsvwna!" (eu acho que foi uma exclamação) e desmanchou-se a rir. Eu, que mal ela abriu a boca mergulhei num dilema interior (ou lhe respondia em inglês e tentava explicar-lhe que não falo polaco ou...) AHAHAH, respondi.
A verdade é que, passados 5 segundos, me começou a cheirar a mijo.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Mas faço-me entender óquê?!

Quando o vocabulário em inglês falta, damos graças aos Céus por termos o espírito do desenrascanço. Senão vejamos:
"Olhe é uma water with bubbles, por favor." (Uma quê?, perguntam vocês. Uma água com gás, pois com certeza.)
"Ah isto é um count-bug." (Um bicho-da-conta para os que, ao contrário de mim, não são poliglotas.)
"Sei. É uma libelinha." "Hm?" "Opa uma laibelainha bzz bzz."

Fáááácil.

Old habits die hard (or don't die at all)

Diz que, na Polónia, tens que carregar o passe de mês a mês.
Também diz que, na Polónia, se não o carregares, aumentas o património da Carris-cá-do-sítio em 72 zl.

(Nem multas sabem passar. Ao menos em Portugal é coisa para ser de 100 euros para cima. Não é cá merdas de 17 euros e pouco. Fracos.)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Maiscásmães

Nós sabíamos. Nós sabíamos que os portugueses são maiscásmães e que tudo o que é pedaço de terra tem uns três ou quatro que se ajuntam nem que seja a enfardar Cozido e a beber tintol. Nada de novo. Chegámos cá e conhecemos logo três de enfiada, simpáticos que só eles. Apercebemo-nos que eram lá da terra devido a um «C&raaaal%o» bem mandado no meio da discoteca. «Ok, óptimo, estamos em casa.» pensámos nós.
Depois, mais outra (pois não é, S.?), outra e ainda mais outros três.
Mas o que interessa para este post é o hábito que desenvolvemos. Acontece que, assim que cá metemos os pezinhos, ganhámos uma mania que é qualquer coisa de libertadora: falar mal de tudo e mais alguma coisa quando vamos às compras, quando estamos no autocarro, na rua, no café e por aí adiante. Não há muitas coisas melhores do que ir sentada ao lado de uma rapariga e dizer «Atenta nesta gaja. Tem um olho a apontar para a China e outro para o Brasil.» «Qual gaja?» «Esta aqui ao pé de mim, não vês? E a saia?». E quem diz isto, diz outra coisa qualquer, coisas bastante piores. Coisas que, se alguém percebesse, fazia com que saíssemos daqui mestres em escapar a linchamento público.
Também sabíamos que um dia íamos apanhar alguém na rua que percebesse o que nós gritamos para toda a gente ouvir. E eis que o dia chegou. Estamos nós muito bem na fila para comer uns quantos zapiekanki a falar sobre... a falar sobre... axes. Esta é uma temática que ocupa a maior parte dos nossos diálogos (e quem diz axes, diz antufinhos), falamos disto como quem fala do tempo, estejamos no recato do nosso lar ou numa aula. Somos princesas mas somos pessoas e desengane-se quem acha que as raparigas não mandam axes e muito menos falam sobre isso. Falam, sim senhor, e com uma classe que deixaria qualquer taxista de Lisboa envergonhado. Pois bem, estamos na fila e, quando o nível da conversa não pode descer mais (i.é, quando vai num «Ouve, mas que desarranjo que pr'aqui foi. Vi jeito de ir parar ao hospital desidratada.»), ouvimos um «Vocês são mesmo portuguesas?». Uma de nós engasgou-se e a outra ficou azul. Ao mesmo tempo que pensamos «F"#a-se, já fomos. 'Bora fingir que somos outra coisa qualquer e começar a correr.», dizemos «Sim, porquê? O que é que ouviste? Desculpa desculpa, nós não costumamos ser assim tão mal-educadas. Deixámo-nos levar. Nós geralmente só falamos de flores e maquilhagem e coisas bonitas tipo salvar o mundo e o c$r$lho. A sério, nem toda a gente é assim em Portugal.». O rapaz faz de conta que não percebeu nada até ali e começa então a explicar que é polaco, que estudou Português cá (sim, há efectivamente pessoas polacas que escolhem como carreira ser especialista em Estudos Portugueses) e que agora até dá aulas de Português, que esteve de Erasmus em Lisboa e gosta muito do sítio. «Ok, então não ouviste nada, pois não?» Que não, que nem percebia o que estávamos a dizer (consta que falamos muito rápido. Calúnias.). Nós começamos então a respirar a um ritmo mais normal, recuperamos a cor e ficamos a saber que há uma catrefada de polacos que estudam Português. Inchamos de orgulho e só nos falta começar a cantar o Hino agarradas a uma bandeira, a soluçar. Conversinha para aqui, conversinha para ali, trocamos os números (que isto dá sempre jeito conhecer nativos que falam a nossa língua) e adeus, até qualquer dia.
Julgam, contudo, que isto nos fez parar de falar de todo o assunto que nos vem à cabeça independentemente do lugar onde estamos? Ahah ganhem tento nessas cabeças, crianças de deus...
Passados uns dias, vamos a um Tandem (e o que é um Tandem? Não sabemos. Mas gostamos da palavra e da sonoridade. E já percebemos que a única coisa comum a todos os Tandems a que já comparecemos é a cerveja barata. Portanto, seja o Tandem o que for, nós estamos lá.) e conhecemos mais dois polacos que falam português. Como se vê, é coisa recorrente por aqui. O que não sabíamos é que todos eles falam português quase melhor que nós mesminhas. E começam a falar da língua da perspectiva deles. Sabem mais que nós, os exibicionistas. Tomámos conhecimento de factos tais como o de a nossa língua ter nada mais nada menos que dezasseis tempos verbais. Nós? Nós sabemos os nomes a quatro e e... Ficámos também a saber que é impossível para um polaco dizer «lh». Impossível. Pronto, tivemos diversão para o resto da noite, perdão, para o resto do Tandem. «Olha olha, diz lá alho.» «Áio.» «Aaaaahahahah não, não. A-lho.» «Alio.» «Aaahahahah opá que otário. A-lhe-o, diz.» «Ário.» «AHAHAH!» E foi isto que fizemos durante o que restou do Tandem.
Diz que são pessoas bem-dispostas, estes polacos d'um raio.