segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Delito 101 ou Karma is a bitch

Cenário: três e meia da manhã, a estudar Genética, à beira de uma síncope e com vontade enfiar a cabeça no forno com cinco ou seis Xanax no bucho.
F. «Tenho fome.»
A. «Também eu. Mas não temos nada para comer...»
F. «A Kati mudou-se lá para cima e a polaca não está cá...»
A. «Nem penses, a comida do frigorífico não é nossa.»
F. «Está bem.»
A. «Se bem que... Vamos embora daqui a dois dias, a Kati bazou e a polaca deve estar de férias. Deve voltar só no fim da semana. Portanto, tudo o que ali está vai estragar-se. Até que ponto não estávamos nós a prestar um serviço ao evitar que a comida se estrague?»
F. «É isso que eu acho. Até porque depois repômos. Amanhã repômos.»
A. «Repômos? Quando ela voltar já nós nos fomos embora...»
F. «Só comemos a comida dela se repusermos!»
A. «Está bem, whatever
E corremos para o frigorífico. Uma caixinha de bifes e outra de ovos. Há que dizer que a polaca nos mete um bocadinho de medo. Não é só pelo metro e oitenta e tal de pessoa que ela é, mas também porque ela é a modos que paranóica e nós temos sempre medo que lhe dê um surto psicótico e ela entre por aqui de faca em riste e nos estripe. Portanto, comer-lhe a comida deixou-nos um tudo ou nada apreensivas. Mas entre apreensão e fome, ganhou a segunda. Há igualmente que dizer que ela é o tipo de pessoa que escreve o nome dela na caixinha dos bifes como que a dizer hei-vocês-ladras-do-caralho-xô-desinfectem-que-isto-não-vos-pertence-unhas-fora-daqui-estão-a-ver-o-meu-nome?
F. «A.? A partir de hoje somos ladras?»
A. «Não, roubar comida não é crime.»
F. «Hm... Está bem.»
A. «Achas que ela é o tipo de pessoa que nos mata por termos invadido o espaço dela?»
F. «Ela não vai saber. Além disso, não se recusa comida a ninguém. Se nós lhe dissermos que estávamos com imensa fome, ela vai ter coragem de se chatear?»
A. «Pois, se fosse ao contrário, eu dava-lhe a comida.»
F. «Eu não...»
A. «Eu também não, mas ela não tem que saber disso. Amanhã vamos ao super-mercado, guardamos a caixa dos ovos e pomos lá novos. Ela nem vai saber.»
O plano infalível, certo? Pois, nós também achámos.
Ocorre que hoje ao voltarmos da rua, com os bifes e os ovos, diga-se, o frigorífico já cá não estava. A polaca também se mudou. Parece que toda a gente deste andar tem que se mudar dentro em breve porque vai haver remodelações. O nosso sentido de honra mostrou-se inabalável e toca de ligar à Kati a perguntar em que quarto é que está a polaca para ir lá dar a cara (e, de caminho, os bifes e os ovos). Mas claro que a Kati não sabia, «algures no sétimo andar».
Agora, das duas uma: ou vamos bater todas as portas do sétimo andar à procura dela ou vamos à recepção pedir pelo amor de deus que nos digam em que quarto está a rapariga, deixar as coisas à porta e desatar a correr. De qualquer forma, nenhuma das opções é muito digna. Mas nós tínhamos fome...

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